João do Pulo, herói do atletismo: 70 anos do nascimento e 25 da morte

João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, herói do atletismo brasileiro, nasceu em 28 de maio de 1954, há 70 anos, na cidade de Pindamonhangaba, São Paulo, destinado à glória no esporte. Ganhou duas medalhas olímpicas no salto triplo, de bronze, nos Jogos de Montreal-1976, Canadá, e Moscou-1980, então União Soviética.

Em Montreal ainda foi o porta-bandeira do Brasil na cerimônia de abertura. Entrou na pista como o recordista mundial do triplo, com 17,89 m, marca obtida no Pan-Americano da Cidade do México-1975. O bronze foi conquistado com a marca de 16,90 m, um dia após ter sido quarto colocado no salto em distância, com 8,00 m.

A medalha de Moscou é mais lembrada porque é uma conquista envolta em grande polêmica e questionamentos num mundo sob o impacto da 'Guerra Fria' (conflito político travado entre Estados Unidos e União Soviética). Durante a prova foram anulados três dos seis saltos do brasileiro, um dos quais de mais de 18,00 m, que lhe daria o recorde mundial e a medalha de ouro. Ainda hoje especialistas discutem se a organização e/ou arbitragem teve atuação em favor dos atletas locais.

O ouro ficou com o soviético Jaak Udmae, da Letônia, com 17,35 m. Um dos melhores triplistas do século 20, Viktor Saneyev, da Geórgia, ficou com a prata, com 17,24 m ? dois centímetros a mais do que a marca registrada oficialmente para o paulista de Pindamonhangaba.

O recorde mundial de 17,89 m foi estabelecido por João Carlos de Oliveira aos 21 anos, na Cidade do México, no dia 15 de outubro de 1975, na segunda tentativa. Ganhou o apelido de João do Pulo e o mundo conheceu um novo astro do atletismo. Era o sexto recorde mundial da prova conseguido na capital mexicana, o terceiro estabelecido por um triplista brasileiro. Antes de João, Adhemar Ferreira da Silva saltou 16,56 m em 1955, na segunda edição do Pan, e Nelson Prudêncio 17,27 m em 1968, nos Jogos Olímpicos.

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João do Pulo manteve-se como recordista mundial até junho de 1985, até o norte-americano Willie Banks saltar 17,97 m, em Indianápolis (EUA). O recorde sul-americano durou até 2007, quando Jadel Gregório saltou 17,90 m, em Belém (PA).

João do Pulo foi ótimo também no salto em distância e nos 100 m. No salto em distância, além de finalista olímpico nos Jogos de Montreal-1976 foi recordista sul-americano com 8,36 m, em Rieti, na Itália, em 1979. Em 1981, conquistou o tricampeonato do salto triplo na Copa do Mundo de Atletismo, em Roma, na Itália, com 17,37 m. Antes havia sido campeão em Dusseldorf-1977, na Alemanha, e em Montreal-1979, no Canadá.

Seu último título foi conquistado na Bolívia: João Carlos venceu o Sul-Americano, em La Paz, em 5 de novembro de 1981, ouro com 17,05 m.

Foi eleito nos anos 1980 um dos 10 melhores triplistas do século 20 ? 4º lugar da lista, com Adhemar Ferreira da Silva em 3º e Nelson Prudêncio em 8º. Sua performance no México, em 1975, foi uma das 100 mais bonitas do mundo na festa do Jubileu de Diamante da World Athletics (ex-IAAF), em 1987.

FATALIDADE E POLÊMICA

A fatalidade encontrou o herói do esporte em dezembro de 1981. João do Pulo enfrentou uma tragédia ao sofrer um acidente de carro na Via Anhanguera, perto de Campinas. O impacto da batida lhe causou traumatismo craniano, esmagamento da perna direita e compressão abdominal. Durante dois dias, permaneceu inconsciente.

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Em 9 de setembro de 1982, após nove meses de internações e 22 cirurgias, teve de amputar a perna direita e enfrentar o fim de uma brilhante carreira aos 27 anos. Sobreviveu, mas com profundas cicatrizes.

João do Pulo encerrou a carreira ainda como recordista mundial. Faltaram justamente o ouro olímpico e o salto de 18,00 m. Quem viu garante que ele já havia saltado acima de 18 metros em Bratislava, antiga Tchecoslováquia. Mas a marca não foi confirmada pelos árbitros, como testemunhou à época o técnico Pedro de Toledo, o Pedrão, que o acompanhava.

Nos Jogos de Moscou, surgiram reclamações idênticas. Os fiscais de linha anularam ao menos três tentativas consideradas válidas pelos olhos do treinador brasileiro. A desconfiança também apareceu nas reclamações do chefe da equipe australiana de atletismo, que tinha Ian Campbell na briga por medalha. Não havia tecnologia para comprovar, apenas os olhos dos árbitros e dos treinadores.

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Cientistas da Universidade de Victoria, na Austrália, conduziram um estudo biomecânico dos vídeos para estabelecer que Campbell fora prejudicado. A Associação Australiana de Atletismo, conforme o jornal Sydney Morning Herald, levou o estudo a World Atlhetics, acompanhado de um pedido para que Ian Campbell ganhasse uma medalha retroativa. O Brasil se apresentou como parte interessada, esperando que o benefício fosse estendido a João do Pulo. A resposta foi negativa, sob a justificativa de que as imagens eram inconclusivas.

FUTEBOL NA ADOLESCÊNCIA

João Carlos de Oliveira nasceu em uma família pobre, em Pindamonhangaba, cidade do Vale do Paraíba, em São Paulo, em 28 de maio de 1954, filho de Paulo e Piedade de Oliveira. Teve alimentação precária na infância e pegou tuberculose aos cinco anos.

Na adolescência, gostava de futebol. Para se divertir, tocava bumbo no bloco Charles Anjo 45, em desfiles de carnaval. Também treinou vôlei e basquete. Começou no atletismo aos 17 anos, em 1971, já com 1,89 m de altura, seguindo conselho do professor de educação física José Roberto Vasconcelos, que o incentivou a se especializar nos saltos horizontais.

Ele iniciou sua carreira atlética na cidade paulista de Cruzeiro. Mudou-se para São Paulo, tendo como treinadores Nelson Pereira e depois Pedrão. Competiu pelo São Paulo FC, EC Pinheiros e AA Guaru, enquanto seguia a carreira militar.

Depois do acidente, com prótese, o grande campeão estudou Educação Física e abraçou a política. Foi eleito deputado estadual por São Paulo em 1986 e 1990. João teria condições de obter muitas outras glórias em sua carreira não fosse a fatalidade.

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Morreu em 29 de maio de 1999, em São Paulo, um dia depois de completar 45 anos. João do Pulo faz parte do Hall da Fama do Comitê Olímpico do Brasil (COB).

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