São Paulo muda estratégia após final da Copa do Brasil e quer premiar sócios torcedores mais assíduos: "Não temos compromisso com o erro"

O programa de sócio torcedor do São Paulo há tempo é motivo de debate. Embora seja o terceiro clube mais popular do Brasil, o Tricolor não faz isso se refletir em número de sócios. A pauta ficou ainda mais latente na final da Copa do Brasil, quando muitos são-paulinos que aderiram a um dos planos disponíveis não conseguiram garantir ingresso para assistir ao confronto decisivo com o Flamengo.

O que gerou bastante controvérsia foi o fato de sócios do plano Diamante, o mais caro, que custa R$ 200 mensais, terem direito a comprar seu ingresso por apenas R$ 0,30, além de mais quatro ingressos de acompanhante pelo valor cheio da entrada. Desta forma, os mais de 13 mil são-paulinos que aderiram a esse plano poderiam esgotar as entradas para a final da Copa do Brasil, não dando a oportunidade de tricolores que aderiram a outros planos marcarem presença na decisão.

"A gente vem aprimorando o programa ao longo dos últimos anos. Muita gente falou 'Pô, sou sócio torcedor, vou em todos os jogos, e não consigo comprar ingressos'. Mentira. O sócio torcedor que veio em mais jogos no ano não veio em todos os jogos. Não existe essa que veio em todos os jogos e na final não conseguir vir. Mas, poderíamos melhorar. Eu brinco que não tenho compromisso com erro. Se está errado, vamos melhorar", disse o diretor de marketing do São Paulo, Eduardo Toni, em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva.

Apesar de o antigo formato do programa de sócio torcedor do São Paulo não premiar os seus fãs mais assíduos, o diretor tricolor garante que tudo fazia parte de uma estratégia para aumentar o público no estádio e o engajamento com a equipe.

"O que queríamos? Um fator que dificulta a venda de sócio torcedor é o nosso estádio para mais de 60 mil pessoas. Os outros estádios têm metade dessa capacidade, o cara precisa pagar o ano inteiro para poder ir. Tínhamos um estádio com média de ocupação baixa, plano com pouca gente. Então, decidimos criar um plano e dar a opção de o sócio poder comprar mais quatro ingressos para acompanhante. Aí acontecia o quê? Esgotava. Quando abria para o plano dele, ele pegava o ingresso dele e de mais quatro pessoas", admitiu.

Com o clube de volta à Libertadores e o objetivo de atrair mais torcedores ao Morumbis alcançado, o São Paulo readequou seu plano de sócio torcedor e premiará, em 2024, os tricolores que mais marcarem presença no estádio com a prioridade na compra de ingressos de jogos mais concorridos.

"Agora isso não está certo. Agora a nossa média é de 45 mil pessoas no estádio, a torcida está engajada com o time, o plano cresceu. Então era a hora de rever isso. Readequamos o plano. Não é que estávamos errados, naquele momento era a estratégia correta, nós queríamos trazer mais público. Hoje, a torcida vem, então diminuímos drasticamente a quantidade de acompanhantes, filhos, de dependentes, porque a torcida está vindo. Você tem estratégias e estratégias. O Flamengo tem a maior torcida do Brasil e tem 75 mil sócios torcedores. Se eu tenho 56 mil e eles 75, sou muito melhor que eles? Não é verdade. A estratégia de São Paulo e Flamengo é diferente da estratégia do Palmeiras, que fez um banco e quem abrisse conta ganharia seis meses de sócio torcedor", comentou.

"Nós temos um estádio grande, um ticket de sócio torcedor interessante para nós. Adequamos nossa estratégia à nossa realidade. Hoje premiamos o torcedor mais assíduo ao torcedor que paga mais. O programa hoje é maturado, as pessoas confiam. Na final da Copa do Brasil teve muita gente que ficou sem ingresso, mas é natural. Se houvesse 500 mil de capacidade, ainda sobraria gente sem ingresso. Com os ajustes que fizemos, na Libertadores premiaremos o torcedor que tem sido mais assíduo", completou.

Atualmente o São Paulo conta com pouco menos de 56 mil sócios torcedores. O Palmeiras, por exemplo, tem mais de 174 mil adeptos de seu programa, chamado Avanti, muito pela necessidade de seu torcedor pagar um valor mensal para poder acessar o Allianz Parque, cuja capacidade é de 43.713 pessoas em dias de jogos.

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Sem dúvida, o tamanho do Morumbis, com capacidade para 66.795 pessoas em dias de jogos, atrapalha no crescimento do sócio torcedor do São Paulo. Na maioria das partidas, os torcedores sabem que poderão adquirir ingressos sem a necessidade de aderir a algum plano. Embora o ST ofereça outras vantagens, como descontos em estabelecimentos, além de experiências, o principal motivo para adesão, em qualquer clube do futebol brasileiro, é a aquisição de entradas para o estádio.

"O sócio torcedor quer o futebol. Temos no programa descontos em drogarias, lojas, restaurantes, padarias, posto de gasolina, milhões de benefícios. Mas, o que ele quer? Ele quer futebol, poder ter prioridade de compra, um preço melhor. É isso que ele quer. Tudo que pomos em volta é floreio. O cara quer o futebol. Temos o setor popular, que é um acerto da gestão, mas, no fundo, concorre com o programa de sócio torcedor, porque estou privilegiando uma população que não consegue pagar um plano mensal de sócio torcedor, que vai vir ao estádio uma vez e depois pode demorar para vir de novo. Internamente há esse concorrente, o setor popular. A gente consegue conviver com os dois e ainda tem a dificuldade do estádio para quase 70 mil pessoas", disse Eduardo Toni.

Apesar de os números do sócio torcedor do São Paulo não serem compatíveis com a sua gigante torcida, o diretor de marketing do clube garantiu que está satisfeito com o trabalho que vem sendo executado desde 2021. O crescimento do programa em comparação à época em que ele iniciou o trabalho no Tricolor é inegável. Mas, ainda há um longo caminho a ser percorrido.

"Tem um monte de mito sobre o sócio torcedor. Nós chegamos aqui, o São Paulo tinha cerca de 15 mil sócios. A marca sócio torcedor é patenteada, pertence ao São Paulo, que foi o primeiro clube a instituir isso no futebol brasileiro. Tínhamos cerca de 15 mil sócios quando chegamos aqui, e a pergunta mais difícil, que ninguém conseguia me responder, era quantos sócios pagantes tínhamos. Se o time ganhava, pagavam o boleto. Se o time perdia, não pagavam o boleto. Nossa base de sócios é um eletroencefalograma, e a gente vinha de um momento que mais perdíamos do que ganhávamos. Hoje eu tenho quase quatro vezes mais sócios torcedores", concluiu.

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