Ex-analista de desempenho do Corinthians relembra rotina e fala que CIFUT é de "extrema importância"

Gabriel Magalhães atualmente comanda a equipe do Chiangrai United, da Tailândia, mas passou bons anos de sua carreira no setor de análise de desempenho do Corinthians. Em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva, o técnico de 38 relembrou sua trajetória no Timão e explicou a importância do CIFUT (Centro de Inteligência do Futebol) para o funcionamento da equipe ao longo da temporada.

Gabriel chegou ao Corinthians em 2016, inicialmente para ser uma das mentes por trás do CADI (Centro de Análise de Desempenho e Inteligência da Informação), uma plataforma de inteligência que potencializa a performance dos Filhos do Terrão e armazena informações de todos os jogadores do clube.

"Era coordenador. Foi muito bom, mas muito desgastante. Não tinha folga, trabalhava todos os dias. Filmava todos os treinos, criei mecanismos de cortes individuais dentro de cada posição. Filmava, comparava jogo a jogo para ver a evolução do jogador. A ideia era melhorar o atleta. Sábado e domingo tinha jogo, acompanhava as categorias inferiores e ainda comparecia aos jogos na Arena para ver de perto o profissional. Trabalhava praticamente por 24 horas", disse Gabriel.

Nesse período, o profissional acompanhou e trabalhou com vários atletas nas base. Nomes como Matheus Donelli, Carlos Augusto, Lucas Piton, Du Queiroz, Roni, Pedrinho e Gustavo Mantuan passaram pelas mãos de Gabriel Magalhães nesse período de Timão.

Após o bom trabalho realizado na base, o treinador foi convidado a integrar a equipe do CIFUT, sendo responsável principalmente por analisar os adversários do Timão na temporada do profissional. "Recebi o convite e fiquei muito feliz. Já conhecia os profissionais, foi muito gostoso. Me tornei analista de adversário, organizei parâmetros, foi uma evolução muito grande na minha carreira. Assistia a muitos jogos, ajudava na captação de jogadores. Trouxe para o clube Fessin, Ruan Oliveira... Já tinha um olho para o mercado. Foi bem legal, consegui identificar comportamentos e ideias de jogo a partir do adversário", comentou.

O CIFUT vira tema de debate com certa frequência no Corinthians. A Gazeta Esportiva apurou que o técnico Vanderlei Luxemburgo não constumava utilizar as ferramentas do departamento durante seu trabalho no clube, o que gerou certo descontentamento interno. Augusto Melo, eleito recentemente o novo presidente do Alvinegro, já disse em entrevista que enxerga um sucateamento do Centro de Inteligência da agremiação e que está avaliando novos analistas para melhorar o monitoramento de jogadores.

"Já ouvi muito que são vários os casos de treinadores que não utilizam o departamento de inteligência. Alguns não gostam, preferem eles mesmos fazer esse estudo. Não é que não utilizem a análise, eles não utilizam a do clube, muitas vezes possuem um auxiliar para isso. Acho que é uma perda de material. Vi várias vezes o Fábio Carille usando coisas que o departamento separava, chegamos a ganhar jogo por conta disso. Quem ganha o jogo é o atleta, evidentemente, mas você vê o Cássio citar muito os pênaltis que ele pega, que têm todo um estudo por trás. Na final contra o Palmeiras no Campeonato Paulista de 2018, a gente sabia que se fosse para os pênaltis nós venceríamos. Acho a não utilização uma perda muito grande para o treinador, mas o material é feito independente do profissional que estiver ali. Hoje um técnico não pode utilizar, mas amanhã outro treinador utilizará. Acho de extrema importância. Mas como é utilizado vai de cada um que está no comando da equipe", comentou Gabriel Magalhães.

Alguns jovens oriundos da base do Corinthians mostraram certa dificuldade ao longo de 2023, devido à temporada conturbada do time. Na visão de Gabriel, a pressão que envolve o Timão muitas vezes pode atrapalhar o desenvolvimento dos garotos, ainda mais quando ocorre muita troca de comando técnico.

"O principal é o modelo. O Corinthians vive um momento de muitas trocas, muitas ideias diferentes, de treino, jogo, posicionamento, correções. Tudo isso é muito difícil. O Guilherme Arana, por exemplo, esperou um ano para jogar, com Tite colocando devagar. Quando você tem uma equipe montada, como o Palmeiras do Abel, você vai colocando os garotos. No Corinthians, tudo acontece de forma muito rápida. É um clube de muita paixão, é um amor muito grande, um bando de loucos. É muita pressão. Se hoje o Corinthians está na mão de um mesmo treinador há dois anos, com clube montado, de repente o Léo Mana se torna um Arana. Igual o Carille fez com o Pedrinho e muitas vezes a imprensa batia. São fatores que ao meu ver prejudicam os garotos, mas o mais importante é ter a safra, ter o talento. É ver agora se o Corinthians não vai ser rebaixado, se o trabalho do Mano vai ter continuidade, acho que isso vai ser muito importante para os garotos", comentou.

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A passagem do treinador no departamento de análise do Corinthians se encerrou em 2020. Depois, o profissional passou por comissões técnicas de clubes como Gama, Sampaio Corrêa, Maringá e Buriram United, da Tailândia. Em 2022, Gabriel foi auxiliar técnico do Fortaleza sub-20 e contou à reportagem como foi a experiência de trabalhar em um clube em ascensão no futebol brasileiro.

"Sou muito feliz de ter ido para o Fortaleza e ver de perto o futebol do Nordeste. É uma cidade muito boa de se morar, um público apaixonado. Os paulistas são mais agressivos, eles são mais festivos. Acredito que em breve vamos ver clubes como Bahia, Ceará... Quanto mais abrir o mercado, melhor para nós", disse.

Por fim, o treinador do Chiangrai United falou de sua experiência na Tailândia e a diferença técnica e tática do futebol do país comparado com o brasileiro. "Sou completamente apaixonado pelo país (Tailândia), é bem receptivo, muito bom para brasileiro, é seguro. Viajo e minha casa fica aberta, nada acontece. Eles têm um respeito muito grande por mim e pela minha família", falou.

"O grande desnível é a parte física. Como é um país de alimentação diferente, sinto que falta força aos jogadores. Tecnicamente são bons, têm boa relação com a bola. A parte física pega muito, a estatura... é difícil achar jogador alto, o que prejudica a bola aérea", finalizou.

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