Manipulação: Textor reforça acusação, mas deixa provas para reunião secreta

Dono da SAF Botafogo, John Textor deu depoimento nesta segunda (22) na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga manipulação em jogos de futebol. O dirigente reforçou acusações de que houve manipulação em partidas que beneficiaram o Palmeiras, como no clássico contra o São Paulo. Mas a apresentação das provas que diz ter ficou para uma reunião secreta com os senadores que fazem parte da CPI.

O que aconteceu

A reunião secreta acontece como continuidade à oitiva de aproximadamente 3h de duração, que aconteceu em Brasília.

Textor voltou a defender os relatórios da empresa Good Game e explicou como eles funcionam.

Segundo o dirigente, a inteligência artificial é capaz de identificar comportamentos anormais de jogadores em campo.

Textor se comprometeu a dizer, por exemplo, quais jogadores do São Paulo são apontados como suspeitos de terem comportamento inadequado na goleada sofrida para o Palmeiras.

Mas Textor admitiu que não consegue conectar esses comportamentos apresentados no relatório a razões para que os jogos fossem supostamente manipulados.

O dirigente alvinegro ainda reclamou das decisões dos árbitros em jogos do Brasileirão 2023, citando dois lances contra o Botafogo — o gol de Bruno Henrique, pelo Flamengo, e a expulsão de Adryelson, na virada do Palmeiras por 4 a 3 no Nilton Santos.

Ele ainda prometeu que mostrará o áudio de um árbitro que alega ter deixado de ganhar dinheiro com manipulação.

A CPI é presidida pelo senador Jorge Kajuru (PSB-GO) e tem Romário (PL-RJ) como relator.

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O Baixinho chegou a perguntar se Textor teria interesse de vender o Botafogo e ouviu que essa era "a pergunta mais estúpida".

Não venho com evidências de pagamentos em dinheiro ou alguém conectado a uma organização. As evidências que vemos é que os principais jogadores estão fazendo o que podem para ganhar os jogos. Mas a nossas evidências dizem como os jogos são manipulados e não por que. John Textor, dono da SAF Botafogo

John Textor, dono da SAF Botafogo, durante depoimento à CPI das Apostas, no Senado
John Textor, dono da SAF Botafogo, durante depoimento à CPI das Apostas, no Senado Imagem: Roque de Sá/Agência Senado

O que mais Textor falou na CPI

Sobre Palmeiras 5 x 0 São Paulo

"Os nomes estão no relatório de nível 3. É uma empresa confiável. Eles identificaram os cinco jogadores que claramente estiveram envolvidos. Eles consideram outros potenciais envolvidos. Não estou aqui para apontar jogador. Mas para dizer que aquele jogo foi manipulado, com base nas minhas convicções e nas evidências apresentadas".

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Arbitragem

"Eu sei o quão difícil é ser árbitro. Tentei ser árbitro e errava impedimento. Eu fiquei perturbado com aquela situação. E aconteceu com o Botafogo, quando Bruno Henrique fez o gol. Havia uma jogada de impedimento e o gol foi permitido. Isso foi um momento perturbador. Dois gols anulados, duas decisões controversas, não nos nossos jogos, mas de outras equipes. Vemos aqui nessas decisões, nesse equilíbrio entre decisões que podem ocorrer de forma honesta ou por incompetência. Mas nisso eu não acredito, porque os árbitros são muito bons".

Como funciona o relatório

"O que a tecnologia da Good Game faz é que ela distingue o comportamento humano. Ele foi aplicado primeiramente no handebol. Avalia o comportamento real e distingue um comportamento anormal. Existe margem de erro de desempenho devido a cansaço, idade. Vemos que aconteceu no São Paulo x Palmeiras. Eles buscam identificar o desvio. Eles identificam o comportamento normal. Como o ser humano responde aquela interação com a bola. E identifica uma margem de variação desse comportamento. Se não tiver atuando nessa margem, ele marca a interação como anormal".

Jogadores identificados?

"O Palmeiras tinha três jogadores que identificamos como "deficiência normal". Weverton tinha um passe ruim, Rios também tinha. Mas era de forma isolada. Depois, passou a analisar a parte do São Paulo. Um jogador teve oito deficiências. Isso estava além da normalidade de um jogador. Ele tomou a decisão de não interceptar a bola. Ele pode mudar a inclinação do corpo para não interceptar a bola. A tecnologia percebe o quanto de peso ele coloca em cada perna, como se move".

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A imagem do computador permite perceber e avaliar de forma mais precisa. O que o jogador decide é não interceptar a jogada. Quando vemos o que ocorreu naquele jogo, ele estava com mais de oito desvios acima do esperado naquele jogo. Cinco em particular tiveram cinco, seis ou oito deficiências em jogadas de gol. Eu não estou dizendo que esses jogadores manipularam o jogo. Eu vejo que esse jogo foi manipulado pelo comportamento, pelo envolvimento.

Envolvimento dos clubes

"Eu acredito que o Palmeiras foi beneficiado em 2022 e 2023. Mas eu nunca acusei o Palmeiras ou o São Paulo, como equipe, de serem responsáveis por isso. Eu não sei o motivo pelo qual os jogadores se comportaram daquele jeito naquele dia. E nunca aleguei que Leila ou Julio Casares estavam envolvidos nisso".

Relação com Leila Pereira

"Por sorte eu não falo português fluentemente e não tive a chance de ler tudo o que ela falou sobre mim. Eu recebi reações diferentes de outros presidentes de equipes. Mas já disse que não apresentei acusação contra ela. A decisão dela foi simplesmente me atacar. Se apresentei alguma declaração falsa, ela poderia dizer diretamente. Eu acho que é uma conversa fútil. Ela quer criar algum tipo de ruído dizendo que não produzi prova. Eu apresentei. Sei que ela fou ao tribunal desportivo, falou com a imprensa, tratou de me difamar. Eu apresentei tudo de maneira calma, mas ela optou por outra abordagem".

Investigou o próprio Botafogo na reta final do Brasileirão? O que aconteceu?

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"Acho que estávamos mentalmente afetados no fim do campeonato. Houve uma sequência de jogos em que houve gols invalidados, descontados. Nosso time sofrendo muitos gols. Nossa equipe ficou triste. A torcida começou a dizer palavras de ódio. Mas não muda o fato de que certos jogos foram manipulados. Precisamos de apenas um para ter uma investigação real".

Áudio do árbitro

"Sim, vou apresentar durante a sessão secreta. Esse áudio foi passado para mim por meio de alguém da entidade que governa o futebol. Estava sob imensa pressão para divulgar isso. Não entendo a pressão que recebi. Se a polícia e a CBF têm isso, não sei por que recebi esse áudio. Mas é uma conversa inacreditável ver o árbitro dizer que perdeu dinheiro por uma jogada de um pênalti".

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