Quando os times de Corinthians e São Paulo se enfileiraram no jogo de ida das quartas de final da Copa do Brasil Sub-17, deu para ver a diferença. Ambos têm casas de apostas como patrocinadores máster. Mas só o lado alvinegro do clássico teve a marca estampada no peito. Por quê?
O que aconteceu
A raiz disso está no que diz o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar). Não há um veto expresso ao uso das marcas das casas de apostas nos uniformes dos jogos na base.
Mas "pessoas que apareçam nas publicidades do segmento, praticando apostas, desempenhando papel significativo ou de destaque, deverão ser e parecer maiores de 21 anos de idade", segundo as regras mais recentes.
O Conar diz ainda que "as publicidades de apostas não devem ser inseridas em nenhum canal, programa ou conteúdo de mídia direcionado ou voltado a menores de 18 anos". Isso está em outro trecho do documento de dezembro de 2023. Os jogadores do sub-17, obviamente, não tem e nem aparentam ter mais idade.
Só que em reunião recente com advogados dos clubes, o Conar disse que não via problema na exibição do patrocínio nas camisas. Ainda assim, a maioria dos clubes não exibe os patrocinadores desse segmento.
O Corinthians ontem (3) foi uma exceção e entrou em campo com o Vai de Bet no peito — e com outros patrocinadores. O São Paulo é patrocinado pela Superbet, mas usou a camisa "limpa".
O Santos é outro clube que também mantém o patrocínio da Blaze nas camisas de suas categorias de base, inclusive no Sub-11 e Sub-13. O logo da casa de apostas fica na região da barriga dos atletas.
Por que muitos clubes não usam
Cada clube, claro, tem seus acertos individuais com patrocinadores. Mas sobre as casa de apostas, há uma dose de precaução para se proteger de eventuais alterações no entendimento do Conar durante a vigência dos contratos de patrocínio.
"Há clubes que podem ter optado pela retirada do patrocínio máster de categorias de base, independentemente de haver argumentação no sentido de que ele seria possível, porque há espaço para que essa interpretação se altere ao longo dos próximos passos da regulamentação. Uma avaliação mais conservadora recomendaria que, nesse momento, essas propriedades não fossem incluídas no pacote de negociação dos clubes. É para evitar discussão futura que dê causa a uma eventual diminuição ou rompimento do contrato", disse a advogada Danielle Maiolini, do escritório CSMV, que presta serviço ao Palmeiras, por exemplo, e está ativo na Libra.
A permissão do Conar para o uso foi vista pelos clubes como uma medida de meio-termo para não atrapalhar a validade dos patrocínios.
O que a legislação veta, de fato, é que haja apostas em jogos de campeonatos de base. Isso está expresso na lei que regulamenta a atividade das casas de apostas no Brasil.
Ou seja, os eventos e resultados das partidas da Copa do Brasil Sub-17, por exemplo, não podem ser alvo de apostas. Por mais que a Vai de Bet tenha aparecido na camisa do Corinthians. O jogo terminou 0 a 0.
"Não é correto comunicar o segmento de betting para menores de idade em patrocínios de uniformes de clubes, acredito até existir uma grande lacuna para se fazer vários trabalhos de conscientização sobre a responsabilidade, mas exposição de marca não faz sentido", opina Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo.
Quanto custa o patrocínio?
As casas de apostas tomaram conta dos espaços mais nobres e valiosos dos patrocínios no futebol brasileiro.
No caso do Corinthians, a informação é que o contrato com a Vai de Bet gere R$ 120 milhões por ano.
No São Paulo, a Superbet paga R$ 52 milhões fixos. Com variáveis, isso pode chegar a R$ 75 milhões.
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