Copa 2023: Atletas conciliam rotina de treinos e jogos com a maternidade

A maternidade é ainda hoje um tabu dentro do esporte. Muitas jogadoras vivem o dilema entre ter filhos e a carreira, já que há pouco suporte para esse tipo de situação. Esta Copa do Mundo da Austrália e Nova Zelândia, porém, vem fazendo algumas seleções se adaptarem.

As mães da Copa

A maternidade no esporte é um assunto extenso e delicado. Ainda hoje há a sensação de que para ter um é preciso abdicar de outro. Muitos clubes não dão suporte ou têm preparo para esse tipo de situação.

Nos Estados Unidos, por exemplo, Alex Morgan, Crystal Dunn e Julie Ertz são mães e viram a seleção implementar um protocolo para gerenciar esse contato.

Na França, Amel Majri foi a primeira jogadora da seleção francesa a ser mãe no meio da carreira.

Na Austrália, Katrina Gorry também está neste grupo, além da sueca Elin Rubensson.

A Jamaica tem duas: a meio-campista Konya Plummer e a atacante Cheyna Matthews, que deu à luz seu terceiro filho no final de 2022. O primeiro nasceu poucos meses antes da Copa do Mundo de 2019.

A Fifa impôs em 2021 aos seus 211 países-membros uma série de regras relacionadas a isso. Por exemplo uma licença-maternidade de pelo menos 14 semanas, das quais oito serão após o nascimento, assim como a proibição de demissão das atletas.

A entidade também obriga a remuneração em pelo menos dois terços do salário contratual. As regras também englobam cuidados físicos e médicos adequados, além de amamentação em locais adaptados nos clubes.

O Lyon, por exemplo, foi condenado neste ano por desrespeito às regras.

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Apoio a distância

Se algumas jogadoras conseguira ir acompanhadas de toda a família para a Austrália e Nova Zelândia, na seleção brasileira a realidade é totalmente diferente. Tamires, a única mãe da equipe, por enquanto não terá a presença do filho Bernardo nas arquibancadas.

As jogadoras da seleção não têm tido extenso número de familiares no Mundial. No caso de Tamires, ela está acompanhada da namorada Gabi Fernandes, que é cantora e vem fazendo algumas apresentações nos esquentas de jogos da seleção.

Depois de abdicar de anos da carreira, a lateral-esquerda vive a terceira Copa e é titular absoluta da seleção, considerada uma das líderes de Pia Sundhage.

Carreira parada

Tamires foi mãe aos 21 anos, quando ainda namorava César, também jogador de futebol. Ela pensou que o sonho de ser atleta tinha terminado naquele momento depois de passagens pelo Juventus, Santos, Chalotte Eagles, dos Estados Unidos, e Ferroviária.

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"Foi um baque, não esperava. Achei que o futebol tinha acabado para mim. Ouvi de pessoas que tinha acabado. Não tinha maturidade para lidar com a situação", relatou à CBF TV antes do Mundial de 2019.

Hoje na terceira Copa do Mundo da carreira, ela chegou a ficar dois anos longe dos campos profissionalmente, mas fazia de tudo para se manter praticando. Ela buscava times de futsal para continuar ativa.

Em 2010, recebeu um convite para retornar ao futebol. O técnico do Atlético-MG estava montando um time feminino e a convidou para voltar a jogar.

Depois de um ano e meio, Tamires decidiu largar o futebol novamente por causa da distância. Como o marido jogava no Patrocinense e os dois quase não se viam, ela saiu e foi acompanhá-lo.

Em 2013, retornou atuando pelo Centro Olímpico depois de César ir jogar pelo São Bernardo. Dali não houve mais volta. Foi de lá que ela virou a lateral-esquerda da seleção brasileira.

Naquele momento ela também conheceu Arthur Elias, seu atual treinador no Corinthians. Na época, ele afirmou que o Centro Olímpico acreditou em Tamires e elogiou o profissionalismo.

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Consolidada

Depois da virada de chave, Tamires disputou a Copa do Mundo, o Pan-Americano (onde ganhou o ouro), as Olimpíadas de 2016 e conquistou a Copa América.

Em 2015, porém, recebeu um convite para se transferir para o Fortuna Hjørring, da Dinamarca.

Desta vez foi a hora de o marido abandonar a carreira para acompanhá-la. Bernardo tinha entre 4 e 5 anos.

Depois de se destacar na Dinamarca, Tamires voltou ao Brasil para jogar pelo Corinthians.

No Timão, foi campeã da Libertadores (2019 e 2021), do Brasileirão (2020, 2021 e 2022), do Paulista (2019, 2020 e 2021), da Supercopa do Brasil (2022 e 2023) e da Copa Paulista (2022).

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Polêmica na Copa masculina

No ano passado, durante a Copa do Mundo do Qatar, Paquetá subiu as escadas antes de um treino para atender o filho, que estava chorando na arquibancada.

O gesto gerou reações positivas, mas também chegou a ser alvo de críticas.

No caso da seleção feminina, Bernardo, de 14 anos, não tem previsão de ir acompanhar a mãe neste momento.

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