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Cuca nega participação em estupro: 'Por que devo desculpas à sociedade?'

Do UOL, em São Paulo (SP)

21/04/2023 17h59

Cuca foi apresentado como novo técnico do Corinthians na tarde de hoje (21) no CT Joaquim Grava. Do lado de fora, protestos pela contratação do treinador por causa da condenação a 15 meses de prisão por estupro de Sandra Pfaffli, de 13 anos, em um hotel em Berna, na Suíça, em 1987, quando era jogador do Grêmio.

Cuca foi questionado sobre o tema na primeira pergunta da coletiva.

Confira a íntegra da coletiva de Cuca


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O caso na Suíça: "É um tema delicado, um tema pessoal meu, mas eu faço questão de falar sobre ele e tentar ser o mais aberto possível quanto a isso dentro do que me cabe. Ocorreu a 37 anos atrás, em 87, eu era emprestado do Juventude ao Grêmio, devia estar no clube há 15 dias. Tenho vaga lembrando do que aconteceu. Tinha 23 anos na época, nós iríamos jogar uma partida e pouco antes subiu uma menina para o quarto que eu estava com outros jogadores. Essa foi minha participação nesse caso, sou totalmente inocente, não fiz nada. As pessoas falam que houve um estupro, houve um ato sexual a um vulnerável, isso foi a pena que foi dada. A gente vê um monte de coisas falando inverdades, chegam a ofender".

Por que não se defendeu? "O meu erro foi não ter me defendido. Primeiro, eu não tinha dinheiro para me defender, segundo que eu nem soube que tinha sido julgado. Ficamos lá para averiguação. Por três vezes ela esteve lá na frente, e não é que não me reconheceu é que eu não estava. A vítima é a moça: 'O rapaz não está'. Se a vítima fala que não está, e eu juro por Nossa Senhora que é o que eu mais adoro e amo na vida que não estava, como que eu posso ser condenado pela internet que no mesmo momento que te julga, te pune?".

'Respeita as minas': Eu sei que o mundo mudou, que estamos vivendo um mundo melhor, que a mulher tem uma autodefesa muito maior e tem que ser cada vez maior e eu quero fazer parte disso. Eu sou pai, eu sou avô, sou marido, sou filho. Quero que elas estejam cada vez mais protegidas, quero poder ajudar. Por isso estou aqui em um clube que tem mais torcedoras, 53% da torcida é feminina, um time que tem a causa, até escrevi o nome da causa, 'Respeita as Minas'".

Protestos pela contratação: "Eu venho e tem o protesto, claro que é cabível o protesto dentro de tudo que é lido e passado, mas é isso. Hoje tem repórteres que já discuti com eles. 'Cuca você deve uma desculpa para a sociedade', por que eu devo uma desculpa? Se eu não fiz nada, por quê? Dois anos e meio depois eu fui jogar ali do lado, na Espanha. Nunca teve consequência nenhuma. A vida passou 37 anos, nos últimos dois ou três ela mudou de uma forma melhor, essa causa que está existindo eu quero abraçar também até por proteção da minha família, das minhas meninas. Tudo isso machuca muito. Do fundo meu coração, pode ter protesto, pode ter o que for, não é maior que minha vontade de estar aqui".

Papo com Duilio: "Ele falou que iam ter protestos. Eu estava disposto a vir mesmo diante disso. Eu não vou ficar em casa me escondendo. Não sou culpado de nada, estou com a consciência tranquila. Meu erro foi não ir ao julgamento, nem sabia que teve julgamento. Soube depois de um ano que teve uma pena, de meses. Dois anos depois eu estava jogando na Espanha. Depois vão falar que teve condenação e eu fiquei no Brasil, não é verdade. O advogado do Grêmio pode falar."

Arrependimento sobre o caso? "Se eu pudesse não estar no quarto, eu não estaria, mas eu estava lá enquanto as coisas aconteceram e eu não fiz nada, se é que aconteceram. O quarto é um 'L', você não sabe, você não vê. Minha parte é essa. Nós não estamos em um momento em que a palavra mais importante é da mulher? A palavra da mulher não é que o Cuca não esteve lá? Não falou sobre o Cuca: 'Não conheço, não vi, não tava'. Eu não estou falando que não estava? Como eu posso ser condenado, hoje tem 200 mulheres aí me condenando, pelo quê? É difícil pra gente, mas eu não vou desistir."

"Eu não sou do mal": "Saí lá no Galo dentro de uma condição e saí de lá, acho que até aquelas mulheres que não eram a favor quando eu fui, ficaram depois. Quem me conhece, e a maioria me conhece, sabe quem eu sou, de que forma eu ajo, o quanto eu respeito as mulheres. Quero ter um engajamento dentro dessas causas para poder ajudar a mulher, vou estar ajudando minha família mesmo. Eu não sou do mal. Quiserem tentar fazer isso... Eu sei que amanhã vai ter gente metendo o pau de volta, mas eu vou fazer o quê? Eu não tenho o que fazer. Eu não tenho que pedir desculpas do que eu não fiz. Isso eu não vou fazer. Eu peço desculpa para minha mulher, para minhas filhas que estão passando por isso, mas eu vou trabalhar, não vou ficar em casa. Trabalhei no Galo dois anos, aguentei isso, antes não tinha [essa cobrança]. Eu tenho 37 anos de casado, eu sou homem, sou íntegro, sou limpo e eu vou trabalhar."

"Se quiser, eu vou embora": "Eu sei que o Duílio e o Alessandro estão levando porrada a torto e a direito hoje por terem me trazido, mas eu não sou bandido. Não façam isso, por favor. Vocês me conhecem. Essa minoria que faz isso eu sei que eles fazem barulho e vão continuar fazendo, mas por mim não faz mal. Igual falei para o Duílio: presidente, se você estiver arrependido e quiser que eu vá embora, eu vou, não tem problema nenhum porque o protesto está sendo grande. Mas eu (por mim) não vou, eu vim aqui para vencer e vou vencer se Deus quiser."

O que faria de diferente: "Eu tinha 23 anos, eu era quebrado, não tinha dinheiro para fazer um voo daqui para Porto Alegre. Eu era funcionário do Grêmio. Se fosse hoje, ia me favorecer muito porque você ia ouvir a moça: 'não tava, não tava, não tava'. Três vezes. Pronto, eu já estou absolvido. Não existe coisa mais absoluta do que a palavra da vítima, existe? Se eu tivesse hoje a condição de voltar no passado, eu iria lá. Não iria contratar um advogado. Mas nem sabia que teve julgamento, era um menino de 23 anos e lá no Grêmio jogando. Naquele tempo não era tratado como hoje. Graças a Deus hoje é tratado de uma forma muito mais calorosa e dura como tem que ser. O que eu faria de diferente se eu pudesse? Teria ido lá. O que faria de diferente depois disso? Teria falado mais sobre o caso, daí hoje não seria um caso. Tem colunista que falou, e com devida razão, que o Cuca calou e quem cala consente. Não acho, é que não queria mexer em um tema que já estava morto, acabado, incinerado. Mas é um tema que hoje me incomoda, como incomoda um monte de mulheres que hoje vivem nessa busca incessante da proteção maior que elas têm que ter, e eu apoio totalmente. Eu sou de família maioria feminina."

O que lembra daquela noite. "Eu não tenho lembranças assim, te juro. Se eu pudesse fazer alguma coisa diferente. Mas eu era um piá, um menino, um 'tiquinho' assim para aquela grandeza que era o Grêmio, aqueles caras baitas jogadores que tinha. Eu ficava no meu cantinho, eu ia fazer o que de diferente? Eu não vi nada, tinha um jogo não lembro contra quem, Benfica talvez, eu estava louco para jogar aquele jogo, acabei jogando uma meia hora, foi minha primeira participação que eu tive. Não tem o que fazer."

Uma dica. "Agora, uma dica que acho que eu tenho que deixar, é para as pessoas tomarem cuidado com a vida, às vezes uma atitude errada custa muito, custa mais para a vítima que deixa uma sequela muito grande para ela, uma amargura muito grande para ela, mas para quem faz também fica, às vezes acaba a vida da pessoa em cima disso. Se eu puder deixar essa dica. Depois você não tem como voltar e passar dez, vinte minutos atrás. Basta a gente ver o que está acontecendo agora em outros casos e tirar como exemplo também. Fica essa dica aí."

Protestos das organizadas. "Se a gente for ligar para isso, você não vai conseguir trabalhar. Se você pegar outros veículos que não é o Twitter e internet, que de repente é outro tipo de torcedor, tem 70 e tantos por cento de aprovação. Não me preocupo tanto com isso. Me chateia, me magoa, mas quero passar para eles que a real ideia minha é que estou junto com eles. Que eu sou inocente, não devo nada a justiça, nada para ninguém, sou uma pessoa decente acima de tudo. Não é porque estou no Corinthians que vou falar isso, sempre falei, minha bandeira sempre foi a correção."

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