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Brasil se beneficiará com Copa na América do Sul, diz ministro argentino

Matías Lammens, ministro de Turismo e Esportes da Argentina - Luciana Taddeo/UOL
Matías Lammens, ministro de Turismo e Esportes da Argentina Imagem: Luciana Taddeo/UOL

Luciana Taddeo

Colaboração para o UOL, em Buenos Aires (Argentina)

09/02/2023 04h00Atualizada em 12/02/2023 09h13

O ministro de Turismo e Esportes da Argentina, Matías Lammens, disse em entrevista ao UOL que o Brasil pode se beneficiar economicamente da candidatura conjunta de Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai para sediar a Copa do Mundo de 2030.

Ele admitiu, contudo, que em 2014 os indicadores argentinos não mostraram resultados destacados durante a Copa no Brasil.

O ministro argentino afirmou que a Copa também beneficiará a macroeconomia da Argentina, país com cerca de 90% de inflação anual. O evento, segundo ele, também favorecerá uma melhor integração nos sistemas de transportes e integração entre os países.

Lammens afirmou que a conquista do título mundial pela Argentina fortalece a candidatura sul-americana.

A final da Copa deverá ser no Uruguai e a abertura do Mundial na Argentina, disse o ministro.

Achamos que tem uma dívida do futebol mundial com o sul-americano, e é um bom momento para quitá-la", Lammens

De volta ao começo

  • Se a candidatura conjunta for vencedora, a Copa retornará à América do Sul no aniversário de 100 anos do primeiro Mundial ter sido realizado no Uruguai.
  • Lammens afirma que todas as federações de futebol da região apoiam a candidatura.
  • Espanha e Portugal também apresentaram candidatura conjunta para organizar a Copa de 2030.
  • A votação para escolha da sede será realizada em 2024.

Em termos econômicos e de infraestrutura, não podemos competir com as grandes potências europeias, mas a Argentina ter trazido a Copa de volta para o continente reforça nosso argumento de que não é casualidade, de que o talento mais importante da história deste esporte saiu daqui", Lammens

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Matías Lammens, ministro de Turismo e Esportes da Argentina
Imagem: Luciana Taddeo/UOL

Leia entrevista de Lammens ao UOL:

Como foram as conversas para esta candidatura conjunta?
Começaram em 2017, 2018. Antes era Argentina e Uruguai, depois o Paraguai se juntou e depois o Chile. Em 2021, retomamos as reuniões e estamos nos projetos de sedes, financeiro e infraestrutura. Competimos com Espanha e Portugal, competidores de peso. Nossa candidatura está mais sustentada na linha argumentativa da tradição da América do Sul, com os 100 anos da Copa do Mundo no Uruguai de 1930. É um bom momento para o futebol voltar para onde tudo começou e que, de alguma maneira, seja um reconhecimento do futebol mundial ao nosso continente. Dos quatro ou cinco jogadores de futebol mais importantes da história do futebol, todos são sul-americanos: [Alfredo] Di Stéfano, Pelé, [Lionel] Messi, [Diego] Maradona. Achamos que tem uma dívida do futebol mundial com o sul-americano, e é um bom momento para quitá-la.

Como estão os apoios regionais, conversou com a ministra do Esporte do Brasil?
Não cheguei a falar com a ministra do Esporte do Brasil, mas os governos não votam. São as federações que votam e sabemos que temos o apoio expresso de todos os países da Conmebol. Certamente da próxima reunião participam todos os presidentes das federações e confederações dos 10 países da Conmebol, e vamos contar com o apoio das outras confederações, da Concacaf (Confederação das Associações de Futebol da América do Norte, Central e Caribe) e de outras partes do mundo. Acho que ter o primeiro e o último campeões do mundo foi mais um atributo para posicionar a candidatura. Estamos otimistas

Houve um apoio expresso da Confederação Brasileira de Futebol?
Todos os presidentes das federações estão apoiando a candidatura, porque foi o que propusemos. Estamos falando de uma candidatura que representa a América do Sul.

Quais sedes, cidades e estádios receberiam os jogos? A ideia é melhorar os estádios já existentes ou também pensam em construir?
São definições que ainda não temos, porque as condições para a Copa de 2030 não foram estabelecidas. Ainda não sabemos qual capacidade mínima a Fifa vai exigir. Precisamos apresentar pelo menos dois estádios, acho que vamos apresentar mais. O acordo inicial é de que a partida inaugural será na Argentina e a final no Uruguai. A final será no Centenário e, certamente, a inaugural será aqui em Buenos Aires, no estádio do River.

A Argentina ser o último campeão mundial favorece a candidatura?
Sem dúvida. Deu um impulso que a candidatura não tinha. Em termos econômicos e de infraestrutura, não podemos competir com as grandes potências europeias, mas a Argentina ter trazido a Copa de volta para o continente reforça nosso argumento de que não é casualidade, de que o talento mais importante da história deste esporte saiu daqui. O Brasil tem cinco Copas, a Argentina, três e o Uruguai, duas. Exportaram jogadores para a Europa como nenhum outro continente. Valorizar isso faz com que seja uma candidatura de impacto emocional, que os fãs no mundo digam 'é bom que seja na América do Sul, no Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile. É bom festejar os cem anos onde tudo começou'.

O sistema de transporte aéreo e terrestre entre esses quatro países e com os países da região vai aumentar?
Será preciso aumentar o transporte aéreo, trabalhar na rede ferroviária da Argentina, que é muito boa, e nas fronteiras terrestres. São questões que precisam ser trabalhadas rapidamente e é uma oportunidade de a região se integrar cada vez mais. Há um grande desafio de agilizar [a passagem pelas] fronteiras, até eventualmente permitir o livre trânsito entre os países. Abre-se uma porta para uma discussão interessante, que vai muito além do futebol.

Os governos regionais teriam interesse em apoiar publicamente essa candidatura, pensando no benefício regional.
Claro, e também vai ter um impacto econômico na região. Inclusive pode derramar um pouco de todo esse turismo que virá ao Rio de Janeiro, por exemplo. Gente do mundo inteiro que vem ver a Copa do Mundo, que faz 20 horas de voo, pode tranquilamente fazer Buenos Aires - Rio de Janeiro, um voo de três horas, para ir a uma das praias mais lindas?

A Argentina se beneficiou do turismo da Copa do Mundo no Brasil?
Os indicadores que temos de 2014 não mostram algo muito destacado nos meses da Copa.

O contrário pode acontecer?
Acho que sim. A Copa é um dos eventos mais importantes do mundo. É uma oportunidade para a região, a ideia é fazer reuniões com as câmaras de Turismo dos quatro países para propor a promoção conjunta dos destinos.

A Argentina está em crise econômica. Quando estavam reformando estádios no Brasil para a Copa, houve protestos. Vocês discutem como um país com cerca de 90% de inflação anual pode propor algo tão a longo prazo?
Para melhorar a macroeconomia, é preciso pensar em projetos de longo prazo. A inflação não diminui magicamente. É verdade que tem um gasto, estamos falando com bancos multilaterais de crédito para financiar as obras que precisam ser feitas, mas minha visão é de desenvolvimento. Mas é um investimento, deixar como legado um país muito melhor do que antes da Copa. O Brasil triplicou a quantidade de turistas na Copa de 2014. Para a Argentina, a renda do turismo está entre as mais importantes e há 16 meses [o setor] lidera a recuperação dos empregos. Imagine o que vão representar 30 dias com sete milhões de pessoas passeando pelo nosso país, pelo Uruguai, pelo Chile. O impacto econômico pode ser enorme.

Uma das candidaturas é de Portugal e Espanha, inclusive com a Ucrânia. Qual a real chance de Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile serem eleitos?
Tenho muita confiança. Eu já tinha e acho que a vitória da Argentina na Copa fortalece a candidatura dos quatro países. O presidente da Conmebol Alejandro Domínguez disse que via a candidatura com muitas chances. Se mostrarmos que temos um projeto que valorize o futebol, podemos mostrar que além de sermos talentosos para exportar jogadores, também podemos ser grandes organizadores de eventos, como já fomos e temos vontade de ser em 2030.