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Técnico discute em coletiva após questão sobre repressão às mulheres no Irã

Português Carlos Queiroz, técnico da seleção iraniana - Mohammad Karamali/DeFodi Images via Getty Images
Português Carlos Queiroz, técnico da seleção iraniana Imagem: Mohammad Karamali/DeFodi Images via Getty Images

Colaboração para o UOL, em Santos (SP)

16/11/2022 09h27

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"Você se sente confortável em representar um país que reprime o direito das mulheres?". A pergunta de um repórter da Sky News durante a coletiva do técnico português Carlos Queiroz, que comanda a seleção iraniana, tornou-se o assunto principal da entrevista concedida ontem (15) pelo treinador dias antes do início da Copa do Mundo do Qatar. O incômodo com a pergunta, aliás, fez o treinador encerrar a coletiva após uma breve discussão com o jornalista.

O questionamento do repórter acontece em meio a inúmeros protestos no Irã e a diversos pedidos para que o país seja excluído da Copa do Mundo.

"Para qual canal você trabalha?", perguntou o técnico de 69 anos, que comandou o Irã nas Copas de 2014, no Brasil, e 2018, na Rússia. "Sky", respondeu o repórter.

"Quanto você me paga para responder a esta pergunta? Você trabalha para uma empresa privada... Quanto você me paga?", insistiu Queiroz. "Fale com seu chefe e no final da Copa do Mundo posso te dar a resposta se você me der uma boa oferta. Obrigado", complementou.

"Você disse que é uma honra", indagou o repórter. "Não, não. Estou dizendo para responder a essa pergunta, não coloque na minha boca palavras que eu não disse. Estou perguntando à sua empresa, quanto você me paga para responder a essa pergunta?", disse Queiroz.

Antes de sair da sala, Carlos Queiroz rebateu o repórter com uma provocação: "Acho que você devia começar a pensar no que aconteceu com os imigrantes no seu país [Inglaterra]. Vá pensar sobre isso".

O que acontece no Irã?

O Irã está enfrentando uma de suas maiores demonstrações de dissidência desde setembro, quando morreu Mahsa Amini, uma iraniana de etnia curda de 22 anos presa pela polícia moral do Irã por supostamente não usar corretamente seu hijab —o véu que cobre os cabelos e o corpo das mulheres muçulmanas.

A revolta pública contra sua morte combinou com uma série de queixas contra o regime iraniano por reprimir as manifestações, que continuaram apesar das recomendações ao judiciário para "não mostrar clemência" aos manifestantes

Vários jogadores da seleção do país expressaram seu apoio a este movimento nas redes sociais, até se recusando a cantar o hino nacional antes dos jogos.

A estrela do time, Sardar Azmoun, expressou apoio às manifestações ao ter denunciado a repressão no Irã com várias mensagens nas redes sociais. Sua conta no Instagram, que tem mais de cinco milhões de seguidores, ficou fora do ar durante vários dias antes.

Fora isso, o país tem sido bastante contestado por ter fechado um acordo para fornecer drones à Rússia na guerra contra a Ucrânia. Autoridades iranianas negam fornecer armas a qualquer lado no conflito.

O principal órgão do futebol da Ucrânia, inclusive, decidiu pedir à Fifa para que o Irã fosse banido do torneio.

O Irã está no Grupo B da Copa do Mundo e faz a sua estreia na competição no dia 21 de novembro, segunda-feira, contra a Inglaterra, às 10h (de Brasília).