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Antony diz que pulou cadáver em favela e afirma: 'Driblava os traficantes'

Antony disputará a Copa do Mundo com a seleção brasileira - Lucas Figueiredo/CBF
Antony disputará a Copa do Mundo com a seleção brasileira Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Do UOL, em São Paulo

16/11/2022 05h52

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O atacante Antony, da seleção brasileira e do Manchester United, revelou que já pulou um cadáver na favela do Inferninho, em Osasco, na infância. O jogador foi convocado pelo técnico Tite e integrará o time do Brasil na Copa do Mundo do Qatar.

"Algumas das coisas que eu vi, só quem já viveu pode entender. Uma vez, na minha caminhada para a escola, quando eu tinha uns 8 ou 9 anos, encontrei um homem deitado no beco. Só que ele não estava se mexendo. Quando me aproximei, percebi que ele estava morto. Na favela, você fica meio anestesiado para algumas situações. Não havia outro caminho a seguir, e eu tinha que ir para a escola. Então, eu só fechei meus olhos e pulei o cadáver", disse Antony em texto publicado no site The Players' Tribune.

"Não estou dizendo isso para parecer que foi difícil. Era apenas a minha realidade. Na verdade, sempre digo que tive muita sorte quando criança, porque, apesar de todas as nossas lutas, recebi um presente do céu. A bola me salvou. É meu amor desde o berço", acrescentou o jogador.

Antony também contou sobre seu início de trajetória no futebol - o irmão mais velho dele o levava para jogar em uma praça todos os dias. O atacante jogava sem chuteiras em uma quadra na favela onde morava.

Na favela, todo mundo joga: crianças, velhos, professores, pedreiros, motoristas de ônibus, traficantes e ladrões. Lá, todo mundo é igual. No tempo do meu pai, era um terrão. Na minha época, era uma quadra de asfalto. No começo, eu jogava descalço, com os pés sangrando. Não tínhamos dinheiro para chuteiras. Eu era pequeno, mas driblava com uma maldade que vinha de Deus. Driblar sempre foi algo dentro de mim. Um instinto natural. E eu não me intimidava. Eu driblava os traficantes. Dava elástico nos bandidos, chapéu nos motoristas de ônibus, canetava os ladrões... Não tava nem aí, não" Antony

O jogador da seleção brasileira ainda falou de seu antigo objetivo (já cumprido) de tirar a família da favela. Quando criança, ele dormia na mesma cama que os pais. A família não tinha dinheiro para comprar uma cama para ele. Antony ainda morava no Inferninho quando marcou um gol pelo São Paulo na final do Paulistão de 2019, vencido pelo Corinthians.

"Se você fala com a mídia, eles sempre perguntam sobre seus sonhos. A Champions League? A Copa do Mundo? A Bola de Ouro? Mas esses não são sonhos. São objetivos. Meu único sonho era tirar meus pais da favela. Não tinha plano B. Eu ia conseguir ou morrer tentando", afirmou.

"Fui da favela para o Ajax e o Manchester United em três anos. As pessoas sempre me perguntam como eu consegui 'virar a chave' tão rapidamente. Para ser sincero, é porque não sinto pressão dentro de campo. Sem medo. Medo? O que é medo? Quando você cresce tendo que pular cadáveres apenas para chegar à escola, você não pode ter medo de nada no futebol. As coisas que eu vi, a maioria dos especialistas em futebol só pode imaginar. Há coisas que marcam e não tem como tirar da cabeça."

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi informado, a 'favela do Inferninho' citada por Antony fica em Osasco, grande São Paulo. O erro já foi corrigido.