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Jogador hétero denuncia preconceito e diz que ficou sem jogar por homofobia

Elyeser Maciel, volante de 32 anos do Santa Cruz - Reprodução/Instagram
Elyeser Maciel, volante de 32 anos do Santa Cruz Imagem: Reprodução/Instagram

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

12/08/2022 09h43

Dois vídeos de 2017 afetaram a carreira do volante Elyeser Maciel, de 32 anos. Atualmente no Santa Cruz, da Série D, o jogador revelou ao podcast 'Nos armários do vestiário', do 'GE', que ficou oito meses sem jogar e que foi recusado por diversos clubes depois que os registros viralizaram devido a um "empecilho": a homofobia.

Isso porque o atleta, que se declara heterossexual, teria ficado "marcado" pelo vídeo em que aparece cantando, de maneira descontraída, uma música sertaneja de Marília Mendonça. As gravações foram enviadas pelo próprio jogador em um grupo de WhatsApp com companheiros de equipe quando defendia o Goiás, e repercutiram quatro anos depois, em 2021.

"Fiquei oito meses sem jogar por causa disso. Cheguei a pensar em jogar de graça, que iria parar de jogar. Toda vez que meu nome aparece em uma negociação, alguém lembra desse vídeo", revelou Elyeser.

"E aí solta um: 'Ah, não vamos trazer o Elyeser porque vai chegar a um determinado momento de clássico e os torcedores rivais, se ganharem da gente, vão pegar esse vídeo?'. Eu cheguei a escutar isso de presidente, de diretor. Então não era pelo lado técnico, era esse o empecilho", acrescentou.

Essa situação aconteceu depois que ele foi anunciado, em fevereiro de 2021, como reforço do Paysandu. Os vídeos do volante cantando repercutiram nas redes sociais cerca de dois meses depois. Em maio, ele acabou sendo afastado e passou a treinar separado dos demais jogadores. Em julho, ele teve seu contrato rescindido.

"[Tudo isso] Por causa de um vídeo. E não vem ao caso se é ou não uma brincadeira", opinou Diogo Pinheiro, empresário do jogador, ao podcast. "O fato é que, pelo vídeo que ele fez, praticamente todas as portas se fecharam no futebol", emendou.

"Eles [dirigentes] não queriam analisar o jogador Elyeser. Isso foi o que mais me chocou. Eles não analisavam, não viam os números dele. Diziam apenas que não contratariam homossexual", afirmou o agente.

Recusa de clubes

Diogo começou a trabalhar com Elyeser em dezembro do ano passado, quando o volante já estava há sete meses sem um clube. De acordo com eles, mais de 50 clubes foram procurados, e os vídeos teriam sido o motivo da recusa da maioria.

"Eu perdi a conta de quantos times, mais de 50. Da Série B foram 17, mesma coisa na Série C, mais alguns clubes da Série D. Fecharam as portas para ele. Inclusive alguns clubes que só jogavam o Estadual. Em praticamente todos a resposta foi a mesma. Essa parte dele fora de campo não viabilizaria a contratação", destacou o empresário.

Elyeser contou que estava quase tudo acertado com um time da Série B, mas a situação mudou quando as gravações apareceram mais uma vez. "Aí o presidente do clube me falou: 'Esquece'. Imagina, todos os clubes fechando a porta, e eu sabendo que tenho qualidade, sabendo que posso ajudar muitos times", comentou.

"Acho que tem muita gente que não está mostrando seu talento por causa de preconceito. Isso tem que parar. Tem espaço para todos", ressaltou o jogador.

A gente já tinha o acordo salarial. Tudo o que faz parte da negociação, inclusive até uma apresentação programada. E aí, quando o presidente desse clube se inteirou do vídeo, ele desistiu da contratação e falou com essas palavras: 'Infelizmente, vou ter que cancelar, porque não posso contratar veado para o meu time. Se eu perder um clássico, a torcida me mata'", revelou Diogo.

Espaço no Santa Cruz

Foi em janeiro deste ano que Elyeser encontrou no Santa Cruz uma nova casa. Mas ele afirmou que teve medo da negociação não ser concretizada quando torcedores do rival Náutico passaram a usar os vídeos como "provocação".

"O Leston Júnior [agora ex-treinador do clube] bateu no peito e não deixou isso acontecer. Essa história do vídeo prejudicou muito. As pessoas julgam por um vídeo, não pelo o que eu apresento em campo? Eu acho que é aí que está o erro. Tem gente que me liga e fala: 'Elyeser, o que você está fazendo na Série D? O que aconteceu?'. Tem gente que não sabe", finalizou o volante.