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Portuguesa busca título da Série A2 em festa: 'Segunda divisão nunca mais'

Jogadores festejam o retorno da Portuguesa para a elite do Paulistão - Rodrigo Corsi/ Agência Paulistão
Jogadores festejam o retorno da Portuguesa para a elite do Paulistão Imagem: Rodrigo Corsi/ Agência Paulistão

Eduardo Nunes

Colaboração para o UOL, em São Paulo

14/04/2022 04h00

A Portuguesa começa hoje (14) a disputa do título da Série A2 contra o São Bento, em Sorocaba (SP), às 19h. É a primeira vez desde o rebaixamento em 2015 que o time vai a campo para uma partida decisiva sem pressão alguma, em clima de festa. Afinal, depois de seis anos de agonia, de tentativas frustradas, o time conseguiu o bilhete para voltar à companhia de seus antigos rivais na elite do Paulistão. Um título da Segundona poderia, então, apenas ratificar um trabalho aliviado.

"O Paulistão é importante demais. Já imaginou encarar Palmeiras, Corinthians, São Paulo e Santos ano que vem? A Portuguesa é muito grande. As pessoas que estavam aqui a faziam pequena. O time, a torcida e a tradição são gigantes e temos que tratar assim. Não podemos nunca mais jogar a Segunda Divisão", afirmou o presidente Antonio Carlos Castanheira, ao UOL Esporte.

O rebaixamento, sete anos atrás, foi decorrência de uma situação financeira calamitosa, acompanhada por descontrole na gestão. Uma longa crise agravada pelo caso Heverton no Brasileirão 2013, quando o time iniciou sua queda livre —da Série B para a C, da C para a D, para a qual já não tem mais vaga.

No âmbito estadual, a Lusa fez campanhas ruins de 2016 e 2019, ficando mais perto de novo descenso do que do retorno à elite. O time ficou em 13º na Série A2 de 2016 e 2017, 12º em 2018 e 11º em 2019. Em 2020 e 2021, o clube chegou às quartas de final, sendo eliminada uma etapa antes da disputa pelo acesso —os finalistas garantem a vaga no Paulistão.

Agora, a Portuguesa enfim completou sua missão. O acesso foi assegurado no sábado passado (9), após duro confronto com o Rio Claro pelas semifinais da Segundona. No primeiro jogo, fora de casa, vitória por 1 a 0. Na volta, no Canindé, empate por 1 a 1. Isso depois de o time ter feito a melhor campanha da primeira fase, com 32 pontos em 15 jogos.

Antonio Carlos Castanheira, presidente da Portuguesa - Rodrigo Corsi/ Agência Paulistão - Rodrigo Corsi/ Agência Paulistão
Antonio Carlos Castanheira, presidente da Portuguesa
Imagem: Rodrigo Corsi/ Agência Paulistão

Um dos fatores que contribuiu para o acesso foi a aposta em continuidade. Nas divisões inferiores, a alta rotatividade nos elencos é praticamente uma norma. Para este ano, a Portuguesa renovou o contrato de seis jogadores que estavam no time em 2021. O goleiro Thomazella, os volantes Marzagão e Tauã, o meia Geovani e os atacantes Cesinha e Caio Mancha, revelado pelo Palmeiras, formam a lista. Além disso, os zagueiros Patrick e João Victor e o lateral esquerdo Marco são da base e estavam na Lusa desde 2020.

"Quando você luta pelo êxito, uma hora vai. A gente tem seis jogadores que estavam no ano passado. Se constrói uma boa base, aliados aos 11, 12 que vieram compor o grupo esse ano. É óbvio que você vai pegar conjunto e estabilidade. Porém, ainda não ganhamos nada, o futebol prega peças", afirmou o presidente Castanheira. "Assumi, em janeiro de 2020, com um plantel montado pela gestão anterior. Até então, a gente só lutava para não cair. Viramos essa chave e passamos a lutar para subir, o que já é um ganho enorme."

Nesse período de amargura na Série A2, um sinal de que a Portuguesa poderia estar em caminho de retomada foi o título da Copa Paulista em 2020. A conquista colocou o time na Série D, torneio que não disputava desde 2017. No entanto, em 2021, após passar como primeira de sua chave, a Lusa caiu no primeiro mata-mata, contra o Caxias, e voltou a ficar ausente de competições nacionais. A trilha de volta passa novamente pela Copa Paulista deste ano.

"É fruto de uma estabilidade. Batemos na trave, perdendo nos pênaltis tanto na Série D quanto na Série A2 de 2021. A estabilidade e a profissionalização foram as mudanças importantes", disse o mandatário.

Desde 2020, a Portuguesa realizou diversos acordos civis e trabalhistas para evitar a penhora de bens e o bloqueio de contas. "Foi um período importante no quesito fora de campo, que deu sustento e tranquilidade para o campo andar. Reorganizamos as finanças, separamos o clube do futebol. Essa nova organização e a estabilidade financeira estão fazendo com que o futebol ande", avaliou. Com o futebol destacado da área social, a Lusa agora estuda a criação de uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol).

Portuguesa, jogo do acesso - Rodrigo Corsi/Agência Paulistão - Rodrigo Corsi/Agência Paulistão
Torcida da Portuguesa compareceu em peso no confronto contra o Rio Claro, na semifinal da Série A2
Imagem: Rodrigo Corsi/Agência Paulistão

Atual temporada

Figura de vasta experiência no futebol paulista, seja como jogador nos anos 80 e 90 ou como dirigente e técnico neste século, Toninho Cecílio foi contratado pela Portuguesa em novembro para ser o executivo de futebol e montar o atual elenco. O comando técnico do time foi transferido, então, de Alex Alves para Sérgio Soares.

"Retornei para essa função sendo convencido pelo presidente, pois vinha sendo treinador até então. É uma função que exige afinidade com o presidente, e senti que teria isso. Tenho uma forma de trabalhar muito contundente. Comecei fazendo o diagnóstico do elenco e da troca da comissão técnica. Meu primeiro ato foi renovar com quem tinha produzido, quem a gente queria que ficasse. Isso é um ato de respeito e isso dissemina para o grupo, mostra que aqui quem produz é reconhecido", apontou Toninho.

Caio Mancha comemora gol pela Portuguesa contra o Primavera - Dorival Rosa | Portuguesa - Dorival Rosa | Portuguesa
Caio Mancha comemora gol pela Portuguesa contra o Primavera
Imagem: Dorival Rosa | Portuguesa

O atacante Luan, ex-Palmeiras, e o lateral direito Luís Ricardo, que era titular da histórica "BarceLusa" em 2011, se juntaram ao grupo, que ganhou casca. Entre os que ficaram, está o atacante Caio Mancha. Formado no Palmeiras, ele é o dono da camisa 9 rubro-verde e marcou três gols na temporada.

"Na montagem, a gente considerava quem estava acostumado com essa pressão. Essas questões eu tinha obrigação de levar em consideração, pois pesam. A capacidade de suportar não era um fator isolado, mas foi considerado. Jogadores que saibam assimilar e render com a torcida, foram coisas que estiveram nas nossas conversas. O mais decisivo era ter atletas alinhados com o futebol atual, de intensidade. Mas experiência, saber lidar com torcida e pressão foram considerados", afirmou.

Afastamento do torcedor

Torcida da Portuguesa na partida fora de casa contra o Rio Claro, na semifinal da A2 - Dorival Rosa | Portuguesa - Dorival Rosa | Portuguesa
Torcida da Portuguesa na partida fora de casa contra o Rio Claro, na semifinal da A2
Imagem: Dorival Rosa | Portuguesa

Os anos de penúria naturalmente afastaram o torcedor do Canindé. O estádio recebeu, em média, apenas 2 mil torcedores aproximadamente na atual Série A2. Esta média acompanha o padrão dos anos anteriores.

A última vez que a casa lusitana esteve cheia foi contra o Vila Nova-GO, pela Série C. No dia 17 de outubro de 2015, a Portuguesa teve, desde o caso Heverton, sua primeira chance de conquistar um acesso. Com promoção de ingressos, 17.282 pagantes foram ao Canindé apoiar, mas saíram frustrados com o revés por 2 a 1 que culminou na eliminação da equipe.

"É fundamental a torcida jogar junto. Fizemos promoções, reuniões... Somos acessíveis para que o torcedor abrace. Nossa organizada está dando show, mas esperava mais do torcedor comum, que ainda não veio para o Canindé. Era para ter ao menos 10 mil torcedores nessa fase que estamos", disse Castanheira.

Próximos passos

A Portuguesa vai retornar à elite do Paulistão, mas sabe que precisa subir muitos degraus para retomar um papel de destaque. No seu último ano de mandato, o presidente Castanheira ressalta as dificuldades encontradas para trilhar o caminho. O dirigente citou exemplos recentes de Guarani e Fortaleza e citou Athletico-PR nos anos 1980 para lembrar que a subida exige mais do que a queda.

"Agora não podemos errar, o lugar da Lusa não é na segunda divisão. Existe uma cobrança da torcida, e eu compreendo. Mas não se muda 15 anos de desleixo em dois anos e meio. Não vamos subir direto da Série D para a A. Contudo, temos que estar buscando sempre o acesso", reforçou o presidente.

Toninho Cecílio também acredita que o sucesso em campo servirá de megafone para exibir o trabalho feito e colaborar para a melhora das receitas:"Era preciso ter muita obsessão para que o acesso viesse. O acesso tem um impacto muito positivo, pois coloca novas receitas. Além disso, essa conquista colabora com a consideração externa de que aqui está sendo feito um bom trabalho. Isso abre portas para parceiros e patrocinadores. Valoriza demais o clube." .