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Herói por acaso: como Ronaldo, Fábio e esposa levaram Jailson ao América

Jogadores do América-MG comemoram após goleiro Jaílson defender pênalti do Barcelona que classificou time mineiro na Libertadores   - RODRIGO BUENDIA/AFP
Jogadores do América-MG comemoram após goleiro Jaílson defender pênalti do Barcelona que classificou time mineiro na Libertadores Imagem: RODRIGO BUENDIA/AFP

Victor Martins

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte (MG)

16/03/2022 12h20

A classificação do América-MG para a fase de grupos da Copa Libertadores tem um nome: Jailson. O goleiro do Coelho foi eleito o melhor jogador em campo nos dois confrontos com o Barcelona, do Equador, pela terceira fase da Copa Libertadores. Em Belo Horizonte, mas principalmente em Guayaquil, Jailson fechou o gol. Defesas difíceis nas duas partidas que terminaram empatadas em 0 a 0 e a defesa no pênalti batido por Lionel Quiñónez, o único da disputa que não terminou em gol. Jailson se tornou um herói para a torcida do América.

Um herói por acaso, já que Jailson defenderia outra camisa em 2022. A ida do goleiro para o CT Lanna Drumond só possível por uma série de coincidências, desde a entrada de Ronaldo no Cruzeiro, uma conversa com esposa Mônica, até a negativa de Fábio, que optou pelo Fluminense ao invés do América.

Do Palmeiras para o Cruzeiro

Jailson foi anunciado como reforço do Cruzeiro em 13 de dezembro do ano passado, exatamente uma semana depois de se despedir do Palmeiras. Após sete anos no clube paulista e oito títulos conquistados, o goleiro não teve o contrato renovado. O acerto com a Raposa foi um pedido de Vanderlei Luxemburgo, então treinador celeste. Com Fábio de titular, Luxa queria um reserva mais experiente, já que as outras opções no elenco cruzeirense eram goleiros mais jovens.

Cinco dias depois de anunciar a contratação de Jailson, o Cruzeiro mudou de dono. Ronaldo se tornou o proprietário de 90% da SAF cruzeirense. Embora ainda não tenha assinado o contrato definitivo de compra, o que pode fazer até 18 de abril, o Fenômeno é quem dá as cartas no futebol do Cruzeiro desde dezembro. O técnico Vanderlei Luxemburgo foi dispensado e todas as contratações feitas foram avaliadas.

Depois de combinar um contrato que seria de uma temporada de duração e cerca de R$ 2 milhões de custo, Jailson foi um dos cortados. O acordo assinado alguns dias antes não valia mais e o goleiro, em questão de poucas semanas, estava sem clube pela segunda vez. Sem ter nem vestido a camisa celeste.

Do Cruzeiro para a aposentadoria

Foi entre o fim de dezembro e o início de janeiro que Jailson se viu como um jogador de futebol aposentado. Aos 40 anos de idade, o goleiro estava sem clube após a dispensa do Cruzeiro, antes mesmo treinar na Toca da Raposa. Apesar da ascensão tardia na carreira, os anos de Palmeiras foram suficientes para o goleiro conseguir uma condição financeira melhor. Àquela altura, dinheiro não era mais um problema para o futuro dele e da família.

Mas uma conversa com a esposa Mônica foi determinante para que Jailson mudasse a decisão de se retirar do futebol. "Dedico essa vitória de hoje à minha esposa. Ela que não deixou eu parar de jogar bola. Eu ia parar este ano, mas ela não deixou, disse que tinha coisa boa para mim. Então, essa classificação eu dedico a você, amor", revelou o goleiro após a classificação do América diante do Barcelona.

Cavichioli operado e negativa de Fábio

Jailson estava de volta ao mercado depois do curto período como aposentado. Era momento de aguardar por alguma proposta interessante. No começo de janeiro, o América-MG não tinha problemas no gol. Matheus Cavichioli era o dono da posição. E com uma história semelhante à de Jailson, já que o dono da camisa 1 do Coelho havia disputado seu primeiro jogo pela Série A do Brasileiro na temporada 2021, aos 34 anos.

Cavichioli foi um dos destaques do América na campanha no Brasileirão. Pela primeira vez o clube garantiu um lugar na Libertadores. Mas o destino foi duro com Cavichioli, pois um problema no coração tirou o goleiro da temporada. Matheus Cavichioli foi operado dia 17 de janeiro, para colocar um cateter no coração para desobstruir uma veia entupida.

O América precisava de um goleiro experiente para disputar pela primeira vez uma competição internacional. Fábio era o nome mais lógico e também era o preferido da diretoria. Livre no mercado, após não ter o vínculo renovado com o Cruzeiro, o goleiro esteve muito próximo de assinar com o Coelho. Tudo caminhava muito bem, tanto que uma reunião na noite de 18 de janeiro estava marcada para acertar os detalhes finais e assinatura do contrato. Foi quando o Fluminense entrou na jogada e levou Fábio para o Rio de Janeiro.

Só então o América voltou suas atenções para Jailson, ainda livre após a dispensa do Cruzeiro. A negociação foi rápida, e no dia 20 de janeiro o goleiro era anunciado nas redes sociais como reforço do Coelho para a Libertadores. Foi tudo por acaso, mas menos de 60 dias depois de assinar o contrato e com apenas seis partidas disputadas, Jailson já se colocou num lugar especial na história do América. Pênaltis defendidos diante do Guaraní, do Paraguai, e do Barcelona, além de uma atuação histórica no Equador.