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OPINIÃO

Mauro Cezar: O negócio futebol fala mais alto que a saúde das pessoas

Do UOL, em São Paulo

09/06/2021 11h30

Os jogadores da seleção brasileira se posicionaram contra a realização da Copa América em um manifesto divulgado em texto nas suas redes sociais logo depois de um jogo das Eliminatórias Sul-Americanas da Copa do Mundo, na vitória por 2 a 0 diante do Paraguai, competição classificatória que não teve o seu formato alterado devido à pandemia, mantendo as 18 rodadas e o sistema de pontos corridos.

Em sua participação no programa UOL News Esporte, com Domitila Becker, Mauro Cezar Pereira critica o silêncio dos atletas em relação aos jogos das Eliminatórias sem a adequação do formato pelo momento de pandemia e ressalta que no futebol o negócio vem antes da preocupação com a saúde.

"Se você não concorda com a Copa América no Brasil, você, no mínimo, tem que questionar as Eliminatórias no formato de 18 datas para cada seleção, viajando pelo continente com o vírus solto. Todas as seleções nas eliminatórias passam no mínimo por dois países sul-americanos a cada data Fifa, é um jogo em casa e um jogo fora. Aí não tem problema, está tudo bem? O vírus só vem na Copa América?", diz Mauro Cezar.

"Não estou aqui a defender a Copa América, estou tentando levar o questionamento adiante, as Eliminatórias também são questionáveis, especialmente da maneira que elas acontecem, com todos contra todos, quando poderiam e deveriam ser disputadas, em um cenário da pandemia, em dois grupos de cinco, oito joguinhos para cada seleção, acabava rápido e livrava logo isso. Por que são 18 datas? Quanto mais jogos, mais visibilidade para os patrocinadores, mais direitos de transmissão, que são vendidos pelas federações e pela Conmebol, o negócio futebol fala mais alto do que a saúde das pessoas e a pandemia", completa.

Outra crítica do jornalista em relação ao manifesto é por não esclarecer os pontos que levam à rejeição da Copa América, o que dá margem para diferentes interpretações, inclusive a de que havia uma insatisfação com o presidente da CBF, Rogério Caboclo, sanada com seu afastamento do cargo enquanto é investigado por uma acusação de assédio.

"Dá pinta, de fato, de que o problema era interno, um problema entre eles e o presidente da CBF, é o que fica parecendo. E como eles não esclarecem, a gente fica aqui tentando entender. Não tenho certeza, obviamente, mas não me surpreenderia se amanhã alguém dissesse 'nós estávamos brigados mesmo com o presidente e tal'. Então não tem nada de questão política, de indignação, porque não faz sentido também", diz Mauro.

"É muito contraditório esse documento, esse manifesto, seja lá o que for esse negócio horroroso que eles fizeram, porque ele não esclarece e não toca nos pontos. E o mais grave, na minha opinião é citar a Conmebol e não citar a CBF, como se o presidente da Conmebol ligasse para o Bolsonaro sem o Caboclo participar e a Copa América vai ser no Brasil", conclui.