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Segredos, revolta e traição: como foram as últimas horas da Superliga

Presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, em assembleia do clube - Divulgação/Real Madrid
Presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, em assembleia do clube Imagem: Divulgação/Real Madrid

Do UOL, em São Paulo

22/04/2021 12h38Atualizada em 23/04/2021 08h50

A Superliga Europeia é um projeto que alguns dirigentes do futebol europeu têm defendido há alguns anos. Com a pandemia do novo coronavírus, alguns deles se uniram para tentar emplacar o projeto no início desta semana. Entretanto, por pressão da Fifa, Uefa, confederações nacionais e de suas próprias torcidas, nove, dos 12 clubes, desistiram do projeto.

Os clubes envolvidos na Superliga foram Atlético de Madri, Barcelona e Real Madrid (Espanha), Internazionale, Juventus e Milan (Itália), Arsenal, Chelsea, Liverpool, Manchester City, Manchester United e Tottenham (Inglaterra). Destes, só Real, Barça e Juve não se desligaram oficialmente, mas aceitaram a derrota.

Na prática, a Superliga seria um torneio continental com a participação de 20 clubes, dos quais 12 (os fundadores) não precisariam se classificar nem seriam rebaixados. A competição faria frente com a Liga dos Campeões e seria controlada por times, não mais por instituições como Fifa e Uefa.

Em cerca de 48 horas, todo o sistema planejado para o torneio bilionário ruiu. Os times ingleses foram os primeiros a saltar do barco, o que foi suficiente para que outros times fizessem o mesmo entre terça-feira (20) e ontem.

Ameaça e traição

Na semana passada, o presidente recém-eleito do Barcelona Joan Laporta comunicou ao presidente da La Liga, Javier Tebas, que os culés certamente se uniriam a outros clubes para a formação da Superliga.

Tebas sentiu a chegada do golpe e se reuniu com presidentes de outras confederações para discutir o caso, segundo o jornal The New York Times.

Quando soube da notícia, o presidente da Uefa, Aleksander Ceferin, ficou desesperado e quase não acreditou, tendo em vista que semanas antes, dirigentes da Juve disseram para ele que as chances do torneio acontecer não passavam de boatos.

Aleksander Ceferin, presidente da Uefa - Harold Cunningham - UEFA/UEFA via Getty Images - Harold Cunningham - UEFA/UEFA via Getty Images
Aleksander Ceferin, presidente da Uefa
Imagem: Harold Cunningham - UEFA/UEFA via Getty Images

Após digerir a notícia, Ceferin decidiu falar diretamente com seu amigo e presidente da Juventus, Andrea Agnelli. O chefe da Uefa não foi atendido. Então resolveu ligar para a mulher de Agnelli e deixar um recado. A estratégia funcionou e o contato aconteceu.

Na nova conversa sobre a Superliga, Agnelli tranquilizou Ceferin e disse que "estava tudo bem" - mentira. Na segunda-feira seguinte (dia 19), na calada da noite, os clubes anunciaram a criação do torneio.

Motivados pela revolta

O principal combustível que impulsionou e também incinerou a Superliga foi a revolta - a começar pelos clubes. Os gigantes e milionários clubes europeus estavam há muito tempo insatisfeitos com a organização da Uefa, especialmente quando se trata da distribuição de renda para clubes menores.

Muitos dos cartolas não achavam justo que "os espetáculos" de seus clubes servissem para alimentar outros times. A partir desse sentimento, eles começaram a pensar em formas de fugir do controle da Uefa, e a Superliga foi uma resposta.

Apesar de ter muito dinheiro envolvido, os 12 clubes ainda tinham um grande problema. A queda de braço pelo poder pendia para o lado das organizações, que possuem poder de multar e banir dirigentes e atletas. Ameaças não faltaram da parte da Uefa e das confederações italiana, inglesa e espanhola.

Junto à força das entidades esportivas europeias também estava a revolta da torcida, principal interessada e a mais esquecida durante o projeto da Superliga. Torcedores dos 12 times protestaram contra o torneio.

O início do fim

Após a péssima repercussão do torneio e dois dias de protestos, a Superliga deu seu suspiro final na manhã de ontem. Atlético, Milan e Inter de Milão saltaram fora do barco e isso desestabilizou tudo ainda mais.

A desistência dos clubes fez a Juventus soltar uma nota informando que aceitou a derrota do projeto, mas que ainda acreditava na ideia. Os presidentes do Real Madrid e do Barcelona também continuaram a defender a Superliga ao longo do dia.

Os fundadores da competição anunciaram que vão remodelar o projeto que pretendiam rivalizar com a Liga dos Campeões.