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Como a covid-19 "travou" a seleção de Tite e explica lista de convocados

Pedro Ivo Almeida e Pedro Lopes

Do UOL, em São Paulo

19/09/2020 04h00

Classificação e Jogos

O ano de 2020 prometia ser de muitos testes e muito trabalho para a seleção brasileira, com rodadas das eliminatórias e uma Copa América. A pandemia do novo coronavírus, entretanto, mudou radicalmente esse cenário, e o novo contexto explica parte das escolhas de Tite e até da convocação de ontem para a estreia nas Eliminatórias.

A seleção que se reúnirá em outubro para começar a caminhada rumo à Copa de 2022 encarará dois jogos decisivos, com quatro ou cinco dias de treino, sem amistosos preparatórios e com atletas que, em sua maioria, não treinam ou atuam juntos desde novembro do ano passado, data do último amistoso diante da Coreia do Sul. É uma situação bem diferente da prevista inicialmente, que previa um 2020 com Copa América e seleção treinando e convivendo por ao menos 30 dias consecutivos.

O tempo de treinamentos e convivência era um aspecto com o qual a comissão técnica contava. A nova realidade dificulta mudanças na forma de jogar e grandes experiências, e, nesse cenário, é natural que Tite pense em mandar a campo um Brasil com missões que saiba executar. Ironicamente, isso ajuda a explicar tanto as maiores ousadias da lista de ontem, como a convocação de Gabriel Menino para a lateral direita, como os exemplos de conservadorismo, exemplificados pela insistência em Coutinho, em má-fase desde que deixou o Liverpool.

O caso de Gabriel foi explicado pelo próprio Tite pouco depois da divulgação da lista. Embora tenha ficado fora da Copa do Mundo por lesão, Daniel Alves foi o principal lateral direito da equipe durante todo o período de comando do treinador - foi, inclusive, eleito o melhor jogador da Copa América no ano passado. O veterano lateral faz uma função diferente dos alas tradicionais, gravitando para o meio para iniciar a construção de jogadas.

"O Gabriel Menino, a função dele ele é um lateral "meio-campista", ele auxilia na articualçaõ, podendo jogar na amplitude ou pouquinho mais aberto. Tem know-how, experiência e formação pra tal. Jogando no meio-campo ou não, são funções similares, usando o exemplo do Daniel Alves", explicou o técnico, que espera que o jovem do Palmeiras possa evoluir em alguém que repita a função de Dani.

Coutinho, por sua vez, foi o meia da seleção durante toda a era Tite. Mesmo em má-fase depois de uma temporada na qual não conseguiu se firmar no Bayern, segue sendo aposta e mantém a sua importância - é um nome de confiança da comissão técnica, e não haverá tempo para experiência.

Mesmo com jogadores consolidados como Neymar, principal astro da seleção, e Marquinhos, pilar defesa, Tite terá que fazer adaptações. Ambos já não atuam, em seus clubes, da mesma forma que costumam atuar pela seleção - o atacante se consolida, cada vez mais, jogando mais centralizado, como o principal criador de jogadas, enquanto o defensor vem sendo utilizado como primeiro volante.

Com pouquissimo tempo para realizar mudanças de estilo ou trabalhar alternativas diferentes, o técnico da seleção indica que irá apostar na versatilidade dos atletas.

"Fazer os ateltas renderem e executarem a função do clube é nosso desafio. O Neymar joga de externo, interno, linha de 4 com dois homens na frente, por dentro, ele vem sendo utilizado de diversas formas. O Marquinhos eu lancei como volante com 17 anos, sei da versatilidade dele, sei que jogou como lateral-direito e joga como zagueiro também. É muito versátil", aposta.

O Brasil deve se apresentar para o início das Eliminatórias no dia 4 de outubro. A estreia será diante da Bolívia, no dia 9 de outubro. Quatro dias depois, em Lima, enfrentará o Peru.