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Neto, mullet e dueto com Tupãzinho: o auge de Fabinho no Corinthians de 90

Fabinho atende torcedores do Corinthians em 1995, ano em que foi campeão da Copa do Brasil e do Paulista - Paulo Bau/Folhapress
Fabinho atende torcedores do Corinthians em 1995, ano em que foi campeão da Copa do Brasil e do Paulista Imagem: Paulo Bau/Folhapress

Diego Salgado

Do UOL, em São Paulo

01/08/2020 11h00

Um dos gols mais importantes da história de 110 anos do Corinthians teve um desfecho dramático, com um carrinho de Tupãzinho. A jogada, porém, começou com primor: um drible seco e um toque em profundidade que abriu espaço na defesa do São Paulo na final do Brasileirão de 1990.

O responsável pela jogada é Fabinho, ponta-direita alvinegro nas duas primeiras conquistas nacionais no clube — além de Campeonato Brasileiro de 30 anos atrás, ele também se sagrou campeão da Copa do Brasil 1995. Um desfecho perfeito para um corintiano que cresceu torcendo pelo time de ouvido colado no rádio de pilha.

Três décadas depois de iniciar o lance do gol histórico de Tupãzinho no Morumbi, Fabinho ainda tem raízes no futebol. E de três formas. Primeiro, na amizade que carrega com alguns ex-companheiros, como Jacenir, o lateral esquerdo daquela conquista. Depois, na figura do filho, Lucas, 22 anos, analista de desempenho do Água Santa.

Por fim, no próprio trabalho. Natural de Santo André, Fabinho segue na cidade do ABC Paulista e de lá busca revelar novos jogadores. Ele é empresário de atletas, ocupação que começou a desempenhar ao lado de Marcelo Djian, também campeão brasileiro em 1990.

"Passei a minha vida toda no futebol, então é difícil ficar fora. Estou recomeçando devagar, bem pé no chão, faço captação, vejo jogos, acompanho o mercado. Quando há um interesse, conversa, vê se tem interesse de trabalhar junto", contou Fabinho em entrevista ao UOL Esporte.

Do Santos ao Corinthians

Fabinho começou na base do Santos e até chegou a disputar alguns amistosos no time profissional, mas logo foi negociado com o Lençoiense, time do interior paulista. Depois, passou ao Novorizontino, onde passou a ser observado pelo Corinthians.

A ida ao clube de Parque São Jorge aconteceu em 1989, na mesma época em que Neto foi contratado. De imediato, um ano antes do título brasileiro, o camisa 10, com mais experiência àquela altura, passou a ser importante também fora de campo.

"Ele me ajudou muito dentro do clube. Ajudou com carinho. Cheguei de um clube pequeno, enquanto ele veio do Palmeiras. Nossa estreia pelo Corinthians foi no mesmo jogo. Ele foi muito companheiro", destacou.

Fabinho 2 - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Fabinho, aos 54 anos, vive em Santo André e ainda tem ligações com o futebol
Imagem: Acervo pessoal

Fabinho jogou com Neto até 1993, quando foi emprestado ao Grêmio. De volta ao Corinthians, em 1995, também foi companheiro de Marcelinho Carioca por uma temporada. No quesito bola parada, segundo o ex-ponta, Neto é incomparável.

"Não vi ninguém igual ao Neto. Vi Nelinho, Zico, Marcelinho, mas como o Neto nunca vi. O índice dele era muito alto. Ele era realmente decisivo, era insuperável. O Neto era muito confiante, até pela personalidade dele. Treinava com os dois [Neto e Marcelinho], para mim o Neto era insuperável, é até hoje. Era mais decisivo numa bola parada", frisou.

A parceria com Tupã

No Corinthians, Fabinho cresceu com o clube. Já habituado ao clube, tornou-se um dos símbolos de raça da equipe treinada por Nelsinho Baptista. Na campanha de 1990, entrou em campo em todos dos 25 jogos do Corinthians no campeonato.

Ele era um dos pontas do time, à direita. Do outro lado, Mauro ocupava a importante função de marcação e apoio ao ataque. Neto e Tupãzinho atuavam com mais liberdade, no esquema montado por Nelsinho.

"Ele era muito inteligente, ganhou o grupo, tinha visão tática, percebeu que era importante jogar dessa forma, dando liberdade para o Neto. Demorou para os adversários perceberem isso. O Neto fez gol de todo jeito, ora Neto, ora Tupã. Os pontas tinham função, marcar lateral, fechar para o meio", relembrou.

No ataque, Fabinho viu Tupãzinho se tornar um parceiro, como aconteceu no gol do título brasileiro. A sintonia era tamanha que até os cabelos eram parecidos, os chamados mullets, com uma concentração de fios na nuca, no melhor estilo anos 1980.

"Ele copiou o estilo. Chegou depois, me copiou [risos]. Tupã muito gente fina, irmão que ganhei. Era Washington e Assis [dupla de ataque do Fluminense na década de 1980] e, no Corinthians, Tupã e Fabinho. Ele driblava, ia para cima. O cabelo era moda e virou superstição, se cortasse, perdia a força", brincou.

"Título de 1990 mudou o Corinthians"

Mesmo com a boa campanha no Brasileirão de 1990, o Corinthians ainda era um clube sem estrutura. Por vezes, de acordo com Fabinho, o time tinha de treinar no ginásio do Parque São Jorge (ou até mesmo os jardins do clube) a fim de economizar o gramado da Fazendinha. Essas condições, porém, ajudaram a fortalecer o elenco.

"Quando fomos acreditando que era possível ser campeão, a gente cresceu. O time era muito forte psicologicamente. Era forte para aguentar porrada. Era um time que poucos falavam. Nenhum jogador de seleção, não tinha lobby", afirmou Fabinho, que fez 25 gols com a camisa corintiana e disputou 258 jogos pelo clube de coração.

Para o ex-ponta, o título brasileiro de 1990 mudou a história do Corinthians, que desde então conquistou mais seis vezes o Brasileirão, além da Libertadores e dos Mundiais.

"Foi um divisor de águas. A partir dali a situação mudou, o torcedor corintiano era mais sofredor. As pessoas chamavam o Corinthians de time regional. Passou a ser um clube com mais ambição, ao lado da torcida que tem", finalizou Fabinho.

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