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Gauchão suspenso atinge pequenos e deixa R$ 900 mil 'sem destino'

O Caxias foi campeão do primeiro turno do Gauchão. Campeonato pode não terminar - Pedro H. Tesch/AGIF
O Caxias foi campeão do primeiro turno do Gauchão. Campeonato pode não terminar Imagem: Pedro H. Tesch/AGIF

Jeremias Wernek e Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

17/03/2020 04h00

A paralisação do Campeonato Gaúcho atinge diretamente os clubes do interior, considerados pequenos. Com contratos definidos pelo período do estadual, sem renda de jogos decisivos e diminuição da possibilidade de negócios com investidores, as equipes reclamam da decisão desta segunda-feira (16), que suspendeu a competição por duas semanas. E com futuro incerto, o Gauchão deixa R$ 900 mil sem destino.

A verba se refere à premiação do torneio. As cotas de televisão são divididas independente do posicionamento de cada time.

Inter e Grêmio ficam com cerca de R$ 13 milhões, R$ 1,5 milhão são pagos a Juventude e Brasil de Pelotas, e R$ 750 mil para os demais clubes. Porém, o campeão do interior leva R$ 300 mil, e os seis times do interior mais bem colocados recebem R$ 100 mil cada.

Nos bastidores, a crença é quase geral em relação ao fim do Gauchão 2020 sem complemento das rodadas e fases restantes. Assim, sem conclusão em campo, a divisão da premiação vai ter que ser debatida entre os dirigentes.

"Temos que evoluir esta situação. O presidente Luciano [Hocsman, da Federação Gaúcha de Futebol] disse que depende muito da CBF, ela é soberana no calendário. Se tiver alguma alternativa de encaixe, podemos fazer. Se não tiver, alguém precisará se manifestar. A CBF é que vai conduzir isso. Não podemos tomar uma decisão, mas é uma grande questão, temos que agir com serenidade, pensar na população", disse Gilmar Schneider, presidente do Pelotas, ao UOL Esporte.

Os problemas para os clubes menores se sobrepõem. Muitos contratos são feitos com limite na data estabelecida para o fim do Estadual. Até porque a maioria dos clubes não tem competições nacionais no calendário no segundo semestre e, com isso, o orçamento cai. Desta forma, caso o Gauchão seja "esticado", seria necessário prorrogar vínculos, aumentando os gastos ao longo da temporada.

Outra situação que pesa é a falta de renda das partidas. O Pelotas, por exemplo, teria pela frente o clássico contra o Brasil de Pelotas. Sem a renda de uma partida que fatalmente encheria o estádio, o clube vê problemas.

"É uma tragédia do ponto de vista financeiro. Vamos ter que achar uma solução, por mais difícil que seja. O Bra-Pel nos daria condições de honrar os compromissos. Agora eu já não sei mais", completou Schneider. "Temos que ver o aspecto financeiro, esta situação é inevitável. Vamos tentar minimizar o prejuízo. E temos que debater com o Sindicato dos Atletas essas situações de contrato. Tudo precisa ser debatido", acrescentou Walter Dall Zotto Jr., presidente do Juventude.

Campeão do primeiro turno da competição, outro que "perde dinheiro" é o Caxias. O clube tinha a perspectiva de ao menos mais uma grande renda em seu estádio, a decisão absoluta do torneio — que ocorreria caso ele não conquistasse o returno também. Não ter essa verba desagradou a equipe, que defendeu a sequência na competição.

"Esses 15 dias vão servir para a gente construir um cenário. São vários pontos que precisam ser esclarecidos, resolvidos", disse Ronaldo Vieira, presidente do Aimoré.

Ainda nesta semana, a FGF vai formar um gabinete de crise para gerir a situação do campeonato. O grupo de trabalho também irá analisar o cenário envolvendo os clubes da divisão de acesso, a segunda divisão estadual.