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Uendel tem herança colorada e pode realizar sonho da família no Brasileiro

Lateral esquerdo Uendel acompanhado pelo pai, Osni, em jogo do Internacional - Ricardo Duarte/Inter
Lateral esquerdo Uendel acompanhado pelo pai, Osni, em jogo do Internacional Imagem: Ricardo Duarte/Inter

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

13/09/2018 04h00

Muita gente conhece Uendel pelo que o lateral fez no Corinthians. Alguns lembram da passagem pela Ponte Preta, o início no Avaí ou os meses escanteado no Grêmio. Mas o que poucos sabem é que no fundo do peito sempre bateu um coração colorado. Por herança do pai, seu Osni, hoje com 64 anos, antes mesmo de vestir a camisa do Criciúma nas categorias de base o lateral-esquerdo de 29 anos fardava-se de vermelho e branco.

"Foi a primeira camisa que eu tive", contou o jogador, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte. O pai é torcedor fanático do Colorado (na foto ao lado). Frequentava o Beira-Rio no setor mais barato, a "coreia", correspondente da geral em outros estádios. Acompanhou de perto os títulos do Brasileiro dos anos 1970.

Seu Osni, pai do lateral Uendel, empunha bandeira do Inter nos anos 1970 - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

"Ele me conta que acompanhou o tricampeonato invicto, era fã do Falcão, do Valdomiro, que é de Criciúma (Uendel e a família também são catarinenses). Sempre foi o time da minha família", revelou.

Por isso, a alegria maior até então foi ver o filho com a camisa do Inter. O que pesou até na escolha de deixar o Corinthians no início de 2017, de onde vinha de uma temporada como titular, para apostar na reconstrução do Inter iniciada na Série B. Agora os sonhos estão atualizados e podem até vir no fim do ano com título Brasileiro.

Eleito por Odair Hellmann como 'Fundamental ao grupo e peça-chave no crescimento de Iago", o lateral falou sobre a participação também na arrancada de Arana no Corinthians, a assistência no Gre-Nal e os planos para o futuro. Confira a entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

UOL: Uma das coisas que chamaram atenção na entrevista coletiva do Odair (Hellmann, técnico do Inter) após o Gre-Nal é que ele disse: "Eu tenho certeza que o crescimento do Iago só aconteceu por conta do Uendel". E isso também ocorreu no Corinthians, com você participando do crescimento do Arana. Como você vê este trabalho fora de campo, jogando ou não?
Uendel
: A gente procura passar experiência no dia a dia. Sabemos que o jogo é a ponta do iceberg. O dia a dia é que sustenta tudo. Ali procuramos passar o que aprendemos na carreira. Eu e o Iago estamos sempre juntos, em todos os trabalhos. Procuro passar uma dica ou outra, mas o mérito é todo dele em absorver não só o que eu falo, mas todos os líderes como D'Alessandro, Dourado, Edenílson... Ele é um cara que absorve muito rápido, e desde o ano passado vemos a franca evolução dele. Ele era a terceira opção, antes tinha o Carlinhos, e sempre aprendendo. Um cara muito aberto a todo tipo de conhecimento. Muitos viam ele como uma aposta, mas nós já sabíamos que era um jogador com tudo para fazer o que está fazendo. É talvez um dos melhores laterais-esquerdos do campeonato e é tudo mérito dele, ajudamos nos mínimos detalhes.

UOL: Como foi com Arana?
Uendel
: Foi um pouco parecido. O Arana também chegou bem novo no elenco, até mais que o Iago, e os laterais eram eu e o Fábio Santos. Ele ficou um ano todo, como o Iago, jogando pouco mas sempre trabalhando junto, o que é importante para quem vem da base. Chegar no elenco e ter uma experiência de concentrar, viajar ainda sem estar jogando. Ter este período é importante, seria bom que todos tivessem isso para quando entrar estarem prontos, não ter tanta coisa nova em um ano só. Foi importante para o Arana e para o Iago também.

Jogadores do Internacional comemoram gol de Edenilson sobre o Grêmio - Ricardo Duarte/Internacional - Ricardo Duarte/Internacional
Imagem: Ricardo Duarte/Internacional

UOL: Comparando Arana (hoje no Sevilla, da Espanha) e Iago, qual você diria que tem mais potencial, são semelhantes?
Uendel
: São jogadores diferentes. O Arana é um cara mais de imposição física, não é aquele potente e rápido, é de força e toque curto, boa chegada na área. O Iago é um monstro fisicamente, um lateral super veloz, que não perde corrida para ninguém, é o mais rápido do elenco, que tem mais explosão, um fenômeno fisicamente, e demonstra isso nos jogos. São diferentes, mas a mentalidade dos dois é bem parecida. Dois jogadores centrados, com gana de conhecer e aprender. Isso é muito parecido entre eles, dois grandes laterais que têm muito futuro pela frente.

UOL: Você ficou muito tempo sem jogar no Inter. Até o Gre-Nal, tinha jogado apenas em maio, e disputou poucas partidas na temporada. Como é saber lidar com isso agora, vindo de tantos anos como titular dos times que defendeu?
Uendel
: O principal é o mental. Saber lidar bem com a parte mental é uma coisa que se consegue levar bem. O futebol é um esporte coletivo, mas muitas vezes é individualizado também. Às vezes quem não está jogando pode pensar que não é importante, ouvir críticas... Mas tem que estar tranquilo. No futebol só jogam 11, se pudesse jogar 30 seria muito mais fácil. Mas todos são importantes. Tem um frase da nossa direção que fala bem sobre o nosso time: o nosso craque é o elenco. Não se consegue pensar em um jogador principal, cada um tem seu dia de importância. Foi o Camilo, que não vinha jogando tanto, o Pottker, o Nico... O período fora faz parte do futebol. Eu machuquei no primeiro jogo do Gauchão, voltei e com dez dias, machuquei de novo. Fiquei praticamente todo Gauchão fora, e o Iago estava preparado, aproveitou a chance. Ninguém avisou que ele seria titular, mas assumiu a posição com maestria. Cada um tem seu momento, e vamos dar apoio, suporte, nos preparar para fazer uma boa sombra para sempre instigar ele (Iago) a melhorar. Isso acontece em todas as posições. Tem Zeca e Fabiano na direita, nas pontas com Rossi, Nico, Lucca, Pottker, todos têm sua importância.

UOL: E você voltou e deu assistência para o gol do Edenílson (veja o vídeo) no Gre-Nal...
Uendel
: É um lance que é pré-determinado, fazemos muito nos treinos pré-jogo. Acho que vocês da imprensa nunca veem porque os treinos são fechados. Mas no treino sem adversário, o cruzamento sempre procura o volante do lado contrário que vai infiltrar na área sempre entre o zagueiro e o lateral. Foi o que aconteceu. Quando eu recebi a bola, sabia que teria essa infiltração, como com cruzamento da direita é o Patrick que infiltra no lado oposto. Mérito do Edenílson, que conseguiu prever onde o lance iria terminar e concluiu muito bem. Depois de um tempo fora, você fica com um pouco de receio sobre como vai ser o jogo, se vai aguentar 90 minutos, 60, 45... Porque muito tempo fora é difícil de acompanhar quem vem jogando. Mas foi um dia especial, primeiro por ter entrado com meus dois filhos em campo, Gael, de 20 dias, e Bella, de um ano e meio. Ainda mais em um clássico, uma atmosfera que envolve a partida, tudo fica amplificado. E ainda conseguir ajudar, dar assistência, na saída a torcida gritando seu nome em reconhecimento, é muito especial.

UOL: Quando você veio para o Inter (início de 2017) tinha terminado uma temporada como titular do Corinthians. Vivia em um time que estava em boa fase, disputando títulos e chegou para começar uma reconstrução na Série B. Por que a opção de vir?
Uendel: Foi uma série de fatores. Pelo clube... Quando eu estava no Corinthians, minha ideia não era sair, tinha mais dois anos de contrato. Mas veio a proposta do Inter. E minha família é toda colorada, da minha esposa também. É próximo das nossas cidades (Uendel é de Sombrio-SC, a esposa de Ermo-SC), isso tudo pesa, mas principalmente jogar no time que meu pai sempre torceu. Tivemos uma conversa com a direção, me falaram de tudo que o clube pretendia na reconstrução. E foi de encontro com o meu momento, o que eu imaginava para mim como jogador. Fiquei feliz que me deram esta confiança.

UOL: Então sua história com o Inter é mais antiga, imagino quando você foi jogar no Grêmio deve ter dado problema em casa...
Uendel
: Até foi tranquilo. Mas meu pai é apaixonado por futebol, tem uma coleção de mil camisas, todas que eu troco levo para ele. A do Grêmio foi a única que ele não fez questão de guardar. Ele é colorado fanático. Vinha ao estádio na década de 70, acompanhou o tricampeonato invicto do Inter (1979). Talvez tenha sido a maior alegria da vida dele eu vir jogar no Inter. Ele não tem um jogo especial, mas contava que vinha na época da "coreia", onde era mais barato. Sempre vinha, acompanhava os jogos, gostava do Falcão, do Valdomiro, que é de Criciúma, gostava muito dele. Lá em casa é cheio de quadros do Inter, minhas primeiras camisas foram do Inter.

UOL: Se conquistar o Brasileiro então...
Uendel
: Acho que vai ser mais do que especial para ele, não consigo nem imaginar isso. Ele acompanhou de perto o tricampeonato, e ter um filho jogando no Inter e conquistando título brasileiro realmente seria fantástico.

UOL: Você está bem adaptado à cidade, ao clube, mas durante o período sem jogar se ouviu muitas possibilidades de saída... Cruzeiro, Flamengo... Você realmente pensou em se transferir?
Uendel
: Eu estou super adaptado. A proximidade com nossas cidades facilitou muito. Viemos para cá, minha esposa estava grávida de oito meses, nossas famílias estão sempre aqui. Isso foi uma das coisas que pesou, poder criar os filhos perto da família. Com duas crianças em casa, não conseguimos aproveitar muito da cidade, hoje no tempo livre tenho é que ajudar. É bastante puxado, mas estamos curtindo bastante. Nossos dois filhos são gaúchos, falo isso com muito orgulho. Eu nunca pensei em sair do Inter. Sondagens sempre acontecem, o pessoal vem procurar saber informações quando sabem que você não está jogando. Mas eu sempre deixei claro que minha situação é de ficar aqui. Estou com 29 anos, daqui a um mês faço 30, tenho mais um ano e meio de contrato e meu objetivo é estender essa ligação. Para isso tem que jogar bem, ganhar títulos, e este é meu objetivo no Inter. Ser campeão, ajudar minha equipe a conquistar o máximo possível, ficar o maior tempo possível no clube da minha família, onde sempre fui muito bem recebido. Nunca passou pela minha cabeça sair, tenho respaldo da diretoria, da comissão técnica... Se sentisse o contrário, talvez pensasse em sair, mas não tem porque sair do Inter.