Abel desafia "poder jovem" e tem no Flu raro status de intocável no Brasil
Em um futebol recheado de clichês e verdades absolutas, Abel Braga desafia a lógica ao derrubar alguns temas recorrentes nas discussões entre torcedores e analistas.
De um tempo pra cá, a palavra da ordem é "renovar" os bancos de reservas. O tal rejuvenescimento fortaleceu nomes como Zé Ricardo, Jair Ventura, Roger e Fabio Carille, que despontam nesta nova cena. Resistente ao tempo, Abel, no entanto, é a prova de que o trabalho independe da idade.
Em um clube sem recurso algum para investir, o técnico goza de um status de intocável que talvez só o gremista Renato tenha. No Flu, só uma catástrofe o tira do comando até o fim da gestão de Pedro Abad.
Além de fazer uma boa limonada com poucos limões, Abel tornou-se uma espécie de porta-voz em um clube dividido por uma guerra interna. De salários atrasados às disputas por poder, ele surge como uma espécie de pacificador no Fluminense, e exerce o papel de rara unanimidade nestes dias confusos do Tricolor.
"Fico me perguntando qual o nosso rumo. Você não pode achar que a resposta tem de ser dada só no campo. Tem de ter segurança em quem te comanda. É um momento difícil. Vamos ver até onde vamos chegar", desabafou ele.
A longevidade no cargo também subverte a lógica vigente. Entre todos os comandantes da Série A, o tricolor só perde em tempo de permanência para Renato, o americano Enderson Moreira e o cruzeirense Mano Menezes. A estabilidade garantiu a ele a marca de ser o segundo treinador que mais dirigiu o clube (320 jogos) em seus 115 anos de história. À frente do carioca, apenas Zezé Moreira (497 partidas).
A 5ª colocação no Campeonato Brasileiro surpreende até os tricolores mais fanáticos, mas o discurso do técnico é 100% encampado pelos seus comandados. Fiel ao estilo "super sincero", ele tem a confiança irrestrita de seus jogadores, desafio dos grandes no dia a dia de qualquer clube de futebol. Em pouco tempo e com poucas peças, transformou um desacreditado Fluminense em uma equipe que vem chamando a atenção. Sem nomes badalados como Scarpa, Cavalieri e Dourado, Abel encontrou as soluções com jogadores sem o mesmo cartaz.
"Eles (jogadores) estão botando uma alma impressionante. Nós somos uma equipe humilde, mas não vão ganhar com sobra da gente. Botafogo e Corinthians não ganharam sobrando", analisou Abel.
Vivendo raros dias de paz dentro de campo, o Flu festeja a vitória (e a atuação do time) por 2 a 0 sobre o Atlético-PR. Além do triunfo e do salto na tabela, os tricolores celebram mais uma semana livre de treinos, já que a equipe só volta a campo no sábado, quando recebe a Chapecoense, às 16h, no Maracanã.
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