Há dois anos, Leicester viveu um conto de fadas. Hoje, voltou à realidade
Cinco mil libras (R$ 23 mil na cotação atual) recebidas para cada libra investida. Quem apostou no Leicester como campeão inglês na temporada 2016 ainda mal acredita em como Cláudio Ranieri, Jamie Vardy, Ryad Mahrez e companhia “quebraram a banca”. Em um dos resultados mais improváveis da história do futebol mundial, o clube transformou um conto de fadas em realidade. Hoje, porém, o cenário é outro.
Sem o treinador italiano, mas ainda com Vardy e Mahrez no elenco e como destaques, o Leicester não conseguiu se sustentar como um clube de elite. Apesar de o poder de investimento ter crescido com a conquista do Campeonato Inglês, o clube localizado na região centro-leste da Inglaterra voltou a conviver mais com a parte baixa da tabela. Brigar com Chelsea, Manchester City e Manchester United ficou no passado.
Na primeira temporada após o título, o Leicester estendeu o “conto de fadas” para a Liga dos Campeões ao parar apenas nas quartas de final para o Atlético de Madri. A nível local, todavia, os resultados mágicos sumiram, os reforços milionários não emplacaram e a crise se instalou.
Para se sustentar como uma equipe de elite após o título, a diretoria trouxe nomes como o nigeriano Ahmed Musa, o francês Nampalys Mendy (até então tratado como substituto de N’Golo Kanté), o goleiro alemão Ron-Robert Zieler, o polonês Bartosz Kapustka e o argelino Islam Slimani, contratação mais cara da história do clube (R$ 108 milhões).
Nenhum dos nomes que chegariam para agregar uma base campeã, contudo, deu certo. Tanto que todos os atletas citados logo acima deixaram o clube nas duas últimas temporadas. Musa (CSKA), Slimani (Newcastle), Mendy (Nice), Kapustka (Freiburg) foram emprestados, mas ainda pertencem ao campeão inglês de 2016.
Sem o mesmo rendimento, a crise tomou proporções gigantes em fevereiro de 2017. Apenas a um ponto da zona de rebaixamento, a diretoria demitiu Cláudio Ranieri, em decisão duramente criticada por nomes como Gary Lineker (um dos maiores atacantes da história da Inglaterra) e José Mourinho. O próprio italiano não escondeu a mágoa com a saída meses depois da conquista inédita.
Sem o comandante da improvável campanha vitoriosa, o Leicester cresceu de rendimento e finalizou o Campeonato Inglês na 12ª posição, pior campanha de um defensor de título na história. O choque de realidade veio rápido e se mantém na atual temporada.
Mais regular em comparação ao “ano da ressaca”, o Leicester soma 44 pontos depois de 35 partidas. O ainda time de Mahrez e Vardy vive má fase e não vence desde 31 de março: são quatro jogos de jejum. Restam mais três compromissos, dois como mandante no King Power Stadium, para 2018 não se encerrar de maneira frustrante.
Individualmente, destaques se sustentam; Kanté “sobra”
Se coletivamente o Leicester não foi mais o mesmo, individualmente os destaques daquela conquista se sustentam na elite do futebol europeu, pelo menos em nível de seleções. O maior exemplo é N’Golo Kanté, titular absoluto do Chelsea de Antonio Conte e da seleção francesa.
Jamie Vardy, embora sem os mesmos números impressionantes de 2016, quando anotou gols em 11 jogos seguidos, é presença praticamente certa no time da Inglaterra para a Copa do Mundo. O camisa 9 anotou 17 gols no Inglês e ocupa a quinta colocação na tabela de artilheiros. Ainda no setor mais ofensivo, Okazaki também deve estar na Rússia em junho pelo Japão.
Outro a trocar o Leicester pelo Chelsea, o meio-campista Danny Drinkwater também briga por uma vaga no grupo de Gareth Southgate. Em Londres, o camisa 4 na campanha do título de 2016 ainda briga por espaço.
Sem a Copa do Mundo na mira, já que a Argélia fracassou nas eliminatórias, Mahrez constantemente ainda vê o próprio nome envolvido em especulações. O meia argelino segue como maior garçom do clube e soma oito assistências (é o décimo em todo o campeonato); o africano ainda anotou dez gols na Premier League.
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