'Sonho de garoto': Aos 51 anos, presidente de time faz 1º gol como jogador
O clichê diz que “pênalti é tão importante que deveria ser batido pelo presidente do time”. Mas o pênalti convertido por Anelísio Machado, presidente do Fluminense de Joinville na Série C do Campeonato Catarinense, não foi um clichê. Aliás, bem longe disso.
Foi o primeiro gol de Anelísio como profissional. Aos 51 anos de idade.
Foi o segundo gol da vitória por 2 a 0 do Fluminense contra o Imbituba, pela segunda rodada do primeiro turno da Série C do Catarinense. Com o resultado, o clube tricolor do bairro do Itaum chegou a seis pontos em duas partidas, dividindo a liderança com Curitibanos e Itajaí.
O gol coroou a trajetória curiosa de Anelísio no futebol. “O sonho do futebol vem de criança, de sete ou oito anos. Mas nunca tive condição de estar em uma escolinha. Tentei uma escolinha para ir para o Joinville, mas quem não era centroavante ia embora. Estudava e jogava na várzea. Com 17, fiz meu primeiro campeonato (amador). Tive aquele ano, mas o estudo atrapalhava muito e eu fazia só torneios pequenos. Aos 22, estourei o joelho e parei com o futebol. Acabei casando e só jogava casado contra solteiro”, brincou Anelísio, em entrevista ao UOL Esporte
O retorno de Anelísio ao futebol amador só veio aos 33 anos. Aos 38, disputava novamente jogos de futebol amador em Joinville, ao mesmo tempo em que trabalha como dirigentes de equipes (inclusive no futsal) e como diretor de uma faculdade local.
Até que chegou 2014. O Fluminense do Itaum não havia disputado nem jogos amadores no ano anterior, mas decidiu entrar na Série C do Campeonato Catarinense como profissional. Na formação do elenco, o clube apostou em jovens jogadores saídos das escolinhas de Joinville e Caxias-SC. E Anelísio vislumbrou a chance para, enfim, atuar como jogador profissional de futebol.
A estreia em profissional veio naquele ano, sempre entrando no final dos jogos. Em 2015, quase veio o primeiro gol. “Em uma cobrança de falta, acertei o travessão”, lamentou.
O gol não saiu naquela vez. Mas saiu. Em 16 de junho de 2016.
Pênalti para o Fluminense (e para Anelísio)
O Fluminense vencia o Imbituba por 1 a 0 quando Anelísio começou a se aquecer no fim do jogo. Quando ia entrar, aos 37 min do segundo tempo, a árbitra Tainan Bordignon Somensi assinalou um pênalti. O técnico Raffaele Graniti não teve dúvidas: mandou Anelísio a campo e determinou que ele batesse o pênalti.
“Na hora que deu o pênalti, eu estava aquecendo havia 15 minutos. Foi favorável. Foi coisa de Deus mesmo”, explicou o presidente. Na cobrança, bateu rasteiro, de pé direito, no canto direito do goleiro, que foi para o outro canto. Antes mesmo de a bola entrar, o camisa 20 já corria e levantava os braços para celebrar o primeiro gol profissional, aos 51 anos.
“(Na hora da cobrança), olhei fixo para os pés do goleiro, com muita consciência do que ia fazer. Bati com tranquilidade e consciência de que podia fazer. Antes mesmo de fazer o gol, agradeci a Deus pela oportunidade. Você está ali, dentro da Arena Joinville, e mesmo com um público de 200 pessoas, a alegria foi imensurável. A gente pensa em comemorar de um jeito e comemora de outro. A gente fica meio ‘cego’, como diz o outro”, contou.
“Não dá para narrar a alegria disso. O sonho de garoto foi realizado de jogar profissionalmente. Depois, de presidir um clube que a gente torce para dar certo. Aí, de você conseguir entrar em campo, o jogo só 1 a 0, e se você perde (o pênalti) complica a equipe. O treinador me chamou, porque ele sabe que a gente treina”, completou.
Embora seja um clube bastante tradicional no cenário municipal, o Fluminense – fundado em 1948 – ainda tem planos modestos. Para Anelísio, tão importante quanto os bons resultados em campo é a mensagem passada aos jovens jogadores para “o caminho do futebol inteligente, honesto, educado”.
“Eu sou diretor da faculdade em Joinville. A educação está na veia. Abandonei o futebol pelo estudo, e graças ao estudo, sobra tempo e um pouco de recurso para o esporte”, diz Anelísio, que não pensa em pendurar as chuteiras tão cedo.
“Isso faz tão bem para mim, para minha vida. Enquanto deixarem correr com essa molecada, vou estar correndo. Participo dos treinos - isso é saudavel, me faz bem. Enquanto puder estar 30%, 50%... Faz bem”, afirmou o jogador-presidente do clube do bairro do Itaum.
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