Exclusivo: Prass revela lado investidor e diz como viu filho pegar pênalti
Fernando Prass aponta para o lado, salta, estica-se e toca a bola. O goleiro, assim, escreve mais um capítulo da sua história no Palmeiras. A sequência de cenas descritas tornou-se um hábito nos últimos meses. Com a camisa 1 do clube alviverde, ele já defendeu 11 pênaltis. E, de tanto repetir a façanha, virou exemplo para o próprio filho.
Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Prass relembrou o dia em que flagrou Caio, de oito anos, imitá-lo, com sucesso, em uma decisão por pênaltis na escolinha de futebol. Assistiu, dessa forma, ao filme da própria vida. Com quase a mesma idade, ele descobriu a vocação para ser goleiro. Uma defesa de pênalti, depois, o levou para o Grêmio, no começo da década de 1990.
O goleiro ainda lembrou as referências na carreira e revelou ser fã de Ayrton Senna, pelo fato de o ex-piloto agregar talento à vontade. Prass não se omitiu nem mesmo ao dar opiniões sobre política e economia -- o jogador revelou o lado investidor. O camisa 1 mostrou preocupação com o atual momento do Brasil e disse achar justo o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Na época que eu era mais jovem não tinha esse aparato todo que hoje em dia tem, de nutricionista, fisiologista, a suplementação. Quando você é mais jovem, é solteiro, come em qualquer lugar, come sanduíche, como lanche, toma refrigerante. Com o passar do tempo você começa a perceber que se quiser ter uma vida mais longa no esporte é preciso se privar de algumas coisas. Algumas pessoas falam que uns deram sorte por jogar por muito tempo, falam que tem genética boa. Nada é por acaso. Pode pegar o cara com a melhor genética que não vai conseguir se manter em alto nível.
Tenho um problema com doce, adoro doce. Já controlei bastante, diminuí pela metade. Mas é importante comer refeições com menos gordura, menos fritura. Bom evitar essas coisas, pois influi diretamente no meu desempenho dentro de campo.
Toda torcida é carente de ídolos, o país é carente de ídolos. O esporte é sempre uma referência para a população, em formação de opinião, de caráter, exemplo e conduta. O Palmeiras passou por momentos difíceis e obviamente que a torcida sofre com isso. Hoje em dia com essa volatilidade do mercado é difícil criar uma identificação com o clube porque as trocas são muito rápidas. Então um dos passos para ter um reconhecimento da torcida é ficar bastante tempo no clube.
Eu não gosto de falar, não me sinto cômodo. Sei que a torcida tem um carinho muito grande. Mas eu paro para pensar em ídolos. A palavra ídolo muita vezes virou corriqueira. As pessoas estão usando de uma forma muito superficial. Se for comparar aqui no Palmeiras: Marcos é ídolo, o Velloso, Ademir da Guia, o Leão. É complicado se comparar a pessoas desse tipo. Eu sei que a torcida tem um carinho grande por mim.
Esporadicamente converso com ele. Por telefone, quando ele vem aqui na Academia. Logo que cheguei aqui conversei bastante com ele. Nesses momentos decisivos também. Ele entende o que a gente passa e trocamos uma ideia de vez em quando. Ele ligou, mandou mensagem para parabenizar pela conquista (da Copa do Brasil).
Foi o pior momento. Foi uma agressão física, mas não cheguei a pensar em ir embora, Ficou nítido que não era para mim a agressão. Fui uma vítima ali, estava tentando ajudar o Valdivia para evitar a agressão. Acabou sobrando uma xícara para mim. A gente fica triste porque eu estava chegando no clube e acontece uma situação dessa. Mas nunca pensei em ir embora.
Faz parte. Eu errei, o Rafa errou, o Lucas Lima errou. Na outra final o Marquinhos Gabriel errou. É normal acontecer isso em uma decisão por pênaltis. Agora tem que ter consciência tranquila que foi trabalhado e que tem condições de bater. Até hoje bati três e fiz dois. Errei em um jogo importantíssimo. Mas assimilo muito bem, tranquilamente.
Se precisar e eu for um dos melhores batedores, sim. Eu sou jogador do Palmeiras. Eu defendo as cores do Palmeiras. Eu não posso ser covarde ao ponto de querer me proteger, de não assumir o risco de errar. É uma covardia com o clube Posso bater, acertar, errar, mas uma coisa que tenho certeza que nunca vou fazer é me omitir. Não ficaria com a consciência tranquila.
Ano passado tiveram muitas decisões de pênaltis. Essa é a diferença. Esse ano já foram duas, no ano anterior teve Corinthians, Santos, Santos outra vez, Fluminense. É um número grande. Isso aumenta a probabilidade de fazer defesas.
Sempre, não. Depende do jogo. Sábado e domingo à tarde eles vão. Meio de semana à noite, jogo tarde, eles não vão. Eles têm de estudar, tem escola. Ficam em casa descansando (Prass tem dois filhos: os gêmeos Caio e Helena e é casado com Letícia, com quem namora desde 1997).
Vão fazer nove agora.
Já, mas foi vetado lá em casa.
Minha esposa não deixa. Ela falou que não leva ele na escolinha quando ele leva a luva. Na linha pode. Quando eu levo, ele carrega a luva. Aí ele pode jogar um pouquinho no gol. Ela não deixa por causa do sofrimento que ela passa. Da tensão que tem na profissão de goleiro. Ela prefere que ele seja meio-campo.
Ele comemorou bastante a Copa do Brasil. Fui na escolinha dele depois, no fim eles treinam pênaltis. Eu fiquei no carro olhando. Um menino foi bater um pênalti e ele ficou apontando para defender (como Prass faz). Cheio de marra.
Defendeu (risos).
Nossa, muito aperto. Eu ganhava R$ 1.800. Fiquei cinco meses lá e recebi um mês e meio de salário. Fiquei os cinco meses. Pagava passagem para minha esposa (namorada na época) me ver todo mês. ela morava em Porto Alegre. Tinha uma casa que era alugada por eles, a comida era na república, mas teve uma hora que cortaram a comida. O dinheiro que eu ganhava era basicamente para pagar passagem, telefone e me alimentar. Não tinha muito mais que isso. O clube não tinha estrutura nenhuma. Tinha de ir para o treino a pé, dava 30 minutos. São dificuldades que muita gente passa ainda. Eu me privei de muita coisa. eu pensava: 'se for para ficar no futebol para ficar nessa situação, eu paro de jogar. Vou estudar, vou trabalhar'. Coloquei na minha cabeça que tinha que ir atrás de coisas melhores. E consegui gradativamente, indo para times melhores.
Nestes últimos tempos não tem como passar batido. A cobertura era total. O jogador se obriga a ouvir e comentar. Bom seria se se interessasse durante todo processo, em anos eleitorais. As pessoas se interessam só na crise. Quando o calo aperta. Quando o calo dos outros aperta, não se dá atenção. Falta muita consciência política e social. Não só do jogador, mas da população brasileira que na minha opinião é omissa, é corrupta, porque é impensável: se têm os corruptos, têm os corruptores. É um reflexo da sociedade brasileira os políticos de hoje em dia.
Agora teve essa mudança. Se falava muito que era necessária essa mudança da presidente para mudar o cenário de otimismo dos investidores de fora. Se espera agora que o novo presidente, a nova equipe tome novas medidas que realmente deem impulso na economia. Medidas realmente efetivas para retomar o crescimento econômico do Brasil. A gente está na expectativa. Não é do dia para noite. Muita gente achava que era só a Dilma sair que as coisas iam melhorar. Não é assim. É a longo prazo. Tomara que melhore, a situação está afetando muita gente, desemprego e até questão de serviços básicos. No Rio, a saúde está precária. A previdência social está com um rombo absurdo. Não tem como sustentar, a conta não fecha. Tem de mudar muita coisa. O mundo e a Europa passaram por isso. E fizeram mudanças. É impensável que o Brasil ficaria imune a isso. Com atraso vai ter de seguir a medidas que se tomam no resto do mundo.
Achei justo. Por tudo que foi demonstrado, acho que sim.
Eu sou jogador de futebol, não tive formação nenhuma. Tenho amigos, pessoas e empresas de confiança que conhecem mais o mercado e os bons investimentos. Mas eu gosto de entender as coisas. Quando vou investir, não deixo nas mãos da pessoa que está lidando. Procuro entender, questionar. Sou um cara muito precavido. Tenho sempre o pé atras. Se me oferecem uma coisa muito boa, eu desconfio, sou mais conservador. Sou chato, questionador. Sei superficialmente, mas tenho noção do que está acontecendo.
É cedo, no ano que vem já dá para começar a pensar. Agora é muito cedo.
Sim, se puder traçar um plano, com certeza.
O Buffon é um desses. Tem a minha idade, parece que vai jogar a Copa de 2018. Ele marcou uma geração, vai entrar para a história como um dos melhores da história. Se pudesse montar o goleiro perfeito, seria uma combinação com o Neuer. Por isso gosto de ver os dois. Tem o Hart do Manchester City também. Acho ele sensacional. cada um tem suas particularidades técnicas.
Eu não me acho injustiçado. Os goleiros que estão são muito bons. Óbvio que meu sonho era ter uma chance, vestir a camisa da seleção. Mas não dá para esconder que com a idade mais avançada é mais difícil. Mas há algumas exceções: o Ricardo Oliveira mesmo aos 36 anos foi convocado porque vive um momento bom. Vai muito da confiança e da avaliação do treinador. Respeito todas a opiniões.
Tem de saber usar, tem o lado positivo e negativo. Nos momentos de derrota o torcedor xinga e tem gente que responde em rede social. Isso não entra na minha cabeça. Rede social é para passar informação sua para a torcida. Claro, de vez em quando interage com público. Tem de ter o equilíbrio de saber usar essa ferramenta a seu favor, para que ela não crie problema para você.
Todo mundo vira repórter. Esse rapaz mesmo que disse que eu estava machucado e ficaria fora do Brasileiro. Qualquer dá notícia na rede social e vira verdade porque o torcedor acredita, tem um alcance muito grande. Tem de ter muito cuidado com isso para ter credibilidade na hora de usar.
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