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DVD, shopping e 'panelinha': como mulheres de boleiros se viram na China

Juliana Alencar

Do UOL, em São Paulo

28/01/2016 06h00

Uma conversa rápida por telefone com a mulher de Vágner Love ajudou a "tranquilizar" a esposa de Renato Augusto após a transferência do meia para o futebol chinês. Recém-casada e com planos de ter um filho com o ex-atleta do Corinthians, ela queria colher o máximo de informações sobre o país oriental, sua nova casa pelos próximos dois anos. Terminou a ligação segura de que vai tirar de letra. O dragão chinês não é o bicho de sete cabeças que costumam pintar. E elas têm suas táticas para se virarem em uma nação de cultura bem diferente.

A troca de figurinhas é algo em comum entre mulheres de atletas que abandonam o Brasil rumo à China. E é fácil entender o porquê. Se para os jogadores a mudança para um país com uma cultura tão distinta não costuma ser tão traumática graças à rotina de treinos e partidas, para a família deles o impacto acaba sendo mais perceptível. Abertamente, no entanto, elas preferem minimizar a dificuldade de adaptação ao estilo de vida chinês. 

"Hoje já se encontra até feijão no supermercado", exemplifica Linda Martins, mulher de Diego Tardelli, atacante do Shandong Luneng, desmitificando um assunto controverso do país: a gastronomia local.

Há um ano na China, a empresária faz questão de ajudar a derrubar alguns mitos sobre o país. Mas ela mesma reconhece algumas mudanças de hábito com a ida da família para a pequena Jinan, onde o clube de marido está sediado. "Lá, estamos bem caseiros. A família fica mais unida quando se mora longe assim", admite.

Umas principais diversões da família é assistir a séries em DVD.  Por causa do regime político, serviços de vídeo em streaming como o Netflix são proibidos lá.  

Panelinha brasileira

Mulher de Aloisio, destaque do Shandong, Carol Maçaneiro fala como uma entusiasta da vida na China. Vivendo no país há dois anos, ela tem ajudado voluntariamente as mulheres de outros boleiros que chegam ao país. A mulher do argentino Montillo, que atuou no futebol brasileiro, é uma das que ficou mais próxima com a mudança para o país.

Ela nega que os chineses sejam difíceis de lidar. Mas admite que é inevitável que se forme "panelinha" fora e nos bastidores dos clubes. "Como a cultura chinesa é muito diferente da nossa e a comunicação é difícil por conta do idioma, acabamos nos relacionando mais entre nós", explica Carol. "Mas isso não impede que a gente faça amizade com os chineses, que são sempre muito gentis e educados conosco".

Hoje, são 31 brasileiros jogando no futebol chinês. Só no Shandong, são cinco: além de Aloisio e Tardelli, Jucilei, Junior Urso e o recém-contratado Gil, ex-Corinthians, estão no time comandado por Mano Menezes.  "Brasileiro quando está longe de casa se ajuda muito. Estamos todas no mesmo barco", justifica Linda.

Disney e compras

Assim, fica mais fácil até driblar problemas mais comuns de adaptação.  Exceções à parte, o consenso é que o idioma é, na verdade, o único "inimigo" difícil de lidar. "O mais complicado mesmo é mesmo a língua. Em Jinan, a cidade onde moramos, pouquíssimas pessoas falam inglês. Nas cidades maiores, como Xangai e Pequim, melhora muito. Mas no geral usamos a linguagem universal, fazendo gestos", explica a mulher de Tardelli. 

É em Pequim que Fernanda Klarner, mulher de Renato Augusto, vai morar na temporada chinesa do ex-corintiano. O Beijing Guoan também será casa de outro ex-corintiano, Ralf. O atleta também levará parte da família para ajudá-lo na adaptação.  

Para quem vai para uma cidade menos cosmopolita, o que resta é se preparar para a vida nova. Mulher de Jadson, reforço do Tianjing Songjiang na temporada, se mudará para China só no início da temporada, em março. Até lá, Renata Silva prepara os filhos do casal para viver no novo país. E conta que vai levar dois funcionários brasileiros para ajudá-la.

Apesar de alertar sobre as diferenças culturais, elas põem abaixo a imagem de que vive "ilhada" num país totalmente fechado, uma herança do regime comunista que o país viveu por anos. "Há shoppings e lugares de lazer",  observa a esposa de Boi Bandido, que também elogia as opções de turismo no país. Já Linda comemora a chegada de um parque na Disney em Xangai: "É uma cidade linda, tem muita coisa para fazer lá".