Topo

Diferenças entre Bauza e Osorio explicam por que só um quis Lugano no SP

Guilherme Palenzuela

Do UOL, em São Paulo

22/01/2016 06h00

Fundamental para o retorno de Diego Lugano ao São Paulo ao dar o aval para a diretoria que o zagueiro poderia ser utilizado, o técnico argentino Edgardo Bauza não foi o primeiro treinador que teve a chance de definir a contratação do uruguaio. Antes dele, o colombiano Juan Carlos Osorio também teve oportunidade e não quis.

Na ocasião, Osorio tomou um avião e embarcou ao Paraguai para conversar com Lugano, então no Cerro Porteño. Os motivos do veto a Lugano foram futebolísticos: Osorio entende que em seu estilo de futebol, extremamente ofensivo, com pressão muito alta sobre o adversário e apenas um volante à frente da zaga, Lugano, aos 35 anos, sofreria – tal relato foi feito ao UOL Esporte, com detalhes táticos, por quem trabalhou com Osorio no São Paulo e discutiu o veto a Lugano.

Na última quarta-feira (20) Edgardo Bauza estreou com vitória pelo São Paulo em amistoso contra o Cerro Porteño e mostrou não só o estilo de futebol que irá praticar, mas também as razões táticas – opostas às de Osorio – que lhe deixam confortável para jogar com Lugano.

Zaga protegida

bauza1 - Reprodução/Sportv - Reprodução/Sportv
Imagem: Reprodução/Sportv

O 4-2-3-1 de Bauza, mostrado na imagem, coloca dois volantes em linha – Thiago Mendes e Hudson – imediatamente à frente da zaga quando o time não tem a bola. E a questão não é só numérica: Bauza trabalha com menos espaço entre as linhas e maior compactação no processo defensivo, sem bola, o que faz com que a dupla de zaga esteja sempre mais protegida e com menos espaço para cobrir – tal ideia, é claro, tem compensação negativa no processo ofensivo.

osorio1 - Reprodução/PremiereFC - Reprodução/PremiereFC
Imagem: Reprodução/PremiereFC

No exemplo acima, Osorio usa o 4-3-3, esquema que mais usou, no empate por 1 a 1 contra o Palmeiras, no Morumbi, em 27 de setembro de 2015. Apenas um volante – Thiago Mendes – à frente da zaga, que sofre mais quando vê um lateral deixar a linha para adiantar a marcação, como no exemplo.  Nesse esquema, Lugano teria de cobrir área maior e estaria muito menos protegido do que no 4-2-3-1 de Bauza.

Menos pressão

bauza2 - Reprodução/Sportv - Reprodução/Sportv
Imagem: Reprodução/Sportv

A compactação das linhas que faz, com Bauza, os volantes estarem mais próximos aos zagueiros, é reflexo do que o time faz no campo ofensivo quando está sem a bola. Na imagem acima, a zaga do Cerro Porteño sai jogando e encontra espaço para trocar passes mais curtos. Em vez de pressionar em cima e diminuir espaços imediatos, como fazia com Osorio, o São Paulo de Bauza faz menos pressão e se fecha, mantendo o desenho do 4-2-3-1 e fechando espaços.

osorio2 - Reprodução/PremiereFC - Reprodução/PremiereFC
Imagem: Reprodução/PremiereFC

Osorio nunca escondeu e sempre cultivou a altíssima pressão no campo adversário. Com o colombiano, o São Paulo marcava intensamente a saída de bola do adversário. Tal estratégia compromete o começo das jogadas adversárias e provoca erros, mas também abre mais espaços no resto do campo e amplia o espaço entre as linhas de defesa, meio e ataque – processo oposto ao pregado por Bauza. Dessa forma, o zagueiro se distancia mais do volante e precisa ser mais rápido para acompanhar o movimento coletivo e agir em caso de erros.

Desenho preservado

bauza3 - Reprodução/Sportv - Reprodução/Sportv
Imagem: Reprodução/Sportv

O mesmo se vê em exemplos de marcação na saída de bola do goleiro adversário. Com Bauza, o centroavante – Alan Kardec – não pressiona e acompanha o movimento coletivo do 4-2-3-1.

osorio3 - Reprodução/PremiereFC - Reprodução/PremiereFC
Imagem: Reprodução/PremiereFC

Com Osorio, a maior pressão na saída de bola faz com que o desenho do 4-3-3 se desmanche em meio à marcação adversária. Quando o homem mais à frente – Rogério – avança para tentar atrapalhar Fernando Prass, Paulo Henrique Ganso deixa a linha formada ao lado de Carlinhos, à frente de Thiago Mendes, para completar o espaço vazio no meio de campo. O reflexo de tal processo é a abertura de espaços entre as linhas são-paulinas no campo.