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Ex-jogador mais odiado admite violência e envergonhou pai com cusparada

Cleisson (dir.) disputa bola com Amaral em Flamengo x Corinthians em 1999 - Rosane Marinho/Folhapress
Cleisson (dir.) disputa bola com Amaral em Flamengo x Corinthians em 1999 Imagem: Rosane Marinho/Folhapress

José Ricardo Leite e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

24/10/2014 06h00

Cleisson Edson Assunção era daqueles garotos humildes que sonhavam em ser jogador para garantir um futuro bem melhor a si e toda a família. Para isso, usava ousadia, rapidez e muita vontade em busca do maior objetivo do futebol; marcar o gol. Com essas características, foi revelado no clube mineiro Santa Tereza, como um atacante.

Depois de se destacar na base da equipe, chamou a atenção do gigante Cruzeiro e lá ganhou títulos importantes no profissional, sempre como homem de frente. Duas Copas do Brasil, três Estaduais e uma Libertadores. Até que Cleisson foi para o Flamengo, em 1997, e partir dali seu futebol mudaria. Desde a posição até a reputação e um estigma negativo.

“Quando fui para o Flamengo, naquela época os clubes cariocas não treinavam tanto. O pessoal de São Paulo treinava mais. Eu corria, tinha muita força física. E ninguém estava marcando. Aí o Paulo Autuori falou´Cleisson, tem como você fazer a de segundo volante?´. Eu disse ´faço sim, Paulo´. Aí comecei a jogar como segundo volante. Eu dava muita porrada. Passei então a jogar fixo nessa posição”, lembrou, em entrevista ao UOL Esporte.

Como ele mesmo admite, Cleisson passou a ser um jogador marcado pela virilidade e violência em campo. Era muito comum ver durante suas passagens por Flamengo, Grêmio e Atlético-MG entradas duras e inúmeras discussões em campo com rivais que se cansavam de levar pancadas.  

“Realmente, de vez em quando eu vejo alguns vídeos aqui e fiquei muito marcado por isso. Eu olho e falo ´não acredito que fiz isso´. Às vezes eu confundia as coisas”, declarou. “Nessa época encontrei o Felipão uma vez no aeroporto e ele disse que falava pros jogadores do time dele tomarem cuidado porque eu não aliava. Eu era um cara que chegava junto, daí o pessoal foi falando e ficou difícil para tirar aquilo (imagem de violento)”, recordou.


Cleisson lembra que foi eleito até o jogador mais odiado do Brasil em enquete com os jogadores feita pela revista Placar naquela época. E a explicação do ex-volante para as entradas duras é que a origem humilde e de buscar tudo com muito esforço às vezes o faziam extrapolar.

“Na minha época só tinha craque, caras como Edmundo, Romário, Sávio, Bebeto...e em uma edição da Placar o título foi ´Cleisson, o jogador mais odiado´do Brasil. Eu era violento, mas sabia jogar”, falou.

“Eu não me arrependo de nada, porque eu era firme e nunca quebrei a perna de ninguém, nunca machuquei nenhum jogador seriamente. Eu chegava firme porque era meu jeito de jogar. Eu era de família humilde e doido para ajudar minha família no futebol. Meu pai sempre falou ´Cleisson, trabalhe duro porque o meio do futebol é algo difícil´. Então eu tinha que fazer algo diferente. Não era o craque, mas tinha que mostrar disposição.”

Se diz não se arrepender das pancadas, um outro episódio, no entanto, envergonha o ex-jogador. E muito por também levar constrangimento a seu pai, que sempre lhe pediu inspiração. Em um jogo das quartas de final da Taça Libertadores de 2000, entre Atlético-MG e Corinthians, Cleisson se desentendeu com o ex-zagueiro e hoje técnico Adilson Batista. Depois de discussões quentes o jogo todo, Cleisson cuspiu na cara do rival. As câmeras flagraram o momento, e o jogador recebeu uma enxurrada de críticas.

“Teve uma falta e o Adilson fez uma sacanagem comigo na barreira. No impulso, eu virei e dei um soco nele. Depois, em outro lance, ele xingou minha mãe e meu pai e aí eu cuspi nele. Realmente cuspi nele. Naquele época eu errei, nada justifica isso. Me arrependi muito. Meu pai reprovou na época e disse ´que isso meu filho, isso não, dividir uma bola é uma coisa, mas cuspir não. Não foi essa educação que eu te dei´”, recordou.


Como ironia do destino, Cleisson foi ser comandado por Adilson Batista, já técnico, no Sport, em 2005. Foi a oportunidade para pedir desculpas pelo que fez. “Depois a gente conversou sobre isso, eu me arrependo. Ele foi ser treinador no Sport, olha como é o destino. A gente lembrou disso e depois dávamos risada. Morávamos perto um do outro e ele me dava até carona. Ele falou comigo ´o que passou, passou, não tem nada a ver uma coisa com a outra´. Ele já tinha me desculpado”, declarou, aliviado.

Hoje com 42 anos, Cleisson mora em Fortaleza e vive das rendas adquiridas dos tempos de jogador de futebol. Tentou ser treinador, mas não gostou da profissão. Conta que soube guardar dinheiro por conta dos conselhos que recebeu de um ex-jogador que era conhecido por suas polêmicas: Renato Gaúcho.

“Graças a Deus tenho uma boa condição. Ele me abençoou e guardei todas as minhas economias daquele época. Quando era jovem, no Cruzeiro, o Renato Gaúcho chegou pra mim e falou ´guarda sempre 50% do dinheiro que você guardar. Invista em terras e imóveis´. E graças a Deus fiz isso e deu certo”, finalizou.