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Profissional de Fifa treina oito horas por dia e não se diverte com o game

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

11/09/2014 06h00

Virar profissional do videogame é o sonho da maioria dos jovens. Seria a maneira ideal de cumprir o ditado do filósofo chinês Confúcio: “Faça do que ama seu trabalho e nunca mais terá de trabalhar um dia na sua vida”. Quem cumpriu o sonho, porém, sabe que a verdade por trás do título “gamer profissional” está um pouco longe de todo esse universo.

Quem conta isso é Marcus Gonçalves, o Chikorita. Ele é profissional de FIFA World, a versão gratuita da série Fifa, criada para colocar o game no mundo dos e-Sports (mais detalhes aqui). É membro de uma equipe profissional de Caxias do Sul e recebe para jogar o mais popular game de futebol do planeta.

Mas admite:“Já não me divirto tanto jogando Fifa quanto com os outros games. Não que não seja um jogo divertido, muito pelo contrário... Mas você acaba se tornando muito exigente, joga com uma pressão enorme, mesmo que aquela partida em especial não conte nada. É difícil jogar Fifa apenas para diversão. Hoje em dia, prefiro outras coisas pra me distrair e relaxar”.

O motivo para isso é a rotina que um gamer profissional tem de seguir para se destacar. Não basta passar horas em frente ao computador (o FIFA World é exclusivo para PCs), jogando até que alguém grite: “Sabe há quanto tempo você está fazendo isso?” Chikorita chega a treinar oito horas por dia. E só metade desse tempo envolve bola rolando. “Metade do tempo é análise dos jogos. Eu assisto com um caderno ao lado. Anoto os pontos que preciso melhorar, analisando as minhas partidas. E é tudo manuscrito, mesmo. Não coloco nada no computador”, conta o gamer.

Teoricamente atraente, a carreira de gamer de futebol ainda não é a mais rentável do mundo. A EA Sports no Brasil apoia torneios com premiação total de R$ 3.200,00 (ESL Oppen Ladder FIFA World, em pontos corridos, com duas divisões) ou R$ 5.000,00 (Liga Gamewise de FIFA World). Pouco se comparado às estrelas do gênero, como o League of Legends – que tem até campeonato mundial, com premiação de US$ 1 milhão para o time campeão.

Mesmo assim, o futebol virtual já virou uma alternativa viável. Chikorita, por exemplo, é aluno de ciências contábeis na Universidade Federal de Santa Catarina. Ele calcula ganhos de R$ 6 mil com toda a série Fifa – envolvendo torneios presenciais e antes da chegada do FIFA World. Sua renda aumentou em março, quando foi contratado pela equipe Cyber Games. Além disso, faz vídeos de análise para uma empresa sobre o jogo, garantindo renda extra.

Não se intimidou? O caminho para se tornar profissional não é complicado. Existem sites que organizam campeonatos constantemente. É só achar um deles, participar e descobrir se você tem futuro. “Eu comecei disputando torneios em casas de games, mesmo. Em Florianópolis, com prêmios de R$ 100, R$ 200. Muitas vezes, você precisa usar o prêmio na loja mesmo”, conta Chikorita.