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Torcidas árabes e argentina fizeram caldeirão no Qatar; europeus se calaram

Jogadores de Marrocos festejam gol sobre a Bélgica em frente sua torcida na Copa do Mundo - Elsa/Getty Images
Jogadores de Marrocos festejam gol sobre a Bélgica em frente sua torcida na Copa do Mundo Imagem: Elsa/Getty Images

Do UOL, em Doha (Qatar)

19/12/2022 04h00

Classificação e Jogos

As mãos balançando no ar, cânticos com referência a batalhas vencidas e perdidas entoadas do primeiro ao último minuto. Bandeiras com nomes de comunidades e ídolos do passado. Festa, riso e choro: existe uma forma muito argentina de torcer, e ela foi o grande destaque das arquibancadas da Copa do Qatar.

Em uma edição com menor presença de europeus, que parecem ter boicotado o Mundial em uma sede tão controversa, coube às torcidas sul-americanas e árabes o papel de energizar os estádios qataris. A participação histórica do Marrocos, por exemplo, foi impulsionada por milhares de africanos que voaram em cima da hora a Doha para empurrar o time contra a França.

Ao longo da Copa, os repórteres do UOL Esporte* saíram da tribuna de imprensa para assistir aos jogos junto das torcidas e agora fazem um balanço da participação delas no Qatar:

As melhores torcidas da Copa do Qatar

Argentina

Os argentinos cruzaram o planeta para levar um clima de Libertadores à Copa. Torcedores organizados e comuns se uniram para "alentar" a Scaloneta e levá-la à conquista de "la tercera". Passaram do ponto contra a Croácia, ao quebrar assentos do estádio Lusail, mas se redimiram na final, o jogo mais dramático da história das Copas, do qual eles participaram ativamente. A música "Muchachos" grudou no cérebro de muita gente (inclusive dos brasileiros).

Marrocos

A primeira seleção africana a chegar à semifinal da Copa teve torcida à altura: apaixonada, festiva e barulhenta durante os 90 minutos de seus sete jogos. Contra a França, a multidão que invadiu o Al Bayt cantou o hino nacional como se estivessem na batalha de independência contra os antigos colonizadores.

Arábia Saudita

Saudita - Khaled Desouki/AFP - Khaled Desouki/AFP
Atletas da Arábia Saudita cantam hino nacional, antes do jogo começar contra o México
Imagem: Khaled Desouki/AFP

Em 22 de novembro de 2022, a Copa viu uma das maiores zebras de sua história, e o mundo descobriu a paixão dos sauditas por sua seleção. Quando a Arábia Saudita venceu de virada a Argentina em uma tarde quente no Lusail, as arquibancadas explodiram em tons verdes e brancos. A invasão saudita foi facilitada por razões geográficas: o país é o único que faz fronteira com o Qatar.

México

A torcida mexicana invadiu a Copa como nunca, mas sua seleção passou vergonha como sempre. Se há um torcedor que não merece o time que tem, esse é o mexicano. Com sombreros, máscaras de lucha libre e maquiagem do Dia de Los Muertos, eles foram onipresentes nas ruas de Doha nas primeiras semanas. Mas a seleção também morreu, já na fase de grupos.

Tunísia

Assim como os marroquinos, os tunisianos se sentiram em casa no Qatar e viajaram com a família inteira: pais, mães e filhos. Contra a França, comemoraram muito quando um torcedor invadiu o gramado com a bandeira da Palestina — a causa palestina uniu os árabes dentro e fora de campo.

Japão

Que os japoneses limpavam os estádios depois dos jogos nós já sabíamos. Mas nessa Copa descobrimos que eles também torcem com entusiasmo. Nos jogos dos "Samurais Azuis" um grupo pequeno, mas potente, fazia seus cânticos serem ouvidos em todos os cantos dos estádios.

Senegal

Senegal - Anadolu Agency/Anadolu Agency via Getty Images - Anadolu Agency/Anadolu Agency via Getty Images
Torcida de Senegal fez muito barulho na partida contra o Equador, no estádio Internacional Khalifa
Imagem: Anadolu Agency/Anadolu Agency via Getty Images

Na Copa mais conservadora dos últimos anos, a Fifa proibiu os torcedores de tirar a camisa nos estádios, mas os senegaleses fizeram ouvidos moucos. Sete deles pintaram os corpos e formaram as letras do nome do país, uma tradição da torcida. Com batuques, danças e fantasias, os senegaleses fizeram um carnaval africano nas arquibancadas do Qatar.

Irã

Vivendo sob um clima de terror em casa, os persas que viajaram ao Qatar festejaram sua seleção, mas não esqueceram o contexto político de seu país. Ergueram bandeiras e cartazes pedindo mais liberdade e desafiando o veto da Fifa a manifestações políticas na Copa. Os iranianos, e particularmente as mulheres, sofreram com a repressão de apoiadores do regime, que vieram a Doha para vigiá-los e tentar reprimir os protestos.

As torcidas mais 'mais ou menos' da Copa do Qatar

Equador

Depois de não se classificarem à Rússia, os equatorianos voltaram à Copa e fizeram barulho na primeira semana. Foram os primeiros a se insurgir coletivamente contra a proibição de bebida alcoólica. No intervalo da abertura, contra o Qatar, entoaram o grito de "Queremos cerveja", entalado na garganta da maioria dos visitantes.

Brasil

Turbinada com reforços da Índia, do Paquistão e de Bangladesh, a torcida brasileira foi maioria nos estádios e nas ruas de Doha, o que levou alguns comentaristas a usarem a expressão "mar amarelo" para se referir aos brasileiros e simpatizantes. Mas a quantidade de cabeças se tornou potência sonora durante poucos momentos dos jogos, inflamados pelos pequenos grupos organizados que apoiam o time. Na maior parte do tempo, a torcida brasileira mais assistiu do que torceu.

Qatar

Qatar - Diego Garcia/UOL - Diego Garcia/UOL
Torcida organizada do Qatar cantou durante todo o jogo contra o Equador
Imagem: Diego Garcia/UOL

Não se esperava muito da torcida do Qatar, mas a presença de um grupo barulhento e organizado chamou a atenção logo na abertura, contra o Equador. Com canções e coreografias de torcida organizada, os qataris surpreenderam a imprensa internacional logo de cara. Será que eles gostam tanto assim de futebol? Mais tarde, descobrimos que os "torcedores do Qatar" na verdade eram um grupo de árabes de países como o Líbano, convocados a Doha para apoiar a seleção local.

Croácia

A torcida da Croácia veio ao Qatar em maior número do que a de países mais ricos da Europa e foi importante na caminhada de sua seleção, que atingiu a semifinal pela segunda Copa consecutiva. Ao eliminar o Brasil nas quartas, alguns croatas foram vistos tirando sarro dos brasileiros na saída do estádio Cidade da Educação.

As piores torcidas da Copa do Qatar

França

Nunca um estádio de Copa esteve tão silencioso quanto o Al Janoub em França x Austrália na estreia das duas seleções pelo Grupo D. Nem a goleada dos franceses foi capaz de empolgar a torcida azul, que veio em quantidade modesta ao Qatar. Apenas o coro do hino "La Marsellesa" e as bandeiras tricolores agitadas mecanicamente denunciavam a presença dos franceses. Na final ontem, eles foram atropelados pelos argentinos e só cantaram mais alto quando Mbappé empatou o jogo no final do segundo tempo.

Inglaterra

A criatividade e o bom humor inglês ficaram em Londres, em Liverpool ou em Manchester... Ao Qatar, vieram os torcedores que preferiram cantar apenas o nome do país durante os momentos de maior necessidade. A Fifa também não ajudou: sem poder beber cerveja, nem usar suas tradicionais fantasias de cavaleiros medievais, os ingleses não devem ter se sentido à vontade em Doha.

Suíça

O que são alguns pontinhos vermelhos no meio de um estádio de futebol? Depende. Se eles estiverem inertes e em silêncio, certamente são torcedores da Suíça. Assim como a maioria das torcidas europeias (com exceção talvez dos galeses, que voltaram à Copa depois de 64 anos), os suíços se comportaram no estádio como se estivessem em uma conferência sobre a crise econômica mundial no escritório da ONU, em Genebra.

Estados Unidos

Não participaram de metade das edições da Copa, nunca passaram das semifinais e mesmo assim cantaram "O nome certo é soccer" na partida contra a Inglaterra, país que inventou o futebol.

* Colaboraram Rodrigo Mattos e Diego Garcia, em Doha.