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Diogo Defante deixou de ser baterista emo pra virar repórter doidão na Copa

Diogo Defante como baterista emo e como o repórter doidão da Copa com o corte "Ronaldo Invertido" - Reprodução
Diogo Defante como baterista emo e como o repórter doidão da Copa com o corte "Ronaldo Invertido" Imagem: Reprodução

Do UOL, em Doha (Qatar)

12/12/2022 04h00

Classificação e Jogos

O atacante Richarlison não estava preparado. Ele esperou uma vida inteira para jogar uma Copa do Mundo, sonhou com cada momento, ensaiou cada passo, mas não imaginava ouvir a pergunta - aquela pergunta —, depois de fazer um gol nas oitavas-de-final.

"O Brasil todo conhece o Pombo", começou o repórter, com um turbante amarelo. "E a rolinha... tem como mostrar pra mim?"

O repórter riu, e Richarlison riu junto, um pouco constrangido. A pergunta inesperada foi transmitida ao vivo na live da CazéTV, que alcançou naquele dia 5,2 milhões de pessoas na Twitch. Vídeos feitos a partir dela começaram a circular no YouTube, no Twitter, no Instagram e nos grupos de WhatsApp. E o repórter que empunhava o microfone, o humorista carioca Diogo Defante, entrou mais uma vez na lista dos assuntos mais comentados na internet.

Essa tem sido a rotina de Defante na Copa: entradas ao vivo na CazéTV, gravações para seu canal do YouTube e milhares, às vezes milhões, de menções nas redes sociais (ele diz que lê tudo). A piada sobre a "rolinha" de Richarlison foi mais um capítulo da novela do humorista neste Mundial. No Qatar, o carioca do bairro do Realengo já brincou com um filhote de leão e interrompeu o sossego de camelos, já invadiu áreas proibidas de um estádio, já dançou até o chão com torcedores árabes e quase apanhou de um argentino.

"Acho que o pessoal não imaginava que seria como está sendo", afirmou ele depois de entrevistar vários torcedores durante um esquenta pré-jogo. Quando o humorista anunciou que viria a Doha, seus seguidores temeram que ele fosse o primeiro brasileiro preso durante a Copa. Seu humor nonsense e provocativo, influenciado por "Hermes e Renato", às vezes o leva a situações-limite, como no dia em que foi ameaçado por torcedores do Flamengo ao fazer piadas enquanto o time perdia a Libertadores.

Se esse mesmo humor reuniu uma legião de fãs, que só cresceu depois que ele foi convidado pelo amigo Casimiro Miguel para fazer parte de suas transmissões na Copa, também fez aumentar o número de pessoas que não veem a menor graça em suas piadas. "Muita gente diz que eu sou forçado e não entende o que eu estou fazendo", admite o carioca. "Mas se a pessoa insistir, com o tempo ela vai entendendo o tempo das piadas, os silêncios, a construção... O humor é quase uma matemática."

Diogo Defante tem 31 anos. Fez três anos da faculdade de publicidade e propaganda, trabalhou como cinegrafista para o site de uma rádio e tocou bateria na banda emo Let's Go antes de fazer uma aposta no YouTube. "Eu já falava umas bobagens na época da banda, o pessoal achava engraçado, até que a gente resolveu fazer uns vídeos." Quando ele fala "a gente" está se referindo também a seu fiel escudeiro, o cinegrafista Dan Lessa. Os dois se conheceram no cenário do rock carioca e estão juntos até hoje tocando o conteúdo em vídeo do canal.

Quando não está ao vivo na CazéTV, a dupla usa estrutura de gravação mínima: apenas dois celulares, um para captar vídeos e o outro para áudios. Os arquivos brutos são enviados para serem editados no Brasil. Nesse esquema, o canal Diogo Defante já conseguiu 7,2 milhões de visualizações nos três vídeos publicados na Copa.

A popularidade do humorista não se encerra no mundo digital. Nas três horas e meia em que a reportagem acompanhou os bastidores de uma gravação para o canal, Defante foi interrompido 61 vezes para selfies (duas enquanto no banheiro), 23 vezes para vídeos e 4 vezes para áudios. Ele atendeu o último pedido com a mesma atenção que dedicou ao primeiro. "Morro de medo do cara pedir uma foto, eu não dar atenção e depois ele sair dizendo que eu trato mal as pessoas", afirma ele, que faz parte de uma geração de humoristas preocupada em não ofender ninguém.

As piadas do "repórter doidão", o quadro de maior sucesso de seu canal, esperam sempre produzir alguma espécie de constrangimento: seja no público, seja no entrevistado - ou, frequentemente, no próprio repórter. Mas o humorista se esforça para que as brincadeiras não façam ninguém se sentir humilhado ou menosprezado. "Sei que eu estou sempre ali no limite, mas eu penso muito, reflito muito antes de começar a gravar. Tento trazer o cara pra rir comigo. Porque se eu rio sozinho e a pessoa não ri junto, aí fica maior baixo astral. E o público percebe."

Defante - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Diogo Defante acariciou um leão durante transmissão ao vivo no canal de Casimiro
Imagem: Reprodução/Twitter

A popularidade do humorista nas redes chamou atenção das empresas que toparam patrocinar seus projetos (além do canal, Defante faz shows e tem um podcast). "O Diogo tinha muita resistência das marcas, que não entendiam o humor dele", afirma a empresária Bruna Alvarenga, da agência Sundae, que trabalha com o humorista desde 2018. "As marcas tinham medo e não sabiam qual era o limite dele. Mas fizemos elas entenderam que aquilo ali é um personagem. O Diogo é um dos influenciadores mais profissionais que eu já conheci."

"As pessoas acham que eu sou esse retardado o tempo inteiro", afirma o humorista depois do fim da gravação naquele dia. "Mas eu sou muito organizado, cara. E penso muito no conteúdo que eu faço. Se não tiver mais dando certo, eu sei que precisa mudar, não dá pra ficar fazendo sempre a mesma coisa. Pode não parecer, mas eu sou um cara sério também", disse Defante.

Quatro dias depois, o cara sério gravou um vídeo cortando o cabelo no estilo "Ronaldo Invertido", uma versão ao contrário do penteado que o Fenômeno usou na final da Copa de 2002.