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Copa: testemunhas relatam ausência de desfibrilador em morte de Grant Wahl

Grant Wahl, jornalista esportivo que morreu durante a cobertura da Copa do Mundo - Reprodução/Instagram
Grant Wahl, jornalista esportivo que morreu durante a cobertura da Copa do Mundo Imagem: Reprodução/Instagram

Do UOL, em Doha (Qatar)

11/12/2022 04h00Atualizada em 11/12/2022 20h25

Classificação e Jogos

O jornalista americano Grant Wahl foi atendido pela equipe médica sem a presença de um equipamento desfibrilador na tribuna de imprensa do estádio Lusail, ontem, dizem dois colegas que testemunharam a cena. Wahl passou mal no primeiro tempo da prorrogação de Argentina x Holanda e acabou morrendo, aos 49 anos. Ainda não há confirmação oficial sobre a causa da morte, mas nos últimos dias o jornalista vinha reclamando de problemas respiratórios.

Os detalhes do atendimento foram obtidos pelo UOL a partir do relato de outros jornalistas, o argentino Lucas Bertellotti, do site "Goal", e o britânico Josh Glancy, do jornal "The Times", que estavam cobrindo a partida. De acordo com eles, Grant passou mal na prorrogação da partida e logo foi submetido às manobras de RCP (reanimação cardiopulmanar), primeiro por um colega com treinamento e depois pelos paramédicos do estádio.

"Não foi usado desfibrilador no Grant Whal enquanto estavam tentando ressuscitá-lo", afirmou ao UOL Josh Glancy, do "Times". "Certamente não naquele período inicial e crucial." Questionado, o argentino Lucas Bertellotti disse que também não viu desfibrilador no momento do socorro a Wahl. Um terceiro repórter consultado, que estava duas fileiras atrás do local do atendimento e com a visão parcialmente coberta, afirmou reservadamente não ter certeza se viu ou não um desfibrilador sendo usado, mas disse ter notado alguns equipamentos levados até o local do socorro.

No dia seguinte à morte do americano, Glancy escreveu um texto no "Times" questionando a qualidade do atendimento. "Por que não havia um desfibrilador?", escreveu. "Essa é a pergunta que nos fazíamos enquanto os médicos pressionavam e pressionavam [o peito de Wahl], sem sucesso. Nesse estádio ultramoderno de um bilhão de dólares... por que não tinha um desfibrilador?"

O desfibrilador é um aparelho que envia uma carga moderada de corrente elétrica para estimular o coração a bombear sangue para o resto do corpo e voltar ao funcionamento normal.

A reportagem perguntou à Fifa e ao Comitê Supremo do Qatar se havia um desfibrilador no estádio anteontem e se ele foi usado em Grant Wahl, além de pedir mais detalhes sobre o atendimento. Em resposta na noite de hoje (11), a entidade máxima do futebol afirmou que havia um desfibrilador no local e ele teria sido utilizado no socorro ao jornalista.

"Diante de relatórios imprecisos após os trágicos eventos no Estádio Lusail durante a partida entre Holanda e Argentina, a FIFA gostaria de confirmar que, de acordo com os protocolos médicos, e conforme o relatório do Serviço de Ambulância da Hamad Medical Corporation no Qatar, um desfibrilador estava disponível com a equipe de primeiros socorros e utilizada no paciente como parte de seu atendimento. Além disso, foi confirmado que o paciente foi transferido para o hospital por uma ambulância de emergência. Todos os esforços foram feitos pela equipe médica presente para salvar sua vida. Nossos pensamentos permanecem com a família de Grant Wahl", disse a Fifa, por meio de um porta-voz.

Ontem as entidades publicaram notas em que lamentam a morte do repórter. Segundo o comitê, Wahl foi levado de ambulância a um hospital da cidade.

Whal ficou ao menos 30 minutos no estádio

Os jornalistas começaram a perceber que Grant Wahl passava mal durante a prorrogação, e um deles iniciou a massagem cardíaca até a chegada dos paramédicos, alguns minutos depois. Os profissionais seguiram tentando salvar a vida do americano durante a fase final da partida e a disputa de pênaltis.

De acordo com os relatos, é possível afirmar que Grant Wahl ficou no mínimo 30 minutos no estádio antes de ser removido para o hospital. Um repórter americano enviou mensagens ao seu chefe relatando o que via. A primeira mensagem contando sobre o colapso de Wahl foi enviada à 00:39 e a última, relatando a retirada dele da tribuna de imprensa, à 1:10.

Quando o argentino Lucas Bertellotti saiu da tribuna de imprensa cerca de dez minutos depois de Lautaro Martínez cobrar o último pênalti e classificar a Argentina às semifinais, Grant Wahl ainda estava lá.

"Aconteceu a uns 20 ou 25 metros à minha esquerda", afirmou o repórter argentino. "A princípio pensei que era uma briga entre jornalistas ou algo assim. Depois vi que começaram a tirar as cadeiras como se estivessem abrindo espaço para alguma coisa. A área estava um pouco obstruída por uma estrutura de metal."

Jornalista Grant Wahl, que morreu durante a Copa, é homenageado antes de Inglaterra x França - UOL - UOL
Jornalista Grant Wahl, que morreu durante a Copa, é homenageado antes de Inglaterra x França
Imagem: UOL

O repórter argentino afirmou considerar que o atendimento médico foi feito "de maneira correta". "Tive a impressão de que tinha alguém tentando fazer a reanimação antes da chegada dos paramédicos. Logo depois eles chegaram, eram mais ou menos cinco pessoas. Vi que fizeram as manobras de RCP (reanimação cardiopulmonar) por vários minutos."

"Estávamos no meio dos pênaltis. Os jornalistas que estavam ao redor pararam de olhar e de reagir à cena. E um dos enfermeiros ou médico estava com um soro. Quando vi isso, tive a impressão de que, se estavam aplicando o soro, ele não estava morto. Tinha uma maca ali, mas ainda não havia sido usada", afirmou.

Grant Wahl era um dos mais conhecidos jornalistas esportivos dos Estados Unidos, tendo participado da cobertura de oito Copas. No começo do Mundial do Qatar, ele foi detido pela segurança do estádio Ahmed Bin Ali por vestir uma camiseta com o símbolo do arco-íris, em referência ao movimento LGTBQIA+. Ele também vinha publicando textos críticos em relação às violações de direitos humanos no Qatar.

Eric Wahl, irmão do jornalista, publicou um vídeo minutos depois de saber de sua morte, dizendo que Grant vinha sofrendo ameaças de morte e afirmando acreditar que ele tenha sido assassinado. O vídeo se tornou indisponível ontem. A Fifa, o Comitê Supremo, a federação americana de futebol e a embaixada americana em Doha publicaram notas lamentando a morte do jornalista.

Ontem, durante a partida entre França e Inglaterra, houve um minuto de silêncio em homenagem ao jornalista, e no lugar da tribuna de imprensa que ele ocuparia foi colocado um buquê de flores.