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Marrocos tem muito a ensinar aos técnicos retranqueiros brasileiros

Sarabia bateu pênalti na trave no duelo entre Espanha e Marrocos - Kirill KUDRYAVTSEV / AFP
Sarabia bateu pênalti na trave no duelo entre Espanha e Marrocos Imagem: Kirill KUDRYAVTSEV / AFP

Do UOL, em Doha (QAT)

06/12/2022 14h52

Classificação e Jogos

A Espanha girava a bola com mais de 60% de posse de bola nas oitavas de final, mas sofria para entrar na defesa de Marrocos. Foram 14 conclusões a gol em 120min - apenas duas na direção certa. E não é que o time africano estivesse só com as costas na parede o tempo inteiro: agrediu, tentou jogar, contra-atacar e arrematou seis vezes contra o rival, também duas no gol. Levou nos pênaltis.

É certamente uma lição para a parcela dos técnicos brasileiros retranqueiros que costumam abdicar do jogo só para se defender lá atrás. Há uma forma bem viável e interessante de enfrentar um adversário superior e deixá-lo desconfortável.

Durante a Copa-2022, Marrocos teve menos posse de bola do que todos os seus rivais, Croácia, Bélgica e até o Canadá. No entanto, sempre teve número de finalizações similar ao dos rivais: classificou-se em primeiro no grupo.

Para isso, o time joga com uma defesa bem compacta com duas linhas de defesa que juntam nove homens, em um 4-1-4-1 em que só o centroavante sobra. Até o craque Ziyech é visto às vezes compondo atrás para ter uma linha de cinco - o normal é o time se defender com quatro na defesa.

Só que as duas linhas jogam em boa parte do tempo avançadas, não coladas na área. Isso reduz o espaço para o time rival circular a bola. Não é o único time que atua assim, o Japão e Arábia Saudita adotaram estratégias parecidas. A vantagem marroquina é também ter no volante Amrabat, um leão à frente da zaga.

Quando rouba a bola, Marrocos sai em velocidade buscando principalmente as pontas com Boufal (esquerda), o mais habilidoso do time, ou Ziyech (direita), mais armador. Das laterais, saem cruzamentos para a chegar de quem vem de trás. Diante da Espanha, até o o zagueiro Aguerd apareceu para concluir de cabeça em uma bola da esquerda. Mesmo com a saída do ponta-esquerda, o time africano ainda teve boas arrancadas que poderiam resultar em gol

Quando sai a bola, Marrocos também não repete as estratégias de times que priorizam só a defesa. O goleiro Bounou arrisca bastante nos passes para tentar construir uma jogada desde o setor defensivo. Pode-se dizer até que isso se compara a saída adotada pelos times de Fernando Diniz, um "Dinizismo na saída"na construção de trás. Ressalte-se que é a única semelhança já que o técnico do Fluminense gosta de ter a bola.

A forma de atuar de Marrocos desafia um pouco os rótulos no sentido de que, sim, é um time que constrói seu jogo a partir da defesa, mas não pode ser chamado de retranqueiro já que não é incomum criar mais do que o adversário.

Como a Copa é produtora de tendências, os treinadores brasileiros mais retranqueiros poderiam se inspirar no estilo nem que seja para criar um ferrolho 2.0.