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'Messimania' une torcidas na luta do argentino para sobreviver na Copa

Messi e Di Maria comemoram o primeiro gol da Argentina - Reuters - Hannah Mckay
Messi e Di Maria comemoram o primeiro gol da Argentina Imagem: Reuters - Hannah Mckay

Tales Torraga e Thiago Arantes

Do UOL, em São Paulo (SP) e Barcelona (ESP)

26/11/2022 04h00

Classificação e Jogos

Um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos está a horas de um dos jogos mais importantes da sua vida.

Disputando sua quinta e última Copa do Mundo, Lionel Andrés Messi tem diante de si a missão de capitanear a Argentina rumo às oitavas de final da Copa do Mundo do Qatar. A primeira "decisão" será contra o México, no Estádio Lusail, às 16h (de Brasília), pela segunda rodada do Grupo C. Perdendo, a Argentina estará praticamente eliminada do Mundial.

Na última terça-feira, Messi sucumbiu à velocidade da Arábia Saudita e à própria falta de inspiração, vagando cabisbaixo pela grama qatari naquele que é tratado na Argentina como o "maior papelão da história da seleção em Copas do Mundo".

Para se ter dimensão do sábado histórico que domina as conversas de futebol em todo o mundo, o epílogo da sua carreira superlativa é "apenas" um dos condimentos do dia.

Dos atletas mais idolatrados da história, o astro argentino é a cara visível da "Messimania" que vai unir países de diferentes continentes em um só contexto cultural: o desejo conjunto de que ele realize o grande sonho da sua vida e consiga o tão desejado título da Copa do Mundo pela Argentina.

Buenos Aires, a capital do país onde o astro nasceu, sequer dormiu, em uma vigília repleta de angústia esperando o apito inicial.

Barcelona, onde o craque viveu suas maiores glórias, também estará de olho em seus movimentos. Tal apreensão inclui até mesmo o Brasil, que no ano passado chamou a atenção pela torcida manifesta de parte do seu público pelo título de Messi na Copa América justamente contra a seleção brasileira, em pleno Maracanã.

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Jornal repercute vitória da Arábia Saudita sobre a Argentina
Imagem: GettyImages

Audiência dispara no Brasil

O "último tango" de Messi em Copas com a Argentina está fazendo a audiência da Globo disparar. Segundo Allan Simon, colunista do UOL, houve um aumento de até 89% da atenção do público neste horário na emissora. "O jogo foi visto por 53% dos televisores ligados em São Paulo, e 57% no Rio de Janeiro e na média nacional", informou.

"A partida foi a primeira desta Copa do Mundo realizada às 7h (horário de Brasília), um período que deveria — e ainda deve ser, em outros jogos de seleções menos midiáticas — mais difícil para a Globo no Ibope."

Tal acréscimo deve ser intensificado neste sábado. Primeiro motivo: o "horário nobre" das 16h (de Brasília). Segundo: o caráter decisivo. Se a Argentina perder, estará praticamente eliminada da Copa. O jogo será transmitido por Globo, SporTV, Globoplay e Fifa+.

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Lionel Messi lamenta chance desperdiçada pelo ataque da seleção argentina na partida contra a Arábia Saudita
Imagem: Matthias Hangst/Getty Images

Torcedores e secadores

É claro que nem todo mundo no Brasil vai torcer para Messi esticar o sonho de fechar a carreira com o título da Copa.

O surpreendente no seu caso é que a aceitação brasileira reverte até a rivalidade histórica entre os dois países vizinhos. E a permanência da Argentina na Copa do Mundo do Qatar significa, óbvio, a sobrevida de uma rival que pode superar a seleção brasileira, vide a Copa América do ano passado.

Haverá, claro, considerável torcida contra a Argentina ao longo de todo território brasileiro, mas também é possível dimensionar também o fervor verde-amarelo por Messi.

Publicada há duas semanas, uma pesquisa inédita do UOL mostrou que a seleção argentina tem, sim, grande torcida brasileira na Copa do Mundo do Qatar.

Segundo o levantamento exclusivo, 30% daqueles que não se importam com o hexa do Brasil torcem pelo título da seleção argentina. A equipe de Lionel Messi e companhia lidera com folga a preferência entre as seleções estrangeiras. Portugal, de Cristiano Ronaldo, aparece como a segunda, com 24%.

Ao contrário do que poderia indicar a histórica rivalidade entre os vizinhos, apenas 1% dos brasileiros expressou na pesquisa que vai torcer contra a Argentina no Qatar.

Mesmo concorrente direta, a Argentina era citada como uma das preferidas até mesmo entre os que torcem pelo hexa. O levantamento do UOL foi online, com 1.800 pessoas das classes A, B e C de todas as regiões do país, separando também a influência das gerações (Z, "millenials" ou "boomers") nas escolhas.

Segundo Andrés D'Alessandro, ex-jogador da seleção argentina e ídolo do Internacional, a "Messimania" tem sua influência no resultado da pesquisa: "Ele é um dos melhores da história, e sempre mostrou muito respeito pelo Brasil. O torcedor leva isso em consideração".

Dirigente do Internacional, o argentino Gustavo Grossi tem opinião semelhante: "Fora de campo, Messi é educado, calmo, respeitoso, mostra valores que são indispensáveis àqueles que querem mostrar um jogador de futebol como exemplo para os filhos".

"O confronto acirrado que Maradona tinha com o Brasil, por exemplo, não ocorre com Messi, que jamais subiu o tom da rivalidade, mesmo sendo o capitão argentino."

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Lionel Messi durante jogo da Argentina contra a Arábia Saudita
Imagem: Richard Sellers/Getty Images

Drama portenho invade até rádio de música

A relação de Messi com o torcedor argentino foi uma verdadeira gangorra até o título do ano passado, no Maracanã.

Se hoje há um grande furor pelo camisa 10 que comanda a "Scaloneta", como é chamada a seleção do técnico Lionel Scaloni, vale lembrar que ele foi já visto com bastante desconfiança, especialmente depois que o técnico Diego Armando Maradona lhe deu a braçadeira de capitão, na Copa do Mundo de 2010.

Sua falta de gols e de liderança naquele Mundial, e uma pobre Copa América realizada na própria Argentina, sendo eliminado nas quartas de final do ano seguinte, pesaram demais no imaginário coletivo.

Messi passou pelo constrangimento de ser vaiado pelos próprios argentinos, que lotaram o estádio "Cemitério dos Elefantes", em Santa Fé, e se frustraram com um 0 a 0 com a Colômbia, que terminou com Messi quase saindo na mão com o zagueiro Burdisso, justamente em represália à sua apatia em campo.

Messi ganhou crédito com o vice-campeonato na Copa de 2014, no Brasil, mas dois vice-campeonatos contra o Chile, nas Copas Américas de 2015 e 2016, estremeceram o humor argentino.

Estátuas suas foram quebradas e era comum, caminhando pelas ruas de Buenos Aires, ouvir o famigerado apelido de "pecho frío", rotulando os atletas sem a raça que tanto caracteriza os argentinos.

Tal antipatia deixou de existir na campanha da Copa América do ano passado, quando Messi jogou no sacrifício e finalmente ergueu um título com a seleção profissional. A Argentina não ganhava nada fazia 28 anos — desse período, Messi esteve em campo por 16 temporadas.

A situação agora é totalmente diferente. A adesão ao ídolo é total, a ponto até de as rádios de rock, gênero mais ouvido do país, dedicar músicas a ele ao longo da tarde de sexta-feira e demonstrar toda confiança e apoio na reviravolta.

Messi está com problemas físicos. Muito se falou sobre seu tornozelo direito, habitualmente com aparência de inchaço, mas é a panturrilha esquerda que o impede de competir com força total.

Contra a Arábia Saudita, nem ele e nem seus sócios perfeitos, Rodrigo de Paul e Ángel Di María, tiveram o rendimento necessário para deixar a zebra para trás.

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Torcedor do México exibe fantasia na Copa do Qatar
Imagem: Xinhua/Chen Cheng

Dupla argentina no caminho

Outro ponto deixa a epopeia argentina neste sábado ainda mais surreal. A seleção do México é comandada por um técnico nascido na Argentina: Gerardo "Tata" Martino, que treinou Messi justamente nos vice-campeonatos da Copa América. Ele agora terá a chance de obter uma desforra pela inclemente dispensa da ocasião.

Martino não será o único argentino a cruzar o caminho da seleção. Espera-se que o centroavante Rogelio Funes Mori, criado no River Plate, seja titular nesta tarde. Ele tem 31 anos e é naturalizado mexicano apenas desde os 29.

"Se eu fizer um gol, vou gritar como um louco", contou. Fazendo isso, convém ele não ser "louco" de visitar a Argentina tão cedo...

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Torcedores do Barcelona comemoram gol de Messi em lugar destinado ao Real Madrid
Imagem: AFP PHOTO / OSCAR DEL POZO

Barcelona ainda torce

Na Catalunha, onde Messi desembarcou ainda adolescente e se transformou na grande referência do melhor Barcelona da história, os olhos também estarão atentos ao duelo entre Argentina e México. Por questões políticas e identitárias, grande parte dos catalães não torce para a seleção da Espanha em eventos como a Copa do Mundo e a Eurocopa.

Assim, é comum que os torcedores do Barcelona (cerca de 80% da população local, segundo pesquisas feitas nos últimos 10 anos), dividam-se na torcidas por outras seleções. Aqui, a Argentina não tem rivais. "O torcedor do Barcelona que não torce pela Espanha, quase sempre escolhe a Argentina. Ou melhor, escolhe Messi", explica o historiador e jornalista Toni Padilla.

Embora não haja uma pesquisa com critérios científicos para colocar em números a preferência desta parte do Estado espanhol por Lionel Messi e sua Argentina, é fácil perceber em pequenos detalhes. Os principais restaurantes argentinos e pontos de encontros de torcedores que têm programada a transmissão da partida de amanhã já não aceitam reservas.

A adesão dos catalães à seleção argentina, mesmo após a saída de Messi, em agosto de 2021 rumo ao PSG, mostra que em Barcelona o camisa 10 da Albiceleste ainda é um ídolo. Mais do que isso, existe uma esperança entre os torcedores — e em parte da diretoria — sobre um possível retorno ao final da temporada 22-23, sua segunda em Paris. O presidente Joan Laporta ainda não entrou em contato direto com Messi, mas já mandou mensagens ao entorno do jogador tentando reconstruir a relação, que ficou abalada após a saída do clube.

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Messi comemora gol contra a Sérvia na Copa do Mundo de 2006, na Alemanha
Imagem: REUTERS/Ina Fassbender

Messi em Copas: dor e tristeza

Pensar que o duelo contra o México pode ser o último de Messi em Copas do Mundo — ou, ao menos, o último em que ainda há algo em disputa — nos faz viajar pela carreira do argentino pelos últimos cinco Mundiais.

Em 2006, o jovem prodígio começou o Mundial aos 18 anos, como reserva. Depois de não jogar um único minuto no 2 a 1 sobre a Costa do Marfim, ele estreou contra Sérvia e Montenegro. Messi entrou aos 29 min do segundo tempo, deu uma assistência e marcou um gol. Na terceira partida da fase de grupos, com o time já classificado, o técnico José Pekerman escalou um time de reservas, e assim o rosarino pôde estrear como titular. o resultado decepcionou: 0 a 0 com a Holanda.

Na segunda fase, Pekerman voltou a deixar Messi na reserva. O garoto que despontava no Barcelona entrou apenas aos 39 min do segundo tempo contra o México nas oitavas de final, em jogo vencido pelos argentinos na prorrogação. Nas quartas, ele viu do banco a derrota para a Alemanha nos pênaltis. O mudou caiu sobre Pekerman, criticado por não apostar no jovem talento.

Quatro anos depois, o cenário era diferente. Messi já era um astro do futebol mundial, Diego Maradona era o técnico, e a grande pergunta era como fazer o camisa 10 render melhor. Nas Eliminatórias, ele havia marcado apenas quatro gols em 18 jogos, e a solução foi deixá-lo com mais liberdade e mais perto do gol. Não deu certo. Foi um Mundial difícil para a Argentina, eliminada novamente pela Alemanha, de novo nas quartas, mas desta vez por 4 a 0. Messi saiu da África do Sul sem marcar um único gol.

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Lionel Messi, após a derrota na final da Copa do Mundo de 2014
Imagem: Xinhua/Lui Siu Wai

No Brasil, em 2014, o craque argentino finalmente brilhou, marcando quatro gols nos três jogos da primeira fase. Nas oitavas, ele deu a assistência para o gol de Di María na prorrogação. As boas atuações de Messi continuaram; mas os gols, não. Na final, ele deu pelo menos três passes decisivos, mas os companheiros falharam.

A derrota para a Alemanha na final destruiu mais uma vez o sonho; Messi acabou eleito o melhor jogador daquela Copa, mas isso não parecia importar para ele. Sempre que é perguntado sobre a maior tristeza da carreira, o argentino cita aquela partida no Maracanã.

Entre as Copas de 2014 e 2018, Messi passou por turbulências com a seleção. As derrotas em duas finais de Copa América (2015 e 2016) fizeram ele anunciar que abandonaria a equipe. A decisão foi repensada em menos de dois meses. O craque chegou à Rússia como líder de uma seleção que já não tinha as virtudes de outros tempos, além de possuir uma relação conturbada com o técnico Jorge Sampaoli.

Depois de uma fase de grupos sofrida, quando se classificou a duras penas com um gol de Marcos Rojo na reta final do duelo contra a Nigéria, a Argentina cruzou o caminho da França nas oitavas, e acabou derrotada por 4 a 3.

O Mundial de o Qatar é, segundo o próprio Messi, o último da carreira. A estreia com derrota por 2 a 1 contra a Arábia Saudita colocou a Argentina — atual campeã da América e uma das favoritas ao título — em situação delicada. Uma derrota para o México pode transformar este sábado no dia do último tango de Messi em Copas do Mundo. A última dança de um dos grandes jogadores de seu tempo, no maior torneio do futebol mundial.

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