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Como 'arroz de festa' Cafu tem imagem forte, mesmo 20 anos depois do penta

Cafu em evento da Fifa em novembro de 2022, no Qatar: ele é embaixador da Copa do Mundo vinte anos depois do penta - Odd Andersen/AFP
Cafu em evento da Fifa em novembro de 2022, no Qatar: ele é embaixador da Copa do Mundo vinte anos depois do penta
Imagem: Odd Andersen/AFP

Do UOL, em Doha (Qatar)

22/11/2022 04h00

Classificação e Jogos

Cafu está em todos os lugares. Já são 12 anos desde que pendurou as chuteiras e 20 anos passados do grande momento da carreira como capitão do pentacampeonato mundial da seleção brasileira. Mesmo tanto tempo depois, ele hoje é um dos embaixadores da Copa do Mundo do Qatar, realizador do tour da taça e garoto-propaganda de pelo menos sete empresas.

Para conquistar o direito de virar um "arroz de festa", Cafu precisou manter nos últimos 20 anos uma imagem forte e positiva. Como? É isso que o UOL responde no quinto capítulo da série "Capitães do Hexa", que conta histórias inéditas e curiosas dos cinco capitães campeões mundiais pelo Brasil. Antes, já falamos de Bellini, Mauro Ramos de Oliveira, Carlos Alberto Torres e Dunga.

Cafu virou capitão da seleção em 2002 por acaso. O verdadeiro dono da braçadeira era o volante Emerson, que sofreu luxação no ombro durante um treino recreativo às vésperas da Copa do Mundo e precisou ser cortado. O lateral direito — que era companheiro de Emerson na Roma — herdou a vaga. As razões quem explica é Antônio Lopes, coordenador da seleção na época.

"O Felipão escolheu o Cafu para ser o capitão pelo trabalho durante aquele período. Depois, pela personalidade dele. Ele demonstrava espírito de liderança grande sobre o grupo, sobre os jogadores. Todos os jogadores respeitavam", justifica.

Cafu já tinha 32 anos e estava na terceira Copa do Mundo — ele ainda jogaria mais uma, em 2006. Agora o que explica a imagem forte e positiva que resiste até hoje não é simplesmente o fato de ter sido capitão, e sim o que rolou no ato de erguer a taça no Japão.

"Quando levantou a taça sorrindo, ele simbolizou toda a postura", resume o especialista em marketing esportivo Fábio Wolff.

Cafu - Juca Varella/Folhapress - Juca Varella/Folhapress
Cafu ergue a taça da Copa do Mundo de 2002 sob olhares de companheiros e comissão técnica da seleção
Imagem: Juca Varella/Folhapress

O passo a passo foi o seguinte: Cafu pediu para escreverem "100% Jardim Irene" de caneta vermelha em sua camisa, em homenagem ao bairro onde foi criado na zona sul de São Paulo. Depois, decidiu quebrar o protocolo da Fifa e subir na plataforma onde a taça da Copa estava posicionada. Não era uma plataforma lá muito firme. Ao subir, fez V de vitória com as duas mãos, recebeu a taça das mãos de Pelé, gritou "Regina, eu te amo", em homenagem à esposa (se separam no último mês de outubro), beijou a taça e ergueu com um sorrisão no rosto antes da festa com papel picado. Uma mistura de humildade, rebeldia, amor e felicidade. A cara do Brasil.

"O Cafu é um dos atletas mais vitoriosos da geração, mas acima disso um cara que sempre lutou muito, correu atrás para se aperfeiçoar, recebeu críticas, mas não se deixou abater, perdeu e ganhou, mas sempre foi um cara com uma postura irretocável. Ele é tão querido porque representa a vida de uma pessoa que passou por dificuldades e chegou lá. Isso é muito forte no imaginário do brasileiro", diz Fábio Wolff, ao que Antônio Lopes concorda:

"O Cafu mostra, a gente vê aí que ele vai em programas de televisão, de rádio, a desenvoltura com que ele se apresenta. Foi bem escolhido porque ele tinha esses dotes todos. O capitão tem que ser um líder, aceito pelos colegas. Foi o que aconteceu."

Cafu - Gsé Silva/UOL - Gsé Silva/UOL
Cafu parou de jogar em 2008, fora do Brasil, e não trabalhou mais em clubes locais
Imagem: Gsé Silva/UOL

Nos anos seguintes, Cafu cultivou a fama. Segundo especialistas em marketing esportivo ouvidos pelo UOL, o fato de ele nunca ter se arriscado nas carreiras de treinador ou dirigente ajudou na preservação da imagem, porque são funções em que você está sujeito a muitas críticas e às vezes o resultado final não ajuda.

Não faltaram convites. São Paulo, Palmeiras e Santos — os dois primeiros onde ele atuou e o terceiro pelo qual ele quase foi contratado em 2008 — já tentaram contratá-lo para funções diretivas e receberam 'não'.

As duas únicas ameaças à imagem de Cafu não causaram grandes danos: em 2019, se tornou público que ele enfrentava dívidas de várias espécies e tinha perdido imóveis em pagamentos para cobrir empréstimos no total de R$ 5 milhões. Isso causou o fechamento da Fundação Cafu, que ele administrou por 16 anos. Já em outubro de 2022, Cafu se separou de Regina após 35 anos.

Foram nuvens passageiras. Pelo menos para as sete marcas que fazem campanhas com sua imagem e para a Copa do Mundo do Qatar, em que ele é um dos principais rostos da atualidade.