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México vê eleição maior que jogo com Brasil e torcida deixa Copa para votar

O candidato Andrés Manuel López Obrador lidera as pesquisas de uma eleição histórica, que mobiliza o país - Pedro Pardo/AFP
O candidato Andrés Manuel López Obrador lidera as pesquisas de uma eleição histórica, que mobiliza o país Imagem: Pedro Pardo/AFP

Danilo Lavieri, Dassler Marques, João Henrique Marques, Pedro Ivo Almeida e Ricardo Perrone

Do UOL, em Sochi (Rússia)

30/06/2018 04h00

A decisão contra o Brasil na próxima segunda-feira (2), em Samara, está longe de ser a única e mais importante para o México nos próximos dias. Longe da Rússia e da Copa do Mundo, o país latino se prepara para uma eleição das mais emblemáticas do último século. Além das votações para Câmara e Senado, os mexicanos escolherão o presidente para os próximos seis anos e encaminham, de acordo com as pesquisas, uma ruptura com o passado político das últimas décadas.

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Comandado por apenas dois partidos nos últimos cem anos – o PRI (Partido Revolucionário Institucional) e o PAN (Partido da Ação Nacional), de centro-direita e direita –, o México vê o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, do Morena (Movimento Regeneração Nacional), liderar com certa folga os últimos indicativos de intenções de voto.

A possibilidade de um momento histórico fez até alguns torcedores deixarem a Rússia às vésperas de um duelo decisivo contra o Brasil para voltar ao país e acompanhar de perto a eleição. A reportagem conversou com alguns torcedores que tomaram tal decisão, fato endossado ainda por jornalistas que acompanham o time no Mundial.

“Não são um, dois, são vários. Centenas. Esses torcedores querem fazer parte da história. É um marco para o país. Não temos dúvidas de que o dia de domingo [eleição] será mais importante que o de segunda [jogo com Brasil] para o nosso país”, disse Alonso Cabral Villavicencio, da Televisa.

No México, o voto não é obrigatório, mas é direito de todo cidadão maior de 18 anos. Na visão geral, a Copa do Mundo virou tema secundário.

“López Obrador é visto como um candidato do povo, dos humildes. Os mexicanos não aguentam mais tanta corrupção e violência. Há um outro lado que vê esse candidato aliado a outras figuras antigas da política, mas não tem como vencer sem dialogar com todos os lados. Ainda assim, é uma chance de mudança. Enxergamos como se fosse uma eleição do Hugo Chávez na Venezuela, do Lula no Brasil. Independentemente de gostar ou não, é um fato muito emblemático, histórico”, completou o jornalista mexicano.

Time se cala e não consegue votar

Em meio ao fato histórico, jogadores e comissão técnica do México tentaram participar de alguma forma da eleição. Membros da federação mexicana consultaram o Instituto Nacional de Eleições do país para que os membros da delegação votassem em trânsito, mas não foi possível. A informação era que apenas mexicanos que residem na Rússia teriam esse direito.

Publicamente, a ordem é manter o silêncio e não se posicionar. Além da orientação da Fifa para que os participantes da Copa não falem sobre política, a federação não quer os atletas envolvidos na disputa que tomou conta do país.

Um dos únicos a comentar o caso foi o zagueiro Hector Moreno. E ainda assim o fez de forma genérica. “Espero que vença aquele que for melhor para o país. Que ganhe quem procurar o melhor”, disse.