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Obcecado, Neymar tem nova chance para tentar ser "o cara" do Brasil na Copa

Neymar brinca com Thiago Silva durante treino da seleção brasileira - André Mourão / MoWA Press
Neymar brinca com Thiago Silva durante treino da seleção brasileira Imagem: André Mourão / MoWA Press

Danilo Lavieri, Dassler Marques, João Henrique Marques, Pedro Ivo de Almeida e Ricardo Perrone

Do UOL, em Moscou e Sochi (na Rússia)

27/06/2018 04h00

Ao trocar o Barcelona pelo Paris Saint-Germain, Neymar ouviu de pessoas próximas que o nível mais baixo do time e do Campeonato Francês impediriam a conquista do prêmio da Fifa de melhor do mundo. Escutou que um ano antes da Copa do Mundo até a seleção brasileira poderia ser afetada pela dificuldade natural de adaptação ao novo clube e à cidade de Paris. Considerações pequenas perto do objetivo de sair da sombra de Lionel Messi e virar "o cara" do PSG. A busca por protagonismo virou obsessão na carreira do camisa 10. E na decisão contra a Sérvia, às 15h (de Brasília) desta quarta-feira, em Moscou, ele tem mais uma chance de assumir esse papel em solo russo.

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Neymar está pressionado, sim, interna e externamente. Algo natural para alguém que, com sua capacidade técnica, tem se apresentado abaixo do nível habitual. Só no jogo contra a Costa Rica, por exemplo, o camisa 10 venceu oito dos 24 confronto no mano a mano, errou pelo menos dois domínios que o deixariam na cara do gol e chutou para fora uma chance na cara de Keylor Navas. O protagonismo exigido por si mesmo parece distante diante do sucesso de Philippe Coutinho na Copa do Mundo – o meia tem dois dos três gols do Brasil e foi eleito o melhor em campo nas duas exibições do Brasil até aqui.

Não que Neymar esteja mal. Principal referência ofensiva, ele é o segundo do time que mais chuta a gol, se apresenta quase o tempo todo e tem, no fim das contas, três gols em quatro jogos desde que voltou de uma lesão que o afastou dos campos por quatro meses. O problema está na expectativa que se tem de um candidato a Bola de Ouro, que pessoalmente também busca ser equiparado a Messi e Cristiano Ronaldo. 

“Talvez com mais um jogo ele esteja em sua plenitude de condições físicas e técnicas. Mas não dando a ele responsabilidade excessiva em cima de sucesso ou insucesso. O técnico não vai fazer assim, não vai colocar que ele deva resolver”, destacou Tite na véspera do confronto contra a Sérvia.

Tite abraça Neymar em amistoso contra a Croácia - Andrew Boyers/Action Images via Reuters - Andrew Boyers/Action Images via Reuters
Tite projeta Neymar 100% com mais um jogo
Imagem: Andrew Boyers/Action Images via Reuters

Coadjuvante na seleção? Culpa da lesão

Historicamente, não há espaço para um Neymar coadjuvante na seleção brasileira. Desde que estreou, em 2010, ele é a referência técnica do time, peso que muitas vezes pareceu grande demais para um jogador em formação. Para se ter ideia, foi só em 2017, após sete temporadas, que ele terminou um ano sem ser o artilheiro da seleção, perdendo a "disputa" para Gabriel Jesus. A comparação atual com Coutinho, no entanto, não pode ignorar os problemas médicos do camisa 10. 

Recém-operado de uma fratura no quinto metatarso do pé direito, Neymar está claramente abaixo do que é capaz fisicamente. Em seu entorno era imaginado que ele nem jogasse todos os minutos das partidas contra Suíça e Costa Rica, só que a dificuldade dos confrontos obrigou a presença do camisa 10 em tempo integral, o que o pressiona ainda mais.

Neymar é o tipo de jogador “fominha” por protagonismo, que não aceita a derrota em um confronto individual com o marcador sem pedir falta. O comportamento vai contra a “cartilha” de Tite que cobra o elenco inteiro, mas especialmente seu principal jogador, para que não haja entrevero com a arbitragem. Líder de cartões amarelos sob a gestão do treinador, a maior por reclamação, ele está pendurado e pode perder um jogo no mata-mata se for advertido novamente. 

“Quem vem de uma lesão como a do Neymar sente o peso. E ele está chamando a responsabilidade. A gente tenta responder dentro de campo, atuando da melhor maneira possível, mas é complicado. É duro ter calma”, disse Thiago Silva, um dos líderes do elenco e que cobrou Neymar no vestiário pela impaciência demonstrada com o árbitro no confronto contra os costa-riquenhos. 

No entendimento de pessoas próximas e da própria seleção, a expectativa sempre foi de um Neymar protagonista. Ela imaginava o mesmo cenário. Quando sofreu a lesão, no fim de fevereiro, envolveu-se em atrito com o PSG ao escolher passar por todo o processo cirúrgico sob a coordenação da seleção brasileira. Posteriormente, trabalhou sem a pressão do clube para um retorno em curto prazo, programando o auge físico para a Copa. Na Rússia, no entanto, ainda não foi destaque pelo que fez com a bola no pé.

Repercussão sem a bola segue a mesma

Sem sucesso em campo, a repercussão de Neymar parece restrita à troca de penteado, ao nervosismo com arbitragem e adversários e ao choro no fim da última partida. Isso sem citar os xingamentos dos “parças”, o grupo de melhores amigos, a Galvão Bueno por críticas ao camisa 10 na transmissão do jogo contra a Costa Rica. O barulho em torno de tudo que ele faz é tão grande que jogador e família sentem-se perseguidos.

Por quatro anos no Barcelona, Neymar conviveu com o mesmo dilema visto no início desta Copa. Foi destaque muitas vezes por questões fora de campo e, dentro dele, viu o companheiro Messi carregar o protagonismo na maioria das vezes. Ficar preso na ponta esquerda, e com obrigações defensivas, tornou-se um martírio com o passar do tempo, o que pesou na troca da Catalunha por Paris. Na seleção, no entanto, ele tem liberdade suficiente para que a reviravolta dependa apenas dele. Resta uma atuação convincente o bastante para "ofuscar" os companheiros.

“Neymar só está nesse estágio porque é bem dotado fisicamente e fora dos padrões normais. Ainda é um processo, calma. Ele foi bem contra a Croácia [amistoso vencido pelo Brasil por 2 a 0] e falei: calma. É situação de evolução, normal e natural. Vai chegar”, avisou o confiante Tite.

FICHA TÉCNICA

BRASIL X SÉRVIA

Data:
 27 de junho, quarta-feira
Local: Otkritie Arena, em Moscou (Rússia)
Horário: 15h (de Brasília)
Árbitro: Alireza Faghani (Irã)
Assistentes: Reza Sokhandan e Mohammed Mansouri (ambos iranianos)

BRASIL: Alisson; Fagner, Thiago Silva, Miranda e Marcelo; Casemiro; Willian, Paulinho, Philippe Coutinho e Neymar; Gabriel Jesus.
Treinador: Tite

SÉRVIA: Stojkovic; Ivanovic, Milenkovic, Tosic e Kolarov; Matic e Milivojevic; Tadic, Milinkovic-Savic e Kostic; Mitrovic. 
Treinador: Mladen Krstajic