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Primeira fase do Brasil dá razão a Tite em quedas de braço para a Copa

O técnico Tite passa orientações para Neymar durante o jogo entre Brasil e Sérvia - Stuart Franklin - FIFA/FIFA via Getty Images
O técnico Tite passa orientações para Neymar durante o jogo entre Brasil e Sérvia Imagem: Stuart Franklin - FIFA/FIFA via Getty Images

Danilo Lavieri, Dassler Marques, João Henrique Marques, Pedro Ivo Almeida, Pedro Lopes e Ricardo Perrone

Do UOL, em Moscou e São Paulo

27/06/2018 21h00

A vitória com autoridade sobre a Sérvia por 2 a 0 coroa uma campanha segura da seleção brasileira na primeira fase da Copa do Mundo. Não tem sido tudo perfeito, o nervosismo nos dois primeiros jogos foi grande, e uma onda de lesões que já atingiu sete atletas aparece no horizonte como um possível fantasma a desestabilizar os planos brasileiros. Apesar disso, os sete pontos conquistados nas três partidas vêm na esteira de uma série de apostas de Tite que deram certo, da convocação dos 23 nomes a decisões durante a competição.

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A chamada para o Mundial foi previsível diante da preparação, mas não livre de contestação. A presença de alguns jogadores que vinham de lesão e problemas físicos era um elemento importante, passível de questionamento. Outro ponto era a opção por quem atuava em centros de menor expressão no futebol, sem destaque no primeiro nível europeu. Dividiam-se entre essas características Fagner e Filipe Luís, no primeiro grupo, e Renato Augusto no segundo. Todos que tiveram oportunidade até agora na Rússia corresponderam.

Fagner precisou substituir Danilo já na segunda partida, contra a Costa Rica, e deu conta do recado. Teve atuação segura e participativa na defesa e no ataque, repetiu o feito contra a Sérvia e dificilmente deixa a lateral direita na sequência da Copa. Renato Augusto precisou entrar na estreia para dar corpo ao meio de campo, também foi bem e recebeu elogios. Nesta quarta, foi a vez de Filipe Luís ser acionado com a lesão de Marcelo, e o resultado foi outra excelente atuação, que por pouco não terminou em gol em uma pancada de fora da área que apagaria qualquer menção a Alex Sandro, com quem ele disputava posição no elenco. 

Tite também vem fazendo suas apostas no decorrer da competição. Thiago Silva passou quase três anos rotulado pelo choro nas oitavas de final da Copa de 2014 e começou a recuperar definitivamente seu espaço no fim do ano passado. Foi titular nos amistosos e tem mantido o posto nesse começo de Mundial, retribuindo a confiança com atuações seguras e o segundo gol desta quarta, em um momento no qual os sérvios pressionavam e cresciam no jogo. Paulinho, por sua vez, foi contestado por participar pouco das duas primeiras partidas e mesmo assim foi mantido por Tite. Como resposta à confiança, também balançou as redes e mandou recado aos críticos.

“Sobre as duas primeiras partidas, depende muito como enxergam. Talvez o Paulinho vai bem quando faz gol, talvez seja a observação de vocês. Minha preocupação é ajudar a equipe, independentemente se faz gol ou não”, disse o volante. Minutos depois, Tite citou suas apostas. “A gente vive de equipe que se forma forte durante a competição, que é equilibrada, tem peças de reposição para momentos importantes. O Marcelo sai com dois minutos de jogo. Tu tem que ter uma equipe forte. Se não tiver essa preparação toda dos atletas, e a gente ficar focado só na equipe que inicia, seguramente a gente não teria essa performance”, disse o treinador.

Lesões em série são o "calcanhar de Aquiles"

A seleção, entretanto, não vive só de acertos. Se por um lado as apostas em jogadores que se recuperam de lesões recentes trouxeram resultado, por outro a situação clínica dos atletas é hoje o maior problema vivido pela delegação brasileira. Danilo, Renato Augusto, Fred, Douglas Costa e agora Marcelo sofreram problemas físicos já durante a reta final de preparação e a própria Copa. O alto número gerou ruídos dentro da própria comissão técnica.

Marcelo chora ao ser substituído - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
Imagem: Reprodução/TV Globo

Parte da comissão considera a carga de treinamentos excessiva para um grupo, em sua maioria, em fim de temporada. Esse lado crítico entende que esse programa de trabalho influenciou, por exemplo, nas lesões de Danilo e Douglas Costa. Antes deles, Renato Augusto, que teve uma inflamação no joelho, falou abertamente sobre o tema. “Não cheguei abaixo do meu nível, cheguei no meu nível bem alto. Infelizmente tive um problema de sobrecarga de peso, e acabei perdendo uma parte importante da preparação”, disse após o empate contra a Suíça.

Dentro de campo, também existem questões técnicas. Gabriel Jesus foi titular nas três partidas da fase de grupos, e não conseguiu balançar as redes. Diante da Costa Rica foi participativo e chegou a acertar a trave, depois de uma atuação discreta, preso na defesa suíça, na estreia. Contra a Sérvia, porém, desperdiçou oportunidades importantes, foi mal quando teve a bola e saiu de campo como um dos piores da seleção. Willian também não tem se destacado e, nesse caso, os problemas brasileiros se misturam, já que com a lesão de Douglas Costa a opção imediata para atuar nos lados do campo é Taison, o jogador mais questionado da convocação. Coutinho poderia fazer a função, mas vem sendo um dos principais destaques da Copa jogando centralizado.

“Uma equipe é feita com atletas que não têm importância maior que outro, mas características diferentes. Firmino foi decisivo nos outros jogos, isso me consome, mas ele tem compreensão do valor dele, de que em um outro momento, com ou sem o Gabriel, pode ser acionado. Escolhas vão acabar acontecendo”, disse Tite, ao ser questionado sobre a possibilidade de substituir Jesus pelo atacante do Liverpool.

O comandante do Brasil dá a entender que insistirá nas apostas. Por enquanto, na Copa de 2018, está respaldado por “cases” de sucesso. Precisa, entretanto, contar com a saúde e boas condições físicas de suas peças: a seleção também está tomando providências neste sentido, com ajustes na carga de treinamentos.

“Lesões acontecem, as causas podem ser várias, mas está controlado. Diminuiu [o ritmo dos treinos], estamos ajustando cada vez mais, com dois dias de recuperação entre um jogo e outro. São acidentes que ocorrem a cada dia. Não foi excesso de treino, nós vamos ajustando a carga, continuando a ajustar. Se for preciso descansar mais vamos dar esse tempo”, disse o preparador físico Fábio Mahseredjian.

O cenário aponta para um time sem alterações diante do México, pelas oitavas de final. A partida será às 11h (de Brasília) de segunda-feira, em Samara.