De tradução a riscos no trânsito, famílias da seleção vivem seus perrengues
O carro segue a 140 km/h. Despreocupado, o motorista do Uber lê mensagens em seu celular. Assustados, os passageiros não usam cinto de segurança por ordem do condutor. A cena apavorante foi vivida por parentes do zagueiro Marquinhos, em Rostov-on-Don, e faz parte dos perrengues vividos por familiares de jogadores da seleção brasileira na Rússia. Sufocos como este revelam um cotidiano diferente da boa vida quase sempre narrada nas redes sociais pela trupe que segue os atletas pelo país da Copa do Mundo.
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“É assustador, o cara reclama se você colocar o cinto de segurança. Pega a contramão, corre demais, chega a 140 km/h e mais digita no celular do que presta atenção no trânsito. Muitos escutam música no talo sem perguntar se te incomoda. É muita falta de respeito”, disse Felipe Cardoso Alves, primo de Marquinhos.
Ele, familiares e amigos de outros jogadores, como Willian e Douglas Costa, levaram broncas de taxistas e motoristas de Uber por tentarem colocar o cinto de segurança. O uso do acessório não é obrigatório na Rússia. Por conta disso, parte considerável dos condutores entende ser uma demonstração de desconfiança do passageiro tentar se proteger.
Os motoristas também são alvos de queixas por cobrarem valores diferentes para a mesma distância. Carol Cabrino, esposa de Marquinhos, viu o preço da corrida entre o hotel em que ela está e o da seleção quase dobrar de um dia para o outro. Os pais de Willian, Severino Vieira da Silva, e de Douglas Costa, Antônio, passaram aperto semelhante. “Agora eu tento pegar sempre o mesmo motorista em frente ao hotel. Identifico pela bandeirinha do Chile no carro. Ele é confiável”, diz Severino.
A mulher de Thiago Silva, Belle, contou sua história desagradável com taxista numa rede social. Ela e seu grupo pegaram um carro para ir a um restaurante que era a poucos metros do hotel. O motorista não avisou que podiam ir caminhando e ainda cobrou um preço salgado pela corrida.
Gabriel, ex-lateral e amigo de Neymar, também tem suas aventuras russas para contar. “Peguei uma carona, mas fui acompanhando o caminho no [aplicativo] Waze. O motorista era maluco, entrava em todas as ruas erradas, pegava contramão. Tinha que entrar à direita, mas virava para a esquerda. Falei pro meu amigo no banco de trás: ‘qualquer coisa você dá uma gravata nele’. A gente ouve muitas histórias sobre a Rússia e fica assustado. Mas no fim chegamos no lugar certo”, contou o ex-atleta.
Nas refeições também há relatos de desconforto. “O que mais me incomoda é que tudo demora muito e eles não trazem os pratos de todos da mesa ao mesmo tempo. Servem cada um por vez. Fui comprar um doce e demorou 10 minutos”, contou a irmã de Douglas Costa, Amanda.
Cardápios em russo dão frio na barriga. “Eu já morei na Ucrânia, então sei como me virar. Gosto de pedir um macarrão à carbonara, não tem erro”, afirmou o pai de Douglas Costa.
Os familiares e membros do estafe de Neymar também tiveram dificuldade com a comida em serviço de buffet sem tradução dos pratos. Tinham que examinar travessa por travessa para tentar identificar cada alimento.
“Eu entro e vou vendo as outras mesas. Daí aponto pro garçom o que eu quero”, contou Gabriel. Amigos de Neymar contam que num restaurante em Rostov-von-Don, apesar de uma hora de espera, nem as bebidas tinham chegado. A reclamação foi feita na base do "Google tradutor". Então, um dos parceiros do astro da seleção foi levado à cozinha para ver que apenas uma senhora trabalhava para dar conta de muitos pedidos.
A dificuldade de encontrar russos que falem em inglês fez os parentes do camisa 10 se sentirem desconfortáveis em Moscou. O grupo agora está no mesmo hotel da seleção, em Sochi. Apenas parte dos funcionários tem inglês fluente.
Mas há também histórias engraçadas. No momento em que conversava com a reportagem no hotel da seleção brasileira, Gabriel avistou um grupo de garotos russos com uma bola e fez um gesto. Imediatamente recebeu a redonda e uma caneta para dar um autógrafo. “Eu só queria a bola [para brincar]”, explicou. Os meninos perguntaram aos brasileiros em volta, em russo (acredite, deu para entender), se ele era jogador. Ao ouvir que sim (na verdade é ex-atleta) e que seu nome é Gabriel, um deles disse em tom de empolgação: “Jesus?”. “Não, Jeová”, respondeu o parça de Neymar com bom humor.
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