Rodrigo Mattos

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ReportagemEsporte

Cinco lacunas nas acusações de Textor de manipulação do Brasileiro

O dono do Botafogo, John Textor, afirmou de forma incisiva que houve manipulação de resultado nos Brasileiro de 2022 e 2023. Citou dois jogos que teriam favorecido títulos do Palmeiras. Há lacunas, no entanto, nas acusações quando confrontadas com informações da empresa "Good Game!", responsável pelo relatório base do executivo para suas alegações - o norte-americano diz ter mais "provas".

Essas brechas sem explicação são expostas pelo próprio depoimento do Chairman da Good Game, Pierre Sallet, e o CEO, Thierry Hassanaly, em audiência pública no Senado em 20 de março. A sessão foi prévia à CPI de Apostas Esportivas no Senado. E também com o que foi apresentado ao STJD.

Senadores da CPI já pediram que a Polícia Federal investigue as acusações de Textor. E solicitaram sua convocação a depor na comissão. Dentro da comissão, haverá obrigação de dar respostas, e não só contribuição. A intenção é levá-lo a sério com chances de apresentar provas, mas também cobrá-lo se forem só suspeitas.

Mas, pela audiência prévia, senadores ficaram com a sensação de que a "Good Game!" é capaz de levantar suposições, mas não de comprovar manipulação. Isso é o contrário do que diz Textor, que afirma ter provas.

O blog identificou lacunas nas acusações de Textor de que dois jogos manipulados - Palmeiras x Fortaleza e Palmeiras x São Paulo - ao confrontá-las com a posição da empresa:

1) A Good Game informou que, para análise de manipulação, considera apenas o comportamento técnico de atletas em campo por meio de inteligência artificial e análise de especialistas. Não faz nenhum cruzamento com apostas ou supostos favorecimentos. Ao Senado, foi exposto um vídeo em que Hassanaly aponta erros técnicos de um jogador em um jogo aleatório. Diz ele que foi um jogo manipulado com base nessas observações.

"A gente analisa primeiramente o vídeo. Não temos informação sobre as apostas. Quando nós conduzimos uma investigação, aqui nós temos todos os elementos em termos das performances, dos jogadores, das condições. No caso presente, a partida foi jogada, nós não fizemos nenhuma ligação com o mercado de jogos", diz o executivo francês, que lembra que a manipulação pode também ter fins esportivos. Seu sistema alega ter 99% de certeza de manipulação após seu terceiro nível de análise.

Não foi explicado como a empresa chega à conclusão de que o jogador errou de propósito e não sem intenção. Não houve nenhuma análise das circunstâncias das partidas - pós-título, possível atleta desgastado, problemas psicológico. Pelo demonstrado em vídeo, a comparação feita pela empresa é de apontar erros técnicos em relação ao que seria ao gesto ideal de um defensor ou atacante naquele lance.

2) Em texto em seu site, Textor alegou que decidiu submeter só dois jogos "de vários" sob suspeita para revisão do Ministério Público Federal. São as duas partidas do Palmeiras que ele diz terem sido manipuladas, em 2022 e 2023.

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Ao Senado, a Good Game informou não fazer monitoramento em larga escala de jogos no Brasil. Na realidade, Hassanaly admitiu que analisou poucos jogos do Brasileiro: "Observamos no Brasil um número de partidas muito limitados. Não temos um diagnóstico, um número preciso para compartilhar com vocês".

Ou seja, não se sabe qual o critério para escolha dos jogos analisados, se foram apenas partidas do Palmeiras. Foram verificados jogos do Botafogo que contratou o estudo? Como se pode analisar só parte da liga sem analisar outras partidas e concluir por interferência no campeonato? Como a empresa tem ideia do contexto da Série A se pegou um número limitado de partidas para a análise?

3) Ao Senado, a empresa diz que não poderia informar quais jogos foram classificados como manipulados. Alegou que poderia afetar inquéritos judiciais. "Infelizmente, não podemos responder porque infelizmente são confidenciais. Se houver inquérito na Justiça, o caso não poderia ser concluído. Não podemos compartilhar as informações de forma pública", disse Hassanaly.

No entanto, poucos dias depois, Textor escreveu um texto público justamente revelando dois jogos que classificou como manipulados. Por que ele decidiu contar quais eram os jogos se isso afetaria o inquérito ou investigação posterior? As supostas evidências ficaram comprometidas por conta disso?

4) Ao Senado, a "Good Game!" admite que não tem como saber motivos para manipulação dos jogos do Brasileiro.

"No nosso sistema, dá para dizer que o árbitro está envolvido ou não? Será que houve manipulação? Será que a equipe A ou B está envolvida? Quem são os jogadores?", disse Pierre Sallet, que alega que as informações são sólidas.

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A empresa admite, portanto, que seu trabalho é apenas complementar uma investigação policial. Não há explicação de como chegaram a conclusão de que determinados atletas do Fortaleza e São Paulo manipularam jogos sem nenhum acesso a informações fora do campo, motivos para armações.

5) Textor alegou também que a CBF tinha sido alertada, em maio de 2023, sobre manipulações em jogos da Série A. Esse aviso foi feito em relação a uma partida do Brasileiro de 2022.

Sallet, diz que mandou um alerta por e.mail para a CBF. Mas admitiu, no entanto, que sequer sabe se o e.mail chegou para um responsável na CBF porque pode até ter caído em um Spam.

"Emitimos um alerta para operadores esportivos no Brasil e não tínhamos contrato com nenhuma federação brasileira. O que transmitimos foi o monitoramento de certas partidas que fornecemos à CBF. E nós pudemos assumir que pode ter caído no spam, ou não ter recebido de alguma forma. Não podemos saber, nem julgar essa falta de reposta", contou Sallet.

Além disso, na quarta-feira, Textor diz que tem "muito mais" do que o relatório da Good Game. E afirmou ter enviados provas ao STJD. Pois o STJD só recebeu o relatório da empresa "Good Game", nenhuma outra evidência foi apresentada para o tribunal.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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