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Rodrigo Mattos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Cruzeiro mostra que, na SAF, gestão esportiva conta tanto quanto contrato

Ronaldo, dono do Cruzeiro, assistiu de dentro do Mineirão ao jogo do acesso do clube à Série A - GUSTAVO DE MELO RABELO/PERA PHOTO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Ronaldo, dono do Cruzeiro, assistiu de dentro do Mineirão ao jogo do acesso do clube à Série A Imagem: GUSTAVO DE MELO RABELO/PERA PHOTO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

25/09/2022 04h00

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Quando foram revelados detalhes dos contratos, ficou claro que Ronaldo investiria menos dinheiro próprio no Cruzeiro do que os futuros donos de Vasco e Botafogo. Quando se analisa a gestão esportiva até agora, o ex-jogador tem tido melhor desempenho do que o novo dono do time da Estrela Solitária - a 777 Partners acabou de assumir o Cruz-Maltino.

Lembremos, o acordo entre Ronaldo e Cruzeiro só prevê um investimento real de R$ 50 milhões de seu capital. De resto, a gestão tem que gerar receitas incrementais dentro do próprio clube para atingir outros R$ 350 milhões. Só se não conseguir essa meta, ele tem de aportar mais dinheiro.

Portanto, o Cruzeiro partia de um injeção de capital menor do que Botafogo e, futuramente, do Vasco. John Textor, por exemplo, investiu na compra de direitos de vários jogadores.

Bem, neste contexto, os gestores de Ronaldo tomaram a primeira decisão certa: cortar na carne do elenco. Dispensaram jogadores caros como Fábio, mesmo com o desgaste da torcia, além de não levar Vanderlei Luxemburgo para seu comando técnico.

Foi buscar um técnico fora do radar no uruguaio Paulo Pezzolano. E montou um elenco espartano para a disputa da Série B, com uma gama de operários dispostos a se destacar para levar o time à Série A. A vaga foi conseguida com sete rodadas de antecedência, um recorde na competição. O estilo de jogo competitivo de Pezzolano fez a diferença na sequência de bons resultados que deixa o time disparado na Segundona.

"Ah, mas é Série B". Fato. Só que times como Vasco, Bahia e especialmente Grêmio contam com orçamentos pelo menos similares em patamar aos do Cruzeiro. E o clube sobrou em campo em relação a esses concorrentes.

A gestão também acertou ao criar uma relação próxima com a torcida cruzeirense. A gestão de Ronaldo foi abraçada pelos torcedores que elevaram o sócio-torcedor às portas dos 70 mil membros - o número inicial era próximo de 10 mil. É fruto da credibilidade e empolgação com o momento do time.

É muito cedo para dizer que o Cruzeiro SAF nas mãos de Ronaldo deu certo. Qualquer análise de um clube-empresa implica em anos e anos para entender se os objetivos iniciais foram atingidos. E ainda não temos acesso às contas da nova empresa do clube para saber como foi o equilíbrio entre receitas e gastos.

Além disso, o Cruzeiro terá um desafio muito maior na Série A. Haverá um salto de receitas pela televisão, mas também uma necessidade de elenco totalmente diferente. Em seu discurso, Ronaldo tem prometido mais esforço do que dinheiro. A ver o que será possível conseguir.

Feitas essas relevantes ressalvas, não dá para negar os méritos desse primeiro ano de gestão de Ronaldo e seus aliados na SAF. Transformou a imagem do Cruzeiro em um clube irresponsável financeiramente em eficiente. A bela festa da torcida no Mineirão na vitória sobre o Vasco foi um símbolo desta nova realidade.