Mauro Cezar Pereira

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Fla: de adversária a aliada, Landim não vê contradição no apoio de Patrícia

Nota publicada no jornal O Globo informa que Deborah Frochtengarten (ex-nadadora) sera a nova vice-presidente de Esportes Olímpicos do Flamengo, no lugar de Guilherme Kroll, um dirigente controverso (leia o que o blog publicou sobre sua posse em 2020). O nome seria uma indicação de Patrícia Amorim, a presidente que deixou o clube com uma dívida superior a R$ 750 milhões há pouco mais de 11 anos - clique aqui e leia.

Quando foi formado o grupo original do qual o atual mandatário, Rodolfo Landim, fez parte, o objetivo era derrotá-la nas eleições de dezembro de 2012. O que aconteceu com a vitória de Eduardo Bandeira de Mello, lançado candidato em 9 de novembro de 2012, 24 dias antes do pleito do dia 3 de dezembro, ante a impossibilidade de disputa da chapa que teria Wallim Vasconcellos candidato a presidente e o próprio Landim como vice.

De adversária número 1, Patrícia virou aliada do atual presidente, que um dia após sua eleição, no final de 2018, admitiu em entrevista ao programa Bola da Vez, da ESPN, tê-la na gestão. A repercussão foi péssima e a ideia deixada de lado, com grupos políticos ameaçando retirar o apoio à nova gestão se ela ocupasse algum cargo.

Hoje, Rodolfo Landim não parece incomodado com o que a aproximação da ex-presidente possa causar, não só na política do clube como entre os torcedores em geral. E segue admitindo proximidade com Patrícia Amorim, que mantém certa influência política em alguns núcleos na Gávea, a ponto de não ver contradição, mesmo após seu grupo tê-la como antagonista em 2012.

Por WhatsApp, o presidente do Flamengo, com mandato até 31 de dezembro e que não poderá se candidatar à nova reeleição, respondeu perguntas do blog.

Por que a Patrícia Amorim voltou a ter certa influência na administração do Flamengo, sendo ela um símbolo daquilo que o seu grupo combatia ferozmente em 2012?

Na verdade, ela vem apoiando a minha gestão desde o inicio, no entanto, nunca teve participação na gestão. Mas acredito que sua pergunta se prende ao fato da Deborah (Frochtengarten), pessoa que escolhi para o lugar do (Guilherme) Kroll ser realmente amiga dela. A Debora foi uma escolha pessoal minha. Ela é uma mulher, algo que não tinha ainda conseguido indicar para a vice-presidência, é uma atleta laureada do Flamengo de alto nível que trabalhou com gestão esportiva nos últimos 30 anos. Além disso, é uma pessoa que conheço há anos. Deleguei a ela a iniciação esportiva dos meus filhos muitos anos atrás, sou amigo pessoal da mãe dela, que trabalhou anos na minha equipe na BR (Petrobras). Tenho a certeza de que os esportes olímpicos estarão muito bem com ela dirigindo a pasta, tendo a vantagem de equilibrar mais a equipe por ter sua história ligada aos esportes aquáticos.

Não lhe parece contraditório contar com o apoio de quem deixou a presidência do Flamengo com uma dívida gigantesca e inúmeros processos na justiça do trabalho?

De modo algum. A nossa chapa se chamou UNIFLA exatamente por pregar a união das diferentes correntes politicas do clube em prol de um bem comum. O cimento que nos uniu foi um projeto de governo com princípios, ações e metas bem estabelecidas. Fizemos um Plano de Gestão extenso e buscamos o apoio de todos os sócios do clube indiscriminadamente. Uma das coisas que me deixa mais feliz é hoje ver pessoas que tinham uma relação conflituosa estarem trabalhando juntas e alinhadas pelo bem do Flamengo. O sucesso que tivemos nesses pouco mais de cinco anos se deve em grande parte a isso. O Flamengo unido é muito difícil de ser batido.

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Em entrevista à Fox Sports, então candidato, em 2018, o senhor contou que quando vice de planejamento no primeiro mandato de Bandeira de Mello se envolveu diretamente das negociações das dívidas do Flamengo. Ou seja, o senhor teve participação direta no combate do endividamento que foi herdado da gestão de Patrícia Amorim. Hoje não a vê como um símbolo daquele Flamengo endividado e que atrasava salários?

Sinceramente não, até porque a origem da maior parte da dívida do clube que vinha sendo rolada por muito tempo não ocorreu na gestão dela. Não tenho nem nunca tive nada contra a presidente Patrícia nem contra ninguém no Flamengo. E sou grato a todo apoio e demonstração de confiança que recebo para administrar o clube. Hoje, cabe a mim escalar a equipe e fazê-la trabalhar para atingir nossos objetivos. Os sócios do clube depositaram a confiança de fazer esse trabalho em mim e quando me ofereci para ser presidente, sabia o que estava à minha espera.

Mas presidente, quando Patrícia Amorim assumiu a presidência, o clube devia cerca de R$ 330 milhões, a dívida após o primeiro ano de mandato dela estava em R$ 350 milhões, dois anos depois ela saiu da presidência e a auditoria que vocês contrataram constatou endividamento superior a R$ 750 milhões, muitos impostos não eram pagos, além de dívidas trabalhistas etc. O senhor não acha que foi na gestão de Patrícia Amorim que o clube chegou ao ponto mais fundo e perigoso em suas finanças?

Cuidado! Não temos como comparar os números antes e depois de nossa entrada porque os balanços eram feitos de forma completamente diferente. Por exemplo, não estava lançada no balanço a dívida do Consórcio Plaza (de origem anterior à gestão da presidente Patrícia) porque em uma reunião de Conselho Deliberativo havia sido aprovada a proposta de não considerá-la. Como se negar que algo que existia de fato fosse eliminar a nossa obrigação. Mas esqueça isso, nunca busquei arrumar culpados de nada até porque não sei as dificuldades que cada presidente encontrou. A gente dirige olhando para a frente. Quem fica olhando pelo retrovisor o tempo todo, acaba batendo com o carro.

Na sua avaliação, então, a dívida cresceu exponencialmente na gestão da Patrícia Amorim também pela admissão da dívida que citou?

Só estou dizendo que não tivemos a evolução anual da dívida do Flamengo baseada nos mesmos critérios que utilizamos a partir da nossa chegada. Ou melhor, não temos.

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Sim, porque o Consórcio Plaza cobrava R$ 60 milhões, menos de 10% da dívida aferida em auditoria no ano de 2013. Além disso as contas da gestão de Patrícia Amorim referentes a 2011 foram inicialmente reprovadas quando o senhor já ocupava a vice-presidência de planejamento. Acabaram sendo aprovadas apenas em maio de 2024. Daí meu questionamento a respeito, eram inúmeros e sérios problemas financeiros ao final da gestão.

Ninguém aqui está negando isso. Mas problemas financeiros sempre existiram antes. Tivemos atrasos históricos de salários em várias outras gestões, o famoso "o dinheiro acabou" (Nota do blog: frase do então presidente Márcio Braga, em 23 de janeiro de 2009, durante entrevista coletiva; vídeo acima) e por aí vai. De novo, o importante é que são tempos passados e superados.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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