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Marcel Rizzo

REPORTAGEM

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Ucrânia candidata à Copa de 2030 agrada a Fifa e preocupa a América do Sul

Ucrânia se junta a Espanha e Portugal na tentativa de receber a Copa do Mundo de 2030 - Reprodução/RFEF
Ucrânia se junta a Espanha e Portugal na tentativa de receber a Copa do Mundo de 2030 Imagem: Reprodução/RFEF

Colunista do UOL

10/10/2022 14h00

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A entrada da Ucrânia na candidatura europeia para sede da Copa do Mundo de 2030, junto com Portugal e Espanha, foi considerada nos bastidores da Fifa uma "tacada de mestre" da Uefa (União Europeia de Futebol), entidade que avalia a proposta. E preocupou dirigentes da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), que patrocina a outra candidatura conjunta já divulgada, de Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai.

O anúncio de que os ucranianos se associaram ao projeto europeu se dá com o aumento de tensão entre Rússia e Ucrânia, que desde fevereiro estão em guerra. No fim da semana passada uma ponte estratégica que liga o território russo à Crimeia foi atacada com explosivos. Nesta segunda-feira (10), a Rússia revidou com bombardeios contra a capital da Ucrânia, Kiev.

A sede da Copa de 2030 será definida no Congresso da Fifa em 2024, em local a se definir. A cúpula da Fifa, oficialmente, não tem ingerência na decisão, que cabe ao voto das 211 associações filiadas. É função da federação internacional montar o caderno de encargos, com as exigências aos países candidatos, e envio dos especialistas para as inspeções. Os relatórios são elaborados e repassados aos filiados, e mesmo uma candidatura que tenha avaliação pior do que outra pode ganhar, caso seja a mais votada.

Internamente, entretanto, a direção da Fifa se movimenta e faz política. Para 2030, que será a segunda Copa com 48 participantes (a primeira será em 2026, nos EUA, México e Canadá), o desejo de quem manda na federação internacional era de realizar o primeiro Mundial organizado por mais de uma confederação, ou seja, em mais de um continente.

Primeira ideia foi a de incluir Marrocos, na África, na candidatura europeia com Portugal e Espanha. Geograficamente faz até mais sentido do que ter a Ucrânia no projeto, já que Marrocos e Espanha estão separados pelo estreito de Gibraltar — Casablanca, a principal cidade marroquina, está a 1.100 km de Madri, enquanto Kiev está a 3.620 km da capital espanhola.

A direção da Uefa rejeitou. A relação entre europeus e a Fifa não é das melhores, tanto que a confederação foi das principais críticas ao plano da federação internacional de mudar a periodicidade da Copa do Mundo de quatro para dois anos, ideia que foi engavetada.

Uma segunda proposta, vazada à imprensa, foi a de uma candidatura não de dois, mas de três continentes: Arábia Saudita (Ásia), Egito (África) e Grécia (Europa). Os sauditas são, hoje, os principais aliados do presidente da Fifa, Gianni Infantino — partiu deles, por exemplo, a sugestão de transformar a Copa em uma competição bienal.

O plano esbarrou no fato de que a Europa já tem sua candidatura e não daria suporte aos gregos. Mas mesmo sem abranger mais continentes, a entrada da Ucrânia no projeto europeu se encaixa no que, no fim das contas para a Fifa, é uma disputa pela Copa do Mundo: política.

Dar aos ucranianos jogos de um Mundial, mesmo que poucos, alguns anos após uma guerra (espera-se, claro, que até 2030 o conflito tenha terminado), abre o leque para a federação internacional trabalhar planos de legado ao país, o que sempre rende boa imagem à entidade e atrai parceiros.

Segunda candidatura já anunciada, a sul-americana sofreu um baque com o anúncio dos europeus. Hoje, o principal trunfo da Conmebol é fraco: resgate histórico para comemorar os 100 anos da Copa do Mundo na terra onde tudo começou. A final do Mundial no projeto seria no estádio Centenário, no Uruguai, país que recebeu a primeira edição do torneio de seleções da Fifa.

O sonho sul-americano começou com candidatura dupla, de Uruguai e Argentina, e depois agregou primeiro o Chile, depois o Paraguai. Por quê? Política, como sempre — a Conmebol busca manter boas relações não só com suas federações filiadas, mas também com os governos. E só não houve a entrada de um quinto componente, a Colômbia, porque a Fifa brecou a ideia de uma candidatura quíntupla.

Hoje, na Fifa, a candidatura europeia é dada como favorita para 2030. Os sul-americanos poderiam se contentar com 2034, como Atenas, que perdeu o centenário dos Jogos Olímpicos em 1996 para Atlanta (EUA), mas ganhou o evento oito anos depois, em 2004. O problema é que para 2034 a China, que tem hoje algumas empresas que patrocinam a Fifa, tem interesse.