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Marcel Rizzo

REPORTAGEM

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Argentina deve culpar CBF por erro em protocolo e esquentar disputa na Fifa

Agentes da Anvisa interrompem partida entre Brasil e Argentina, em São Paulo - Alexandre Schneider/Getty Images
Agentes da Anvisa interrompem partida entre Brasil e Argentina, em São Paulo Imagem: Alexandre Schneider/Getty Images

Colunista do UOL

07/09/2021 04h00

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A nota publicada pela CBF nesta segunda-feira (6), em que afirmou ter avisado três vezes os argentinos sobre as restrições sanitárias para entrada no Brasil, azedou de vez a relação com a AFA (Associação do Futebol Argentino).

Nos bastidores, os argentinos reclamam que pelo protocolo da confederação sul-americana para as Eliminatórias da Copa é responsabilidade do mandante a parte operacional do confronto e, no caso, pedir exceção para acesso ao país de membros da delegação visitante. Uma portaria do Governo Federal de junho exige quarentena de pessoas que tenham passado pelo Reino Unido nos últimos 14 dias, caso de quatro atletas argentinos que acabaram entrando ilegalmente no país.

A posição da CBF visa defesa perante a Comissão de Disciplina da Fifa, que vai decidir o que fazer após o cancelamento do jogo no domingo. Regulamento prevê que ele pode ser reiniciado de onde parou, mas isso é improvável por falta de datas. Os brasileiros vão alegar que os argentinos desistiram do jogo, o que significaria o WO (vitória por 3 a 0), enquanto os argentinos vão alegar que os brasileiros eram os responsáveis por organizar o jogo e falharam, o que significaria pontos para os visitantes. Não há data para sair um resultado.

Brasil x Argentina, pelas Eliminatórias da Copa-2022, foi interrompido aos cinco minutos do primeiro tempo, neste domingo (5), depois que representantes da Anvisa entraram no campo para exigir a retirada do jogo dos quatro atletas argentinos. Segundo a Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária), a delegação argentina omitiu na documentação de entrada a informação de que os jogadores estiveram no Reino Unido recentemente e a Polícia Federal já investiga se houve falsidade ideológica. Apesar de negar falsificação, a AFA até agora não explicou por que houve essa omissão.

A coluna apurou que a direção da associação argentina argumentou para a cúpula da Conmebol que caso soubesse que Emiliano Martínez, Cristian Romero, Giovani Lo Celso e Emiliano Buendía não poderiam entrar no Brasil, teria solicitado a mudança de sede da partida para um campo neutro, como orienta o protocolo.

O texto do documento diz que caso haja restrições sanitárias em um país, o mandante terá que arrumar outro lugar para jogar e arcar com os custos. Houve casos assim em torneios de clubes da Conmebol, que utilizam um protocolo semelhante. O Independiente Del Valle, por exemplo, teve que jogar com o Grêmio fora do Equador porque o governo local proibiu o confronto após casos de covid-19 no time brasileiro. Mesmo sendo uma restrição de parte do elenco, seriam quatro jogadores, os argentinos poderiam pedir a mudança do local da partida com base no protocolo.

Informalmente eles usam essa informação para afirmar que não tiveram má-fé ao viajar com os atletas, até porque se baseavam num acordo de flexibilização sanitária que a Conmebol tem com os governos dos dez países filiados. Mas, novamente, não houve até agora explicação sobre o motivo da omissão de dados dos jogadores nos documentos de entrada no país e porque dificultaram o acesso das autoridades aos atletas na véspera e dia da partida.

Na nota publicada esta tarde, a CBF diz que só participou como observadora da negociação da AFA com as autoridades brasileiras e que por três vezes, em julho, agosto e setembro, enviou por ofício à Conmebol e federações as leis sanitárias do Brasil. Não há menção, entretanto, a pedido de excepcionalidade aos adversários, como ocorreu na Copa América.