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Marcel Rizzo

REPORTAGEM

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Fifa busca apoio de atletas para Copa a cada 2 anos com Haaland de exemplo

Haaland marcou o gol da Noruega no empate contra a Holanda nas Eliminatórias europeias da Copa do Mundo de 2022 - AFP
Haaland marcou o gol da Noruega no empate contra a Holanda nas Eliminatórias europeias da Copa do Mundo de 2022 Imagem: AFP

Colunista do UOL

03/09/2021 04h00

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A Fifa busca apoio de jogadores para seu projeto de realizar a Copa do Mundo a cada dois anos. A ideia já avança, como mostrou a coluna, com respaldo de federações filiadas e promessa de revezamento entre os continentes como sedes. Para os atletas, a proposta foca a ideia de que vários profissionais perdem a chance de disputar o Mundial no auge da carreira com o hiato atual de quatro anos.

A direção da federação internacional quer criar uma comissão com jogadores e ex-jogadores que viajem o mundo defendendo a ideia — embaixador da Copa do Mundo de 2022 no Qatar, o brasileiro Cafu é cotado para fazer parte do grupo.

Mesmo sem ter ainda algo articulado, alguns ex-atletas já se manifestaram favoráveis ao projeto. Em 15 de agosto, o marfinense Yaya Touré postou em sua conta no Twitter que "jogar a Copa do Mundo a cada dois anos ajudará a África a se desenvolver e é crucial para os jogadores africanos competirem em alto nível para ganharem experiência valiosas". Touré jogou três Copas, em 2006 (Alemanha), 2010 (África do Sul) e 2014 (Brasil).

O argentino Javier Mascherano, vice-campeão mundial em 2014, disse em recente entrevista à agência EFE que num primeiro momento a ideia pareceu estranha, mas que depois entendeu que seria uma mudança no calendário que, segundo ele, pode beneficiar os jogadores.

"Do ponto de vista do jogador, ninguém pode imaginar a pressão que se tem quando um único erro pode arriscar a única chance na vida de chegar ou ir longe em uma Copa do Mundo. E é muito cruel ter que esperar mais quatro anos para ganhar uma Copa", disse Mascherano.

Mais chances de participar de uma Copa, e disputá-la no auge da carreira, é o combo que o projeto da Fifa, tocado por um grupo criado para apresentar planos de mudanças no calendário e que é comandado pelo ex-técnico do Arsenal Arsene Wenger, apresenta aos jogadores.

O argumento é que o ciclo de quatro anos é longo demais para profissionais que convivem com lesões e altos e baixos normais de uma carreira em esporte de alto rendimento. Muitos despontam em um ano de Mundial, mas suas seleções não estão classificadas ou eles não têm tempo hábil de serem convocados, e quatro anos depois não estão no mesmo nível técnico e físico.

Informalmente, o fenômeno norueguês Erling Haaland, atacante do Borussia Dortmund (ALE), tem sido usado como exemplo. Aos 21 anos, ele disputa pela Noruega as Eliminatórias europeias para o Qatar-2022 em um grupo difícil e nesta quarta-feira (1) fez um gol no empate por 1 a 1 contra a Holanda. O resultado deixou os noruegueses em quarto, atrás de Turquia, Holanda e Montenegro - somente o vencedor de cada chave se classifica direto ao Mundial, com os segundos disputando uma repescagem.

Se a Noruega não for ao Qatar, Haaland só terá novamente a chance de jogar uma Copa em 2026, quando estará completando 26 anos. Impossível prever como estará, tecnicamente e fisicamente — em um formato bienal, ele já teria nova oportunidade aos 23 anos.

A Copa do Mundo a cada dois anos seria mais uma peça na alteração organizacional que a Fifa planeja para o futebol depois de 2024. O grupo liderado por Arsene Wenger discute deixar um ou dois meses anuais exclusivos para jogos de seleções e o restante para competições nacionais e continentais de clubes, além das férias.

Seriam menos datas-Fifa, hoje distribuídas em nove dias por cinco meses ao ano, mas que seria compensada com a Copa do Mundo a cada dois anos. Poderia ser o fim, ou ao menos a diminuição, das tensões entre federações e clubes na liberação de jogadores às seleções, como as que ocorrem agora em setembro. Algumas ligas, como a inglesa, vetaram a viagem de atletas para as Eliminatórias na América do Sul alegando que quarentenas exigidas por causa da covid-19 prejudicariam a utilização dos convocados no retorno.

A CAF, a confederação africana, já sinalizou que pode apoiar em bloco a Copa bienal caso ela entre na pauta de um Congresso futuro — já seriam garantidos assim 56 dos 211 votos possíveis. Nas últimas semanas federações da Ásia, como Nepal e Bangladesh, se mostraram favoráveis e a Fifa aposta que associações menores da Concacaf (Confederação das Américas do Norte, Central e Caribe) também devem se posicionar a favor em breve.

Quem apresentou a proposta foi a federação da Arábia Saudita, no Congresso realizado virtualmente no fim de maio. Na verdade um ato burocrático, já que o movimento para se analisar a ideia partiu do grupo liderado por Wenger, mas que precisava de uma federação bancando. Caso a comissão criada dê o parecer positivo, será preciso a aprovação via Congresso, com voto das 211 federações filiadas — são encontros anuais, realizados entre maio e junho e o próximo será em 2022.