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Marcel Rizzo

REPORTAGEM

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Tite é multado pela Conmebol por reclamar da organização da Copa América

Tite durante partida da seleção brasileira na Copa América: técnico foi multado - Wagner Meier/Getty Images
Tite durante partida da seleção brasileira na Copa América: técnico foi multado Imagem: Wagner Meier/Getty Images

Colunista do UOL

24/06/2021 11h57

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A Conmebol multou o técnico da seleção brasileira, Tite, em US$ 5 mil (R$ 24,6 mil) por criticar a organização da Copa América. O valor será debitado da premiação que a CBF receberá ao final da competição, em julho.

A coluna apurou que o motivo da punição foi o teor de parte da entrevista concedida pelo treinador em 12 de junho, na véspera da abertura da competição em Brasília — o Brasil venceu a Venezuela por 3 a 0 no estádio Mané Garrincha.

Tite usou duas vezes a palavra "atabalhoada" para descrever a organização do torneio e mencionou os alvos de suas declarações: "É uma crítica direta à Conmebol e a quem decidiu, dentro da CBF, ser a Copa América aqui [no Brasil]", disse o treinador na ocasião.

Provocado pela unidade disciplinar da Conmebol a analisar a declaração do treinador, o presidente da Comissão Disciplinar, o paraguaio Eduardo Gross Brown, decidiu pela multa e uma advertência no dia 19 de junho usando parte do artigo 12 do Código Disciplinar, o de princípios de conduta.

Tite foi enquadrado no 12.2, parágrafos B (comportar-se de maneira ofensiva, insultante ou manifestações difamatórias de qualquer índole), D (insultar de qualquer maneira ou qualquer meio a Conmebol ou seus dirigentes e oficiais) e E (utilizar um evento desportivo para realizar declarações de caráter extra desportivo).

Na denúncia, atabalhoada foi traduzida em espanhol para desastrosa e o departamento jurídico da CBF, na defesa, alegou que Tite utilizou o termo no sentido de "ás pressas", o que seria um fato já que o torneio foi confirmado para o Brasil 13 dias antes da abertura.

Tite usou a palavra atabalhoada para falar da organização do torneio ao se referir ao surto de casos de covid-19 que abateu a delegação da Venezuela na véspera de enfrentar o Brasil — 12 casos positivos, sendo oito jogadores. Também criticou o torneio ser realizado no Brasil, em meio à pandemia, depois de as sedes originais, Colômbia e Argentina, desistirem da organização.

"Eu pedi e os atletas pediram, o Juninho [Paulista, coordenador da seleção] pediu, ao presidente da CBF antes de levar ao presidente da República e ao país, colocamos a situação de que não gostaríamos [de sediar a Copa América] pelo respeito, por todo o envolvido, um lado sentimental. Foi pedido tempo para nós, mas a situação foi confirmada e ficamos expostos. A partir de então decidimos nos manifestar todos de forma conjunta, mas já que foi definida [a realização da competição] temos orgulho do nosso país, de representar a seleção brasileira, então colocamos nosso trabalho tendo nossas opiniões fora daqui. Isso é respeito à instituição também. Somos contrários à organização da Copa América", disse o treinador.

Tite é o segundo participante do torneio a ser punido por críticas à organização. O primeiro foi o atacante boliviano Marcelo Moreno, que foi suspenso por uma partida e multado em US$ 20 mil (R$ 101 mil) ao reclamar dos casos de covid-19, mais de 100, já diagnosticados na competição. "Obrigado a vocês da Conmebol por isso. A culpa é totalmente de vocês. Se morre uma pessoa, o que vocês vão fazer? O que importa é somente o dinheiro, a vida do jogador não vale nada".

Antes de começar o campeonato, a Conmebol aceitou uma manifestação dos jogadores da seleção brasileira, feita em texto único na rede social de cada um dos atletas, com críticas ao torneio. Houve, segundo apurou a coluna, um acordo informal para que os atletas pudessem se manifestar sem punição, desde que as críticas não fossem pesadas. A entidade temia que um boicote de jogadores atrapalhasse a organização do torneio.

Mesmo multado, Tite continua criticando a Copa América. Depois da vitória de 2 a 1 sobre a Colômbia nesta quarta-feira (23), o treinador detonou o gramado do estádio Nilton Santos, o Engenhão, no Rio.