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Marcel Rizzo

Corinthians: como eleição pode atrapalhar o futuro de Tiago Nunes

Tiago Nunes comanda o Corinthians contra o Guaraní, pela Libertadores. Time foi eliminado antes da fase de grupos - Jorge Adorno/Reuters
Tiago Nunes comanda o Corinthians contra o Guaraní, pela Libertadores. Time foi eliminado antes da fase de grupos Imagem: Jorge Adorno/Reuters

Colunista do UOL

24/02/2020 04h00

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Em fevereiro de 2011, o Corinthians era eliminado da Libertadores pelo Tolima em Ibagué, na Colômbia. Foi o primeiro time brasileiro a cair antes da fase de grupos, o que se convencionou no Brasil a chamar de Pré-Libertadores, mas que de fato é a fase inicial do torneio. Foi uma ducha de água fria no trabalho de Tite, que se iniciou pouco antes, em outubro de 2010.

Pule nove anos. É fevereiro de 2020 e o Corinthians cai para o Guaraní, do Paraguai, também antes de chegar à fase de grupos da Libertadores. Uma pancada no começo do trabalho de Tiago Nunes, que foi contratado em novembro de 2019, mas assumiu apenas em janeiro.

As duas eliminações têm em comum Andrés Sanchez, presidente do Corinthians em 2011 e 2020 em último ano de mandato. Nove nos atrás ele ignorou a pressão para demitir Tite. A Libertadores era a pedra no sapato do clube, que nunca a havia conquistado e uma eliminação precoce como aquela derrubaria nove entre dez técnicos. Tite, não. Sanchez o bancou, não só porque queria dar mais tempo ao treinador, mas também por falta de opções no mercado e por não querer se endividar ao pagar multa rescisória.

Tite ficou e a história não deixa mentir: foi campeão brasileiro em 2011, ainda sob gestão de Sanchez, e em 2012, já como presidente Mário Gobbi, então do grupo da situação, chegaram os títulos da Libertadores e do Mundial de Clubes. Até hoje a manutenção do técnico após a eliminação para o Tolima é lembrada por correligionários de Sanchez como seu maior acerto como presidente do clube.

Algo parecido ocorre agora com Nunes. Não é só a derrota para o Guaraní, mas o desempenho do Corinthians não corresponde ao que se esperava. O trabalho está começando, fato, mas derrotas no Paulista para times bem mais fracos como a Inter de Limeira e o Água Santa não repercutiram bem no Parque São Jorge. E há um consenso dentro do clube: a situação em 2020 é bem diferente de 2011, ou seja, Sanchez talvez não tenha poder de fogo para bancar Nunes como fez com Tite. Por quê?

Nove anos atrás, o grupo político comandado pelo ex-deputado federal era soberano no clube. A derrota para o Tolima ou o a perda do Paulista na final contra o Santos não diminuíram esse poder do "Renovação e Transparência". Mesmo se Tite não ganhasse o Brasileiro em 2011, nada impediria a eleição de Mário Gobbi no início de 2012. Hoje isso não é mais uma verdade — lembrando que Sanchez não pode se reeleger.

O próprio Gobbi, que se desligou do "Renovação e Transparência", surge como pré-candidato de oposição. Ele poderia ser o cabeça de um grupo que sempre se dividiu nas eleições, como Antônio Roque Citadini e Romeu Tuma Jr.

Há Paulo Garcia, dono da rede de papelarias Kalunga que já tentou ser presidente algumas vezes. Hoje ele é próximo de Sanchez, mas ainda é improvável que seja apoiado pelo atual presidente na eleição de novembro. Se o "Renovação e Transparência" lançar um candidato para tentar um quinto mandato seguido, e fala-se no diretor de futebol Duílio Monteiro Alves, hoje não há garantia que esse grupo será o vencedor. E isso pode influenciar e muito o departamento de futebol.

Se o Corinthians não engrenar com Nunes, esses resultados podem influenciar diretamente na eleição. Por mais que um clube como o do Parque São Jorge tenha vários departamentos, ainda é o futebol que sustenta uma eleição. Com derrotas dentro de campo, em uma disputa de votos que promete ser apertada pode ficar mais fácil trocar do que manter um treinador.

Para azar de Tiago Nunes, ele pode ser o sacrificado para se vencer uma eleição.