Juca Kfouri

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Opinião

A desfaçatez de Robinho

Alguém, difícil saber se ligado à advocacia ou à mídia, treinou Robinho para a infame entrevista concedida à TV Record (que não ouviu a vítima).

Deve-se conceder que à medida que ele se mostrava bem treinado, cada pedalada que dava só piorava sua situação.

A começar pelo começo: ele não será julgado novamente porque a Justiça italiana já o fez; o que estará sob julgamento no STJ é o cumprimento ou não da pena de nove anos de prisão em cárcere brasileiro.

As "provas" que Robinho diz ter constam do processo que o condenou e as contradições dele são tantas que seria ocioso reproduzir, porque inúteis perante três instâncias judiciais italianas.

A descontextualização que alega das revelações da reportagem do UOL Esporte, "Os grampos de Robinho", feita por Adriano Wilkson e Janaina Cesar, morre em suas primeiras desculpas.

Nas gravações ele diz que a vítima estava tão bêbada que não o reconheceria; na entrevista alega que o sexo oral que fizeram foi consentido e que ela estava em pleno domínio de suas ações.

Diz ele também que ela mandou mensagem dizendo que esperaria sua mulher ir embora para se aproximar, quando a mensagem e de um de seus parceiros para a vítima.

Quando Robinho alega ter sido condenado por ser negro, argumento que no mais das vezes faz sentido, fica claro o quanto recebeu instruções, porque só agora esgrime a ponderação.

Em entrevista ao UOL, para o repórter Eder Traskini, três anos atrás, ele disse confiar na Justiça italiana.

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Até mesmo o cenário, ele de branco, Carolina Ferraz, a apresentadora do programa também, a sala, tudo escolhido a dedo, sem impurezas, faltou só um crucifixo, talvez porque Edir Macedo tenha achado que seria demais.

Imaginar que algum ministro, entre 12 homens, ou alguma ministra, três, do Superior Tribunal de Justiça, se impressionará com seu depoimento é fazer pouco da inteligência alheia.

Robinho pergunta como pôde ser condenado se o DNA dele não apareceu no corpo da vítima, mas esconde o óbvio: como constatar DNA, dias depois, numa relação de sexo oral, o que, aliás, ele não considera ter sido uma relação sexual?

Estrategicamente a defesa de Robinho resolveu expô-lo três dias antes do julgamento, na próxima quarta-feira, 20 de março com transmissão pela TV Justiça, às 14h.

De fato, Robinho usou a entrevista para culpar a vítima e lembrar que tem mãe, filha e mulher.

Em nome delas, seria melhor não aparecer tão cínico.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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