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Semifinais da Champions mostram que time rico nem sempre é time grande

Terça-feira, 7 de maio, Paris. Aos 43 minutos do segundo tempo, o PSG perdia por 1 a 0 para o Borussia Dortmund e tentava um gol de empate para manter vivas as chances de ir à final da Champions League.

Dembelé avança pela direita, toca para trás e Vitinha chuta de fora da área. A bola explode no travessão. O PSG, apesar da pressão no campo rival, não consegue um único gol e cai diante dos alemães.

Quarta-feira, 8 de maio, Madri. Aos 43 minutos do segundo, o Real Madrid perdia por 1 a 0 para o Bayern de Munique e tentava um gol de empate para manter vivas as chances de ir à final da Champions League.

Vini Jr. recebe pela esquerda e chuta de fora da área. A bola quica, e Manuel Neuer — um dos melhores goleiros da história — falha. Joselu aproveita o rebote e marca o gol de empate do Real Madrid. Aos 46, o atacante reserva, emprestado por um time rebaixado, volta a marcar. O Real Madrid conquista a vaga para sua 18ª final do maior torneio de clubes da Europa.

Os dois lances, separados por 24 horas, mostram a diferença fundamental entre o clube que mais investiu (e fracassou) na Champions League na última década e o que conquistou a metade dos títulos desde 2013-14.

Kylian Mbappé, do PSG, se lamenta durante jogo contra o Borussia Dortmund pela Liga dos Campeões
Kylian Mbappé, do PSG, se lamenta durante jogo contra o Borussia Dortmund pela Liga dos Campeões Imagem: Matthias Hangst/Getty Images

Eles são muito mais do que sorte ou azar. Se "a bola não entra por acaso", ela também não bate na trave tantas vezes por acaso.

Aos 43 minutos do segundo tempo, no Parc des Princes, o PSG deixava de acreditar numa virada ao ver, chance após chance, a bola estampar as três traves do gol defendido por Kobel.

Aos 43 minutos do segundo tempo, no Santiago Bernabéu, nenhuma alma ousava duvidar que o Real Madrid seria capaz de empatar ou até mesmo virar o jogo, como aconteceu. Porque não seria a primeira vez — e ninguém se arriscará a dizer que foi a última.

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Desde 2011, quando foi comprado pelo fundo de investimentos esportivos do Qatar, o PSG tornou-se um time rico, poderoso, vencedor absoluto em seu país e capaz de chamar atenção por, entre outras coisas, reunir Neymar, Mbappé e Messi no mesmo ataque.

Só que a riqueza, o poder e os títulos franceses não entram em campo aos 43 minutos do segundo tempo de uma semifinal de Champions League.

Nas noites europeias, assim como nos jogos fundamentais da Libertadores e nos momentos decisivos de Copas do Mundo, há uma entidade que opera regida por regras próprias. Há quem chame de "Deuses do futebol", outros de magia, aura. Os saudosistas rotulam de "peso da camisa"; os indignados, de "pacto".

Seja qual for o nome de tal entidade, ela se manifesta com clubes, competições e lugares específicos. A combinação Real Madrid, Santiago Bernabéu, Champions League é a síntese desse fenômeno.

Jorge Valdano, campeão do mundo com a Argentina e ídolo do clube merengue, batizou de "medo cênico" dos rivais; Juanito, outra bandeira madridista, disse que "90 minutos no Bernabéu são muito longos".

Para entender o fenômeno, talvez seja preciso estar em campo, ou bem perto dele, em uma noite de Champions League no estádio. É dali que se percebe que, nos lances finais do jogo, os jogadores vestidos de branco se olham de maneira diferente, imbuídos de uma autoconfiança imensurável e inexplicável.

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É como se, de repente, Di Stéfano, Puskas, Paco Gento e Kopa entrassem em campo. É como se todos os jogadores do Real Madrid tivessem a certeza absoluta da vitória, e o adversário soubesse disso. Quando o time joga bem, como fez contra o Bayern, as chances do rival se reduzem a quase zero.

Na falta do consenso por uma nomenclatura, basta dizer que se trata de uma demonstração de grandeza. É quando o time mostra que é, de fato, grande.

O dinheiro pode até comprar títulos (no caso do PSG na Champions, nem isso). Mas a grandeza não está à venda.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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