Aranha quer novo final no Allianz e diz que caso de racismo o prejudicou
Em um espaço de nove anos, Aranha volta ao Palestra Itália para uma decisão. As lembranças daquela final de Campeonato Paulista são amargas, e o experiente goleiro de 36 anos tem neste sábado, às 19h (de Brasília), uma nova oportunidade para reescrever a história. Contra o Palmeiras, a Ponte Preta entra com uma vantagem de 3 a 0 obtida no primeiro jogo.
Agora no remodelado Allianz Parque, Aranha quer um final diferente. Em 2008, ainda no velho Palestra Itália, o Palmeiras venceu por 5 a 0 e conquistou pela última vez o título estadual. Agora, a equipe campineira luta por uma vaga na decisão, e qualquer cuidado é tratado como essencial para o clube do interior enterrar o trauma anterior.
“No futebol não tem uma lógica exata. Tudo pode acontecer no futebol. Vimos de tudo. De repente, um placar de 1 a 0 não ser revertido, e um de 4 ou 5 a 0 ser revertido. Tem muitos exemplos, não só PSG e Barça. Temos que fazer o nosso trabalho bem feito e que passe o mais competente”, disse o goleiro em entrevista exclusiva ao UOL Esporte..
Aranha não se limitou a falar apenas sobre o confronto decisivo deste sábado. O veterano relembrou a história dolorida de 2008, expôs qual a pior lembrança daquela derrota e ainda falou sobre o legado da luta pelo racismo no futebol. Legado, este, até prejudicial para a própria carreira.
Confira a entrevista exclusiva com Aranha:
UOL Esporte: Acha que o episódio do racismo atrapalhou a sua carreira, por você ter ficado marcado por isso?
Aranha: Isso é uma coisa complicada de afirmar. Por causa deste episódio, acabei recusando e abrindo mão de participar de todos os programas esportivos que me convidavam. Abri mão de valorizar o meu trabalho, por fazer o meu trabalho, por conta deste episódio. Então, acho que acabou prejudicando um pouco sim.
Infelizmente, hoje há a moda do grito de ‘bicha’ para ofender os goleiros no tiro de meta. O que você, um cara que luta contra o racismo no esporte, analisa desta questão homofóbica?
A falta de respeito no nosso país extrapolou os limites. Os valores estão cada vez mais invertidos; é complicado, porque o pai leva o filho para o campo para passar os maus exemplos, a grande maioria é assim. Enquanto tapar o sol com a peneira nunca vai mudar. É triste, espero que algum dia possa ver o futebol com respeito e ver o outro clube como adversário e não inimigo.
O futebol também é preconceituoso (internamente falando) com os homossexuais?
Não sei dizer se é preconceituoso, nunca participei de uma situação assim deste tipo, mas o futebol é de origem racista; então chega a ser até normal que seja se certa forma homofóbico. O racismo é uma falta de respeito com o ser humano; se a pessoa não respeita o ser humano, também não vai respeitar a opção sexual do outro.
Vamos falar de futebol agora. Principal objetivo da Ponte nesta semana foi conter a euforia? Você, um dos mais experientes, tratou de conversar com o elenco sobre isso?
A gente conversa no sentido de manter o trabalho. Não adianta querer mudar todo um sistema que vem dando certo. Estamos jogando o mesmo futebol desde o início do Paulistão. Por jogar uma decisão contra times grandes, tem uma visibilidade maior; então passa a impressão de que estamos fazendo isso agora. Estamos fazendo um campeonato bom.
O que aconteceu com o PSG contra o Barcelona é exemplo para vocês jogadores?
No futebol não tem uma lógica exata. Tudo pode acontecer no futebol. Vimos de tudo. De repente, um placar de 1 a 0 não ser revertido, e um de 4 ou 5 a 0 ser revertido. Tem muitos exemplos, não só PSG e Barça. Temos que fazer o nosso trabalho bem feito e que passe o mais competente
Por que a Ponte Preta sempre complica o Palmeiras no Allianz? Você acha que o estilo da Ponte ‘casa’ com o do Palmeiras?
Não sei explicar se é isso. O fato é que coisas no futebol a gente costuma chamar de tabu, e a Ponte tem mantido este tabu e feito bons jogos. Isso não é garantia de nada. Acaba trazendo um pouco mais de confiança para desenvolver o nosso trabalho.
Você é o remanescente (ao lado de Renato Cajá) da decisão do Paulista-2008. Naquela ocasião, o Palmeiras fez 5 a 0 e ficou com o título. Quais lições você tirou daquele jogo para este de agora?
Naquele ano o Palmeiras tinha um supertime, um superinvestimento, um supertreinador e vivia um momento parecido com esse. São momentos parecidos, mas a equipe da Ponte hoje é mais ‘canchada’, com jogadores acostumados a decisões. Isso pode nos ajudar um pouco mais.
Aquela derrota é um exemplo do que não fazer para perder esta vaga?
Não vou usar como lição não. Futebol é coletivo e é de momento. Às vezes não vence a melhor equipe, só a que joga melhor. Não tem como fazer comparação de uma época para outra. Futebol é imprevisível. Se partir deste exemplo, o Brasil sempre vai perder para a Alemanha.
Qual é a lembrança mais difícil daquele jogo?
A lembrança mais difícil para mim é a torcida. Criamos uma expectativa muito grande, nas crianças de Campinas, e não conseguimos o título. Ver a torcida indo embora daquele jeito me marcou bastante.
Há alguma ansiedade extra pela Ponte estar próxima de retornar a uma final e poder conquistar um grande título?
Não há ansiedade. Tenho uma boa experiencia no futebol, na carreira, especialmente em Paulistão. Só tenho que estar focado e concentrado para fazer o meu melhor.
Ficou alguma mágoa de não ter sido mais aproveitado no Palmeiras? Como vai ser voltar ao Allianz?
Não ficou mágoa, pelo contrário, só tenho que agradecer pelos dias que estive lá no Palmeiras, fui muito feliz e respeitado lá. Nada a dizer do Palmeiras e a torcida que sempre foi muito bacana comigo.
Vamos falar do assunto da semana, do zagueiro Rodrigo Caio se acusando e confessando ao juiz uma falta, que tirou o cartão amarelo do corintiano Jô. Se você comete um pênalti e o juiz não dá, você falaria para o juiz que foi pênalti?
Falaria sim. Falaria sim. Mas a gente sabe qual é a reação da torcida e da diretoria. Se a gente quer ser correto, tem que ter apoio. Não dá para ser correto e se prejudicar sozinho. As boas atitudes têm que ser coroadas, e no Brasil acontece muito o contrário. Se a gente quer cobrar posturas decentes na política, na polícia, tem que partir da gente. Então, falaria sim.
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