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Da paz com Neymar ao amor por Cavani. Como é um jogo na organizada do PSG

Ultras do PSG festejam em duelo contra o Angers - João Henrique Marques (UOL Esporte)
Ultras do PSG festejam em duelo contra o Angers Imagem: João Henrique Marques (UOL Esporte)

João Henrique Marques

Do UOL, em Paris

27/08/2018 04h00

Os ultras do Paris Saint-Germain carregam um estigma de violência. Uma marca pelos seis anos que passaram desde 2010 proibidos de acesso ao Parque dos Príncipes por conta da forte presença de hooligans com seguidos transtornos e confrontos com a polícia. Com o acesso novamente liberado, aos poucos, uma nova imagem é construída. Nela, a denominação “ultra” segue intacta por conta somente do fanatismo. O ambiente criado por eles agora é de paz. Com a energia sendo gasta apenas em apoio ao PSG, e com os jogos sendo mero detalhe.

O UOL Esporte acompanhou a vitória do PSG por 3 a 1 diante do Angers, no sábado, no Parque dos Príncipes, no espaço da arquibancada inferior reservado aos ultras – uma área de quase 5 mil lugares atrás do gol. No confronto, os torcedores reforçaram o amor ao estreante na temporada e ídolo máximo, Edinson Cavani. E provaram a paz vivida atualmente com o brasileiro Neymar.

“Nós gostamos do Neymar, mas ele já demonstrou um lado de criança mimada, fácil de se irritar, e isso incomoda um pouco o torcedor. Não nos embasamos por comparações técnicas aqui, pois assim ele seria o maior. A questão é o amor ao PSG, algo que o Cavani, como um guerreiro em campo e a relação com a gente, está à frente de qualquer outro. Ele é o maior ídolo dos ultras atualmente”, destacou Romain Mabille, o presidente do Ultras do PSG.

De fato, o amor por Cavani é fácil de ser notado no ambiente. Seu nome é o mais gritado quando o alto-falante e os telões do estádio anunciam a escalação. Assim como a música específica criada em sua homenagem (ver vídeo acima).

Presidente dos ultras, Romain (à esq) - João Henrique Marques - João Henrique Marques
Imagem: João Henrique Marques
Somente o uruguaio e Neymar carregam musicas próprias. A do brasileiro, uma paródia de “Aquarela do Brasil” utilizada pelos fanáticos do PSG para homenagear Raí, que atuou no clube entre 93 e 98.

“O capitão Raí é o maior ídolo da história dos ultras. Todo o jogo que terminava ele nos atendia na arquibancada, jogava a camisa e conversava. Tinha vezes que passava até no bar depois e falava com a gente. O Neymar tem quatro, cinco seguranças, podia fazer isso também”, opinou Romain.

O presidente dos ultras é um desses vários membros da organizada que nem assiste ao jogo. Sua função é a de ficar em um palanque, de costas para o gol, e comandar os torcedores com o microfone em mãos. Ao lado, um amigo o auxilia com alto-falante, enquanto outro toca um tambor para marcar o ritmo dos gritos.

“São músicas inspiradas de torcida argentina e italiana. Outras da Édith Piaf, que marcaram uma geração. O ritmo do carnaval brasileiro também nos ajuda bastante”, destacou Dary, o responsável por tocar o tambor em jogos do PSG há quase dois anos.

Nos ultras do PSG, quase todas as músicas são impulsionadas com o verbo “aller” (vamos em francês). A animação gera uma energia empolgante em um ambiente em que crianças circulam tranquilamente.

Ultras do PSG caminham com tranquilidade no estádio - João Henrique Marques (Do UOL Esporte) - João Henrique Marques (Do UOL Esporte)
Imagem: João Henrique Marques (Do UOL Esporte)
“Somos amigos, nos conhecemos de tanto frequentar o estádio. Aqui você tem que estar preparado para se divertir e cantar. Se quiser assistir o jogo é melhor subir”, avisou minutos antes do jogo o animado Souareba.

Os ultras do PSG recebem do clube um lote de ingressos a cada partida. A venda é feita entre os cerca de 30 mil associados e não há nenhum desconto. O preço tem grande variação de acordo com o jogo, mas uma média de 60 euros (R$ 280).

No ambiente festivo, o relacionamento entre torcedores, seguranças e policiais dá o tom da paz. A conversa entre eles faz parecer que todos estão no estádio para torcer. Diante do Angers, não houve nenhuma ocorrência policial no Parque dos Príncipes.

Os ultras do PSG ainda utilizam os encontros em jogos para ação social. São torcedores que percorrem os arredores do estádio com cofrinho em busca de dinheiro. O valor recolhido, em média 600 euros, serve para comprar camisetas e instrumentos, e tem a maior parte doada para instituições de caridade.

A torcida organizada do PSG ainda tem a permissão para ir ao estádio com bandeiras gigantes e qualquer instrumento. E nada é utilizado como arma. Ao final do jogo, todos se preocupam em recolher o material e sair do estádio cantando em prol do clube. Em paz.