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Quais os segredos do Atlético-PR de Tiago Nunes para distanciar da degola

Pablo marcou golaço contra o Grêmio: confiança resgatada - Miguel Locatelli/Atlético-PR
Pablo marcou golaço contra o Grêmio: confiança resgatada Imagem: Miguel Locatelli/Atlético-PR

Napoleão de Almeida

Colaboração para o UOL

28/08/2018 04h00

Fora da zona de rebaixamento após 10 rodadas – descontados dois adiamentos de jogos – o Atlético Paranaense dobrou o aproveitamento de pontos após a Copa do Mundo. Dos 25% de Fernando Diniz para os 57,1% de Tiago Nunes (apenas no Brasileirão), muitas coisas mudaram internamente.

"Maldita". Era assim que a atual comissão técnica se referia à zona de rebaixamento quando assumiu o comando. Nunes estava com a equipe de Aspirantes, mas trocava figurinhas com Diniz sobre as equipes. Quando surgiu a chance de dirigir o time principal, ele levou consigo um novo modelo de gestão: apesar de ter a palavra final, o técnico se notabilizou no CT do Caju por dividir processos na montagem do time. Em especial os auxiliares Evandro Fornari, que era técnico do Sub-15, e Paulo Miranda, ex-jogador do próprio Furacão e ídolo dos anos 90.

Comportamentos simples e chance aos renegados

Jonathan - Instagram/Arquivo pessoal - Instagram/Arquivo pessoal
Jonathan comemorou fim das improvisações
Imagem: Instagram/Arquivo pessoal

A primeira iniciativa foi pedir “comportamentos simples” aos atletas. Diferente do modelo complexo de Fernando Diniz, que exigia rotação constante e várias tarefas aos jogadores, Nunes pensou primeiro em estancar a sangria de gols sofridos. Mudou o sistema de três zagueiros para uma linha de 4 na defesa. O time, que havia tomado 15 gols em 12 jogos, levou 5 em 7 partidas no Campeonato Brasileiro.

Uma série de cinco jogos sem derrotas já foi o suficiente para tirar o time da área de queda, mesmo com dois jogos a menos que a maioria dos competidores. “Acho que tem uma representatividade grande, em função do que a gente vinha passando nos últimos meses. É uma equipe que tem bons jogadores, um bom ambiente de trabalho. E nós sabíamos que com muito empenho, muita repetição, e principalmente com uma doação dos atletas, as coisas poderiam acontecer”, disse Nunes em entrevista coletiva após a vitória sobre o Grêmio.

Nunes também mexeu em outros processos. Internamente, a blindagem oferecida pela diretoria à Diniz e aos jogadores deixou o time numa letargia, e a cada derrota a insegurança aumentava. O técnico cobrou as principais lideranças e pediu para que os jogadores conversassem mais entre si. Também abriu chances de que jogadores que não vinham jogando com Diniz pudessem se sentir importantes. Raphael Veiga é o exemplo mais emblemático. O jogador chegou a ser afastado internamento por Diniz e atualmente é titular indiscutível com Nunes.

O lateral-direito Jonathan falou publicamente sobre a mudança, em entrevista coletiva com Tiago Nunes. “É simples. Se você for olhar, os atletas são os mesmos. Chegaram o Nazário, o Marcelo (Cirino), o Wellington e o Plata. O segredo está aqui do lado. Ele fez entender aos jogadores que, por exemplo, se eu sou lateral, o lateral vai brigar (por posição) comigo. O ambiente bom, os atletas com a cabeça boa e sabendo o que o treinador quer, e sabendo que tendo a oportunidade e não vai ser outro de outra posição que vai jogar ali, o jogador fica motivado”.

Campeão paranaense de profissionais atuando com a equipe de Aspirantes, uma prática já corriqueira do Atlético, Nunes também passou a utilizar mais jogadores que o ajudaram no começo do ano. Jovens que jogaram o Paranaense, como Renan Lodi, Bruno Guimarães, Marcinho e Léo Pereira, passaram a ter espaço no elenco principal. O espaço dado aparece nos números: nos 10 jogos em que comandou o time, 25 jogadores diferentes estiveram em campo.

Nem tudo é crítica sobre Fernando Diniz

Diniz - Thiago Ribeiro/AGIF - Thiago Ribeiro/AGIF
Diniz recebe elogios discretos no CT do Caju: pensamento de jogo coletivo e coragem de arriscar
Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

Mas apesar de toda a referência do crescimento do Atlético com Tiago Nunes levar às lembranças do que acontecia com Fernando Diniz, internamente, o trabalho do ex-técnico não foi totalmente desprezado. Os remanescentes elogiam duas características que Diniz cobrava dos jogadores: a coletividade e coragem para arriscar. Com nova formação tática e novo espírito de elenco, o Furacão chegou ao equilíbrio que o fez sair da parte de baixo da tabela.

“A gente tem tratado jogo a jogo, com a mesma importância, e esse fato eu acho que tem sido um diferencial para nesse momento sair da zona de rebaixamento e quem sabe não voltar mais. Todos os cuidados são poucos. A gente sai da zona, mas continua com uma pontuação muito próxima a ela”, contou Nunes, que agora espera subir na classificação: “Esses dois jogos em casa são determinantes para o restante da temporada”, projetou, sobre os duelos com Vasco e Bahia.

Apenas um senão ainda permanece quanto à Tiago Nunes no comando da equipe: ele é tratado pelo clube como interino, sem ser oficializado no cargo. “Não me importo com isso”, declarou, “Eu me sinto treinador do Atlético, em nenhum momento coloquei em dúvida. Então a nomenclatura, interino ou titular, pra mim não faz diferença."